𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡

34°CAPÍTULO

"Podemos estar vivendo a melhor fase da nossa vida, mas tudo pode mudar de uma hora pra outra ..."

ANY GABRIELLY

— Estava esperando você acordar.

Ainda bem sonolenta, e já na cozinha, mirei os olhos do Josh, que estava de gravata... e uma boxer branca. Até firmei o semblante, tentando entender se meus olhos estavam me traindo, se ainda estava sonhando.

— Eu sei. A gravata é sempre a parte mais difícil. Faltam algumas peças, mas não queria que se atrasasse — revelou, sorrindo, enquanto mexia em algumas panelas na cozinha.

— Gostei da sua "espontaneidade".

— A nudez mudou de nome? — perguntou, e abri um sorriso também. — Vamos ao que interessa. Hoje farei o seu café da manhã, e você quem irá escolher. Acordei mais cedo justamente pra isso.

 Todos os dias tinha uma surpresa diferente relacionada ao meu futuro esposo. Cada dia era uma coisa nova, alguma nova etapa.

— Gosto de torradas bem torradinhas mesmo servidas com ovos mexidos e bacon. Ah, e adoro café.

— Meu Deus, você é mesmo uma caipira!

— Sou. — Sentei-me à mesa, e meu futuro esposo observou meus olhos por um bom tempo. Eu adorava quando ele fazia isso, apesar de ficar envergonhada.

— A sua sorte é que seu futuro esposo sabe cozinhar de tudo. Me dê mais algum tempo e vou te servir. Os minutos que se seguiram foram em completo silêncio. Descobri que adorava vê-lo preparar a comida, ainda mais sabendo que ele estava determinado a fazer algo para mim, e não sei para as outras mulheres, mas isso era demais. Sentia-me cada vez mais desejada.

— Você sabia que menos de 0,001% da população já ganhou 1 bilhão de dólares ao menos uma vez na vida, e que eu sou uma dessas pessoas?

— E você sabia que é a pessoa mais narcisista que conheci? — retruquei.

— Acho que vou literalmente queimar suas torradas.

— Você não faria isso comigo. Seria um afronte muito grande.

— Tem razão. Não sou esse monstro.

Enquanto terminava de preparar o café da manhã ele conversou comigo algumas coisas sobre determinados projetos, principalmente da viagem que fez para Miami. Explicou também alguns pormenores de como foi chantageado por um dos homens que o ajudavam no marketing do cassino chamado Phillippe, também um pouco sobre a família, riquezas e ambições dele, e que isso de certa forma o preocupava. Ele estava compartilhando muita coisa comigo, deixando uma parte do meu coração aliviado.

— Agora você está se parecendo o Josh que conheci quando fui demitida. Não sei se isso é bom ou ruim.

Ele não me respondeu de imediato, estava compenetrado na cozinha agora, enquanto colocava a comida na mesa.

-- Não é bom ou ruim, é aceitável. Sempre fui assim. Tenho meus momentos bons.

— Nem sempre — pontuei, e ele entendeu que eu falava da época da faculdade.

— É. Tem razão.

O banquete estava servido, e quando coloquei as torradas na boca... Pensei que seria impossível ser conquistada pela barriga, mas Josh fez isso fácil demais. Acho que eu era fácil demais.

— Aprovado?

— Que tal casarmos amanhã mesmo? Eu cuido de tudo.

— Vou te enrolar mais um pouco. Manual dos homens.

Sorri, e ele sorriu.

Comi um pedação da torrada olhando para ele. Ele comeu um pedaço da torrada olhando para mim. Passei a mão nos cabelos, ele passou a mão nos cabelos.

— Você está me imitando?

— Não, estou sensualizando, que nem você.

Fechei meus olhos, caindo na risada.

— Josh.. você está somente com uma boxer e uma gravata no seu corpo. Não precisa disso, já está sensual demais.

— É... você tem um ponto.

— Como você dormiu ontem?

— Eu deleto as coisas na minha mente quando coloco a cabeça no travesseiro, então posso dizer que dormi do mesmo jeito de sempre.

A forma que ele se expressou mostrava que seus assuntos do passado ainda estavam presentes até demais na sua cabeça.

— E qual o problema do dia?

— A maconha esgotou. Esse é um problemão.

— Tem momentos que não sei se está brincando ou não.

— Não estou. Todos nós temos vícios, não sou diferente. Muita gente pensa que maconha é ilegal, mas não aqui em Nevada. Essa é uma das minhas formas de relaxar.Fitei o teto, pensativa. Não era uma santa e já fumei, já fiz de tudo um pouco quando vim pra Las Vegas.

— Acho que vou começar a jogar naquelas máquinas caça-níqueis que tem na entrada do cassino.

— Se for para relaxar e por pouco tempo acho uma boa ideia, agora se o foco é ganhar dinheiro melhor não perder o seu tempo. 

— Foi duro.

— Mas eu já vi pessoas ganhando mais de 1 milhão de dólares jogando aquilo. E uma vez só! A mulher tinha gastado 50 dólares

Joah sorriu, em seguida respirou fundo, relembrando algo, voltando-se a mim.

— Vou te explicar algo sobre máquinas caça-níqueis, e vale pra qualquer lugar que for. Há um dispositivo nelas, onde é preciso chegar em um número bem específico para ganhar o prêmio. De forma resumida, se essa mulher ganhou um milhão de dólares, a máquina deu um prejuízo de dois milhões de dólares para as pessoas que se sentaram antes dela. Nenhum cassino toma prejuízo, Any. É impossível, a não ser que sejam mal geridos, como fiz nesses últimos anos.

— Então essas pessoas que se consideram sortudas...

— De certa forma, são, não vou negar. — Cruzou os braços, pensativo. — A questão é que inúmeras pessoas tiveram que perder seu dinheiro para o dispositivo ser acionado, até porque uma hora alguém precisa ganhar uma bolada, do contrário ninguém jogaria, concorda? Não é uma regra universal, mas na média, as máquinas geram o dobro de lucro para o cassino, no caso dessa mulher que ganhou um milhão de dólares, provavelmente as pessoas anteriores perderam somadas dois milhões.

 A inteligência de Joshua precisava ser destacada. Não só os atributos físicos, mas o pacote completo. Ele era um homem real, e sua história de vida incluiu momentos bem mais adversos que os meus. Eu por exemplo nunca sofri bullying, muito menos cogitei me matar. Realmente, nem todas as primeiras impressões ficam. Continuamos comendo, e depois nos trocamos. Tudo parecia planejado, e chegamos à porta juntos.

— Então... é isso. Bom trabalho — falei e dei um passo à frente, mas ele segurou meu braço direito.

— Se acha que vai me desejar um bom trabalho e sair assim, está muito enganada ou ainda não me conhece o suficiente.

Quando seu corpo se inclinou sobre o meu, sua boca encontrou a minha, e tudo foi reduzido a nada. Senti-me viva. Senti-me segura. Senti-me parte de algo maior. O beijo não demorou, mas foi tempo o suficiente para minha cabeça pensar em vários cenários, todos felizes.

— Então... — sibilei, não o encarando diretamente. — Que tal eu fazer a janta hoje?

— Ótima sugestão — falou, abrindo espaço para que eu passasse pela porta.

Meu coração estava acelerado, e provavelmente não conseguiria trabalhar sem pensar nele a cada minuto do meu dia...