22°CAPÍTULO

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A calmaria antecede a tempestade... 

JOSHUA BEAUCHAMP

Após digitar a mensagem para Gabrielly fitei o teto, pensativo. Geralmente não me importava com a opinião das pessoas, ou se ficariam mal por algo que fiz, mas não consegui parar de pensar na nossa última conversa. Discussão, na verdade. Ouvi-la falar que nunca foi defendida por homem algum mexeu um pouco com o meu psicológico, e me coloquei no lugar dela, principalmente porque na minha adolescência era exatamente isso que acontecia. Não havia ninguém por mim, nem mesmo meus pais, sangue do meu sangue.

Terminei meus últimos afazeres, e já estava me preparando para mandar uma mensagem para Logan, mas fui surpreendido por meu pai e minha mãe, e pelo rosto deles, algo bem sério havia acontecido.

— Mãe, pai, o que...

— Que história é essa de continuar com a ideia de casar com alguém que não tem qualidades, Joshua?! — meu pai perguntou, ao me interromper. 1

— Ela não tem classe, filho. É uma mulher pobre que veio de uma cidade pequena, que não tem nada a te oferecer — foi a vez da minha mãe falar, e me levantei, contando até cinco para não falar merda.

— Primeiro: minha vida pessoal é um problema meu. Segundo: como sabem sobre a Any?

— Eu pesquisei. Quando você disse que ela não tinha qualidades eu pensei que pelo menos ela era da classe média, mas...

— Pare aí! — o interrompi, batendo uma das mãos com força na mesa. — Eu nunca disse isso, foi você quem rotulou Any Gabrielly sem ao menos conhecê-la. E, vou te falar mais, se abrirem a boca pra falar mal dela novamente, nunca mais vão me ver.

— Filho, nós só estamos preocupados...

— Com vocês mesmos! — cortei a minha mãe. — A partir de hoje, se quiserem me visitar no cassino me comuniquem antes. Fui claro?!

— Esse cassino era meu, e eu sou seu pai!

— Agora o dono disso aqui sou eu! — Bati no peito. — Então vou falar uma vez só, melhor irem embora!

— É questão de tempo até vir atrás de mim com o rabo entre as pernas pedir dinheiro. Você não leva jeito pra nada nessa vida, é a vergonha da família... — meu pai disse, e lentamente se retirou da sala, junto com a minha mãe.

Aquele era um dos motivos de eu não querer constituir família. Meu maior medo era me tornar um pai tão ruim quanto eles...

***

— O que aconteceu? Você está mais calado que o normal? Bailey e eu estávamos em um dos restaurantes do cassino, fazendo algo que me acostumei bastante nos últimos anos: enchendo a cara.

— Desde quando você se importa?

— Tem razão. Eu não me importo, mas posso ajudar falando umas palavras bonitas. Ah, e tenho uma boa qualidade: minto bem quando é necessário.  Sorri, meneando a cabeça em acordo.

— Você é um babaca, Bailey.

— Somos. — Levantou sua taça e brindamos.

— Eu não tinha problemas até de manhã, mas fiz algo nas costas de Gabrielly, e ela não aceitou bem. E, para piorar, meus pais a humilharam por ser pobre enquanto falavam comigo no cassino. É difícil ter o controle de tudo.

— Você parece se importar com a sua futura esposa — explicou, agora não me olhando, fitando a parede decorada em madeira escura à nossa frente. — Me importo de como ela está sendo taxada, mas eu a entendo mais do que ela pensa, não vou mentir. Algumas coisas que ela passa na vida eu já passei.

— Quer a minha versão sincera ou mentirosa?

— E vai fazer alguma diferença? Se eu te conheço, vai jogar na minha cara as duas.

— Merda! Estou me tornando previsível demais. — Bailey bufou, em seguida virou-se para mim enquanto terminava o meu conhaque.

— Quanto mais usar Any Gabrielly, mais ela irá se acostumar. No fim, você vai ter exatamente o que deseja, uma mulher que não sente nada, que não confia em você e que se casou por conveniência. Ela não irá te olhar como homem, e sim como uma apólice de seguros. Ela vai dar graças a Deus todos os dias por acordar de manhã, e sabe por quê? Porque vai ser um dia a menos para acabar com toda essa farsa de casamento o quanto antes, já que combinaram de se separar após algum tempo. Preciso continuar ou entendeu?

— Essa é a sua parte sincera ou mentirosa?

— Você vai saber quando ouvir essa... — parou, sério, sem desviar os olhos — Você ainda pode desistir. Será uma consequência natural expor Any Gabrielly ainda mais se ir adiante nesse plano. Você pensa que sim na sua cabeça, mas não tem como ambos ganharem. Um quer poder, e pelo que me fala ela quer ser amada. Se continuar com esse plano ela vai sofrer com isso, porque você simplesmente é como eu, não se importa com as pessoas à sua volta, mas sabe uma coisa que aprendi que nunca esperava? As pessoas à nossa volta se importam com a gente, por mais que a gente seja vazio. Any não vive no nosso mundo, Josh, e o tempo que ficarem juntos não vai mudar isso. — Ele colocou uma das mãos no meu ombro, sério como jamais vi. — Quantas vezes passamos por cima das pessoas para que um desejo nosso fosse concedido? Eu mesmo nem sei quantas vezes precisei mentir ou esconder alguma informação. Ainda assim, ela fez um pacto e está disposta a assumir todos os seus ideais. Você não tem ideia do que isso significa para ela, e infelizmente nunca vai saber. Então, faça o mesmo e se comprometa com ela. Um plano sempre é melhor elaborado quando duas cabeças pensam juntas.

— Fiquei confuso. Antes sabia qual era a parte sincera, agora tenho algumas dúvidas.

Ele se levantou, virando o pequeno copo de whisky à sua frente, agora sorridente.

— Deve ser porque as duas partes foram sinceras...

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Onde histórias criam vida. Descubra agora