8°CAPÍTULO

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Algumas decisões são moldadas mediante nosso caráter...

ANY GABRIELLY

Fiquei olhando fixamente para o cartão preto em minhas mãos. Ainda não acreditava que Joshua me deu um cartão com quinhentos mil dólares de limite, na verdade, nem sabia o que ia comprar.

Analisei as roupas em meu guarda-roupas, e se paguei mais de 100 dólares em alguma, provavelmente estava maluca no dia. Não ter dinheiro fazia com que algumas pessoas ficassem pão-duras.

Eu era um exemplo vivo disso. 

Ainda com receio, arrumei-me rapidamente e saí de casa. Quando me preparei para atravessar a rua ouvi alguém me chamando:

— Espera, Any. Joalin vinha toda esbaforida até mim, e do nada me deu um abraço.

Ela era a minha melhor amiga, e gostava bastante da sua espontaneidade. Leia-se: maluquice.

Ela foi uma das poucas pessoas que me acolheram quando vim para Las Vegas. Minha amiga era de origem sueca, mas veio para a cidade com sua família quando tinha 12 anos. Ela até tentou conhecer novos lugares, e morou na Nova Zelândia por um ano, mas logo voltou dizendo que a vida na ilha a deixou muito maluca.

Joalin tinha um pequeno probleminha com os homens. Ela não confiava nem um pouco neles.

Não a julgava. A questão chave era que por causa de um babaca ela não se permitiu envolver com mais nenhum, e desde então estava solteira.

Tínhamos a mesma idade, 25 anos, e não éramos iguais somente na idade, nossos pensamentos eram bem semelhantes e podia dizer que ela era a única pessoa que confiava de olhos fechados nessa cidade cheia de mentirosos.

— Estou te abraçando, mas devia te bater por sumir — ela disse, colocando a mão na cintura, séria.

— Me desculpe, amiga, é que várias coisas aconteceram nesses últimos dias — respondi, e automaticamente o rosto de Beauchamp surgiu na minha cabeça. — Eu preciso ir agora, mas quero conversar com você depois.

Joalin me olhou desconfiada, em seguida balançou a cabeça negativamente.

— O que aprontou, Any?

— Não sei bem explicar. — Sorri, um pouco sem graça.

— Que tal conversarmos amanhã pela noite? — Na minha casa, pode ser?

— Sim.

— Até lá, tente não se meter em mais problemas.

— Acredite, amiga, meus problemas acabaram de começar...

******

Demorei quase uma hora para chegar no Fashion Show Mall, um dos shoppings mais chiques de Las Vegas, local que nunca pensei que colocaria meus pés.

Ao cruzar o portão principal vi o motivo disso. Reparei na roupa das pessoas que andavam aqui e de certa forma me incomodei.

Estava usando shorts e uma blusa meio apertada, e "onze a cada dez pessoas" me olharam de cima a baixo quando passei por elas. Sim, custou 50 dólares, e comprei na promoção!

Era o que dava vontade de falar, mas caminhei a passos largos, tentando de certa forma me esconder dos "avaliadores" do salão. Entrei no Starbucks e peguei um café, o mais barato.

Quando passei o cartão rezei mentalmente para que ele tivesse saldo, e que Joshua tivesse me dito a senha correta.

Para o meu alívio tudo deu certo, e ao sentar me acalmei um pouco mais, analisando a correria das pessoas à minha frente.

Tudo aqui dentro era de outro mundo.

Reparei que a maioria das pessoas que frequentavam esse ambiente passavam horas na academia tentando manter a forma, e também que andavam com o nariz empinado, como se fossem os donos do mundo.

Olhei para a direita e vi uma mulher jovem com os cabelos negros e brilhantes. Ela estava sentada, e usava uma roupa rosa marcante com um salto diferente. Tinha as unhas pintadas de vermelho escuro, algo que achei lindo.

— Perdeu alguma coisa aqui, sua ridícula?!

E foi só ela abrir a boca que a minha admiração por ela acabou. Não respondi, só me levantei e passei os olhos nas mais variadas lojas do shopping. Sentia-me uma mutante entre os humanos normais, e quando cheguei perto de uma loja e olhei a etiqueta de uma "blusinha" quase caí para trás. 8 mil dólares!

Essa blusa por acaso modela os peitos?! Me faz ficar mais magra?! Vai me dar autoestima para trabalhar diariamente?!

Bom, a última pergunta poderia ter uma resposta positiva se eu pudesse ir com as minhas próprias roupas, mas nem isso podia.

Pense como uma pobre, Any, porque você... é pobre! Dei mais uma andada pelo local, e dificilmente vi algo por menos de 5 mil dólares. Ri de nervoso. Por mais que o dinheiro não fosse meu, estava com dó de gastar, e era muito mão de vaca.

Não tinha culpa, uma vez que precisava economizar para viver. Finalmente entrei em uma loja.

Não que ela estivesse em meus padrões, mas ia cumprir o que Joshua pediu. Fiquei no local por alguns minutos, e gostei do atendimento da Sabrina, a atendente. Ela não ficou reparando no que estava vestindo, o que me tranquilizou.

Experimentei uma infinidade de roupas e me senti uma pop-star com tanta atenção. Por fim, era hora de escolher algumas peças, e o que mais gostei foi de um vestido vermelho, extremamente provocante. Não fiquei pensando muito e o escolhi. Até mesmo me esqueci do medo se o cartão não passasse, e respirei aliviada quando saí da loja.

Querendo ou não estava particularmente nervosa e ansiosa para o jantar. Precisava estar bem arrumada, mais bonita do que nunca. Mas, para isso não podia deixar de ser eu mesma, e pagar mais de 10.000 dólares em um vestido estava fora de cogitação.

Em todo o caminho até o meu apartamento pensei em Josh. Tinha que admitir que o responsável por essa ansiedade era o meu futuro marido.

Futuro marido... Na minha cabeça parecia que estava indo a um encontro sério, mas definitivamente era algo mais importante para ele, e não podia botar tudo a perder. 

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Onde histórias criam vida. Descubra agora