9°CAPÍTULO

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 "Tentar e fracassar é a maior forma de aprendizado..."

JOSH BEAUCHAMP

Mudanças de hábitos eram extremamente complicadas. Principalmente quando eles eram ligados ao prazer, à luxúria, à sensação de alívio.

A transformação do comportamento de um homem em um período de tempo tão curto exigia muita disciplina.

Infelizmente. Como parte desse processo tinha que me vestir como mandava o figurino, abdicar da falta de camisa enquanto perambulava dentro do cassino, e até mesmo estava cumprimentando os funcionários do meu estabelecimento.

É necessário passar credibilidade. Não gostava de ser prestativo, ficar de conversa fiada, nem mesmo me interessava pela vida alheia. A minha já era fodida demais.  Sim, sou um cafajeste de primeira linha.

Hoje resolvi inúmeros problemas, assuntos os quais tinha preguiça só de relembrar. Era por isso que adiava as coisas, como dizia aquele bom ditado: "Nunca deixe pra hoje o que pode ser feito amanhã".

O problema maior era que se queria passar confiança era necessário inverter esse ditado. Agora era um homem novo, Joshua Beauchamp renasceu. Em partes.

—Precisa de algo? — Clark perguntou.

— Que não me atrapalhe. Tenho um encontro agora e não quero ser interrompido, a menos que o meu cassino esteja pegando fogo. — Parei, estreitando os olhos. — Eu quis dizer o bordel do cassino.

— Um encontro de verdade?

Sim e não.

— Sim, mudei meus pensamentos a respeito das mulheres, não vou mais usá-las.

Senti que Clark segurou a risada. Ele me conhecia bem e sabia que um homem como eu não mudaria do nada, contudo, precisava me esforçar para que as pessoas ao meu redor pensassem que era um homem renovado.

— Boa sorte.

— Eu não preciso de sorte. — Bufei, ao passar por ele. — Quando faço algo novo, vou para ganhar.

Quando me sentia confiante e firme, nada podia me deter.

***

Estacionei em uma rua escura e conferi se o endereço de Gabrielly estava correto. Observei a vizinhança, a varanda de madeira de algumas casas e percebi que era um bairro predominantemente de classe média baixa.

Porém, ao olhar com mais detalhes as casas e apartamentos, vi que tudo estava bem conservado, em boas condições de moradia. Nunca fui àqueles arredores, e isso ficava mais estranho por ser teoricamente perto do cassino. Peguei o meu celular e mandei uma mensagem para Gabrielly, e não foi preciso esperar mais que dois minutos. Era um homem preparado para inúmeras ocasiões, mas nada me preparou quando a observei vindo até o meu carro.

Saí do mesmo, e meus olhos com muita empolgação se fixaram em seu rosto.

— O que foi? —  perguntou, claramente embaraçada enquanto analisava suas próprias roupas.

Antes foquei em seu rosto, agora observava o seu vestido, que acentuava os seus seios, marcava os braços, e quase se esvaía na sua cintura.

Agora, estava de olho no tecido, e não sei explicar a sensação de querer tocá-la, pegar a mão dela e colá-la em meu corpo. Apesar de ela estar deslumbrante, havia algo que não gostei nem um pouco. Fui bem categórico ao entregar meu cartão de crédito a ela.
— Você está linda.

— Mas...?

— Por que acha que tem um "mas"? — questionei com cuidado.

— Porque sou mulher e nascemos com isso. Agora me diz: o que não te agradou? Respirei fundo.

— Quanto custou esse vestido? — perguntei, tentando conter a minha leve irritação. Ela economizou mesmo tendo um limite tão alto.

— 600 dólares — respondeu, levemente receosa.

— Bom, acho que já sabe qual é o problema então. O que estou vestindo custa quase 50 mil dólares, Gabrielly — revelei, agora a olhando. — Te dei um cartão com um limite alto, e por mais que esteja deslumbrante, suas roupas não fazem jus a...

— Alguém do seu nível? — me interrompeu.

— Não é isso.

— É isso sim, Joshua, mas não se preocupe, comprei algo básico justamente pra isso.

Sua frase me fez recuar, e não pensei que poderia ser uma estratégia.

— Me explique melhor.

— Eu trabalho no cassino, logo, as pessoas devem pensar que não tenho dinheiro. Na realidade, elas precisam pensar assim. Não faz sentido que em nossa primeira aparição pública eu esteja com um vestido muito caro, isso não vai passar credibilidade ao seu plano.  A intenção aqui é mostrar aos outros que estamos nos conhecendo e não que você pode ter me conquistado por dar presentes caros.

Confesso que isso foi inesperado. Ela pegou o espírito da coisa perfeitamente e, além disso, pensou de uma forma clara, melhor que eu.

— Além de linda é inteligente. Aprecio mulheres assim.

— Ouvir isso é bom, mas melhor ainda se parar de apreciar "mulheres assim", e me apreciar. Até porque... serei a sua esposa em alguns meses.

— Pelo visto pegou o que lhe disse mais rápido do que pensei. — Estendi a mão, e ela a segurou, sorrindo.

— Saiba que também jogo para ganhar, Josh. Em tudo...

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Onde histórias criam vida. Descubra agora