Capítulo 16- O Valle Restaurante

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Carlos Eduardo não diz uma única palavra enquanto observa a paisagem pela janela do carro. Suas pernas começam a se agitar em um ritmo frenético. Alicia coloca a mão esquerda de forma suave e acolhedora em sua coxa. Isso o desperta para a realidade. Ela retira de forma rápida quando o olhar dele a encontra. Em seguida começa a mexer no rádio em estações aleatórias em busca de uma música. Até que Sozinho do Caetano Veloso ecoa no carro e ela aparenta satisfação.

- As vezes no silêncio da noite... -cantarola sem perceber. - Fico imaginando nós dois... - o tom suave dela invade o carro.

Carlos Eduardo consulta o seu relógio de pulso e marca 12: 45. Só resta 15 minutos para chegar no destino previsto. Pelo seu conhecimento parece ser o tempo ideal de carro. O som do seu estômago declara sua luta contra o tempo. Alicia está tão vidrada na música que não nota o barulho. Isso o deixa aliviado.

- Você precisa relaxar um pouco.

- Estou relaxado. - menti.

- Suas mãos estão em formato de punho.

- Não tinha notado isso. - sorri com vergonha e relaxa as mãos - Sendo sincero estou apreensivo. Essa entrevista é a minha maior chance.

- Não tenho dúvida que vai se sair bem.

- Preciso ser mais que perfeito. Preciso ser contratado, Alicia.

- Eu acredito em você.

- Obrigado, isso é muito gentil.

- Disponha. Tenho certeza que diria o mesmo.

- Com certeza, não tenha dúvida. - sorri e ver um sorriso no rosto dela. - Não sabia que nasceu em Garulhos. Na verdade não sei muito sobre você.

- Está tudo bem, Carlos. Acho que é recíproco, não? Sei que é um ótimo pai e um homem bom. Parece ser suficiente para mim. E podemos se conhecer melhor na nossa jornada como " casal ".

- Parece muito justo. Aprovo sua incrível ideia. Além disso prometo ser um noivo decente e agradável para seu gosto.

- Eu acredito. Até porque se não for vou pedir o divórcio antes do casamento.

Ambos caem em uma gargalha profunda e sincera. Quando ele olha mais uma vez no relógio de pulso os quinze minutos restantes tinham passado em um piscar de olhos. De certa forma se sentia mais tranquilo depois da conversa.

- Chegamos no centro da minha amada Garulhos. Qual o nome do restaurante mesmo?

- Valle. Parece que fica próximo ao centro.

- Conheço perfeitamente. Pode ficar tranquilo.

Ela conduz o carro em segundos até o esperado destino. O letreiro Valle Restaurante se destaca na rua movimentada.

- Não sei nem como te agradecer por sua gentileza.

- Só conquiste a vaga.

Ele sorri em agradecimento e verifica todos os documentos na pasta. Verifica uma última vez sua aparência. Em seguida se despede da Alicia e sai do carro em direção a entrada do grande restaurante.

- Boa sorte meu... Carlos. - Alicia diz ao abrir a janela e acenar com um sorriso no rosto.

As portas de vidro automáticas se abrem com sua proximidade. O ar condicionado invade o seu corpo na sua entrada. Nota que o Valle Restaurante é um belo ambiente. Mesas redondas cobertas com uma branca tolha grossa se estendem ao longo de sua visão. Acompanhadas de taças, talheres, pratos e sousplat posicionados de forma elegante. Uma jarra com um majestoso arranjo de tulipas se destaca no centro da mesa. Além de um conjunto de cinco cadeiras estofadas em um tom escuro. Observa também a decoração clássica por todo o restaurante com cores neutras claras.

- Posso ajudar, senhor? - diz um jovem negro com o cabelo raspado e uniformizado. Ele sorri simpático.

- Sim, claro. Eu vim para uma entrevista. - sorri.

- Claro. Me siga até o elevador e te levarei até o andar do escritório do chefe.

Carlos Eduardo segue o desconhecido  até o elevador no corredor esquerdo. Ao entrar o jovem seleciona o quinto andar. Ele não esperava um elevador com tantos andares. Enquanto espera a chegada uma ansiedade cresce dentro dele. Ao olhar para suas mãos o suor denuncia o seu sentimento. Ele seca em suas calças de forma ágil.

- Pronto, chegamos. Me acompanhe até a sala no final do corredor.

Carlos caminha pelo longo corredor com salas fechadas. Ele conta os números delas para se distrair. A número 1 lado esquerdo, 2 lado direito, 3 lado esquerdo, 4 lado direito, 5 lado esquerdo e 6 lado direito. No final corredor fica a sala 7. Essa é a sua. O funcionário pede licença e entra na sala que logo se fecha de novo.

Ele sente que parece uma eternidade. Até o funcionário retornar e o encaminhar para entrar na sala. Além de desejar um boa sorte sorridente. O Carlos abre a porta e logo a fecha por trás de si.

Se depara com um homem negro e muito bem arrumado. Veste um terno que parece caro em um tom azul escuro com uma gravata azul clara. Uma barba bem feita modela seu rosto e combina com o cabelo raspado. Aparenta ter em média quarenta e cinco anos no máximo.

Ele está sentado por trás de uma mesa de escritório com um notebook cinza da Apple. Também com papéis bem organizados e um porta canetas. Ao notar sua presença desvia o olhar para ele e solicita sua acomodação na cadeira em sua frente.

- Olá, boa tarde. Meu nome é Leonardo Valle. Já deve imaginar que sou o dono do restaurante. Mas não precisa se desesperar. - abre um sorriso simpático igual do jovem funcionário. Isso acusa o grau familiar dos dois.

- Olá, boa tarde senhor. Meu nome é Carlos Eduardo Martínez Rodrigues. É um prazer participar dessa entrevista.

- No seu currículo diz que tem 25 anos. Por acaso a mesma idade do meu filho. - sorri. - Diz também que trabalhou no restaurante Aquarius em Ribeirão Preto. É um conceituado restaurante, ótima experiência. Diz também que foi promovido a gerente em menos de um ano. Isso é impressionante. Estou correto?

- Sim, está correto.

- Mas atualmente reside em uma cidade próxima daqui de Garulhos chamada Belas Flores. Não conheço, mas parece ser uma cidade pequena. Certo?

- Certo, senhor. Me mudei recentemente.

- Preciso ser franco em dizer que é o meu último candidato de hoje. Então, gostaria muito de saber o porquê deveria te contratar ao invés dos outros.

- Considero que deve me contratar porque sou um profissional dedicado, disciplinado e proativo. Além de ter muita facilidade em lidar com pessoas, resolver conflitos e me comunicar de forma clara e respeitosa.

- Certo. Espero comprovar isso na próxima segunda. Está contratado. Meus mais sinceros parabéns.

- Muito obrigado, senhor. Não vai se arrepender da sua decisão.

- Espero a mesma coisa, Carlos Eduardo. Não me decepcione, garoto. Já está liberado. Tenha um ótimo dia.

- Grato de verdade pela oportunidade. Também tenha um ótimo dia, senhor. Obrigado.

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