36 Capítulo

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JOSH BEAUCHAMP


No meu cassino havia pessoas fiéis, jogadores que permaneciam aqui mais do que nas próprias casas. Pareciam personagens que tinham vida livre e liberdade para irem e virem, mas não eram, todas essas pessoas eram escravas dos jogos. Eles eram, em sua maioria, clientes ricos que perdiam rios de dinheiro todos os dias, mas voltavam sempre. Simplesmente eram pessoas que só trocavam as roupas, afundando-se em dívidas. Jogadores de cartas são irredutíveis. Se hoje estou com azar, amanhã terei mais sorte. Esse era o pensamento da maioria deles, e por isso Las Vegas era tão movimentada. Todos os jogadores de um cassino tinham um "dom" especial, que os tornava poderosos. Suportar a dor de perder, a doença das finanças, a praga dos jogos. Ganhar e perder, mais uma vez perder, e assim vai... Todos eram loucos, e eu me incluía nessa. Impossível era uma palavra que estava fora de suas mentes.

'Todas as pessoas que se encontram neste cassino, sejam clientes, empregados ou visitantes, estão aqui por conta própria e fazem suas escolhas. Não nos responsabilizamos por dívidas contraídas e não temos nenhuma responsabilidade sobre qualquer perda financeira devido às decisões e escolhas destes indivíduos.' A mensagem estava fixada no hotel Palace 2000 quando passei por um dos halls. Uma lei poderosa a ser observada por quem entrava aqui. O meu cassino tinha duas faces: era a realização do desejo de quem queria uma vida livre, sem responsabilidades, mas também o pesadelo de quem desejava uma vida de trabalho, de sacrifício, sem rotina, sem responsabilidade, sem culpa. Eu também tinha duas faces, mas isso estava começando a me incomodar. Any me incomodava.

Todos os dias, quando a olhava, tinha desejos por seu corpo e não conseguia mais disfarçar. Não era acostumado com sentimentalismos, e nenhuma mulher do passado me deixou marcas profundas, mas ela estava sendo um caso à parte. Os vícios só afundavam os homens, mas quanto a ela, faria algo diferente. Eu precisava dela, e essa necessidade estava se tornando maior a cada dia que passava.

— Seu cassino está voltando aos velhos tempos — Bailey disse, enquanto caminhava comigo. — É incrível o que podemos fazer girando o dinheiro das pessoas.

Cruzamos a seção do blackjack, mas não vi Any. Precisava conversar urgentemente com ela sobre um assunto que não discutimos.

— Ela sabe do torneio hoje?

— Não. Ainda não.

— É melhor avisar. Ela vai ficar uma fera quando souber o valor que vai apostar.

— Vou avisá-la.

— Ainda não acredito que me meteu nessa. Jogar poker, Josh? Que merda!

— Não sei por que está reclamando.

— Sou muito bom no poker, por isso estou reclamando, sua ideia é péssima pra mim — Bateu o pé e entendi o seu ponto. — Quem mais vai entrar nessa?

— Que tal eu?!

Hector surgiu à nossa frente, com as duas mãos nos bolsos.

— Josh pediu uma ajudinha, e isso é algo raro. Por isso estou aqui.

— Esse é o Bailey, o meu advogado. Hector estudou comigo na faculdade.

— Espero que não seja tão atormentado quanto seu amigo — Bailey pontuou.

— Hector foi o aluno brilhante. Não se preocupe.

Observei ambos, agora sério. Meu cassino estava gerando muito dinheiro, mas havia outras razões para eu fazer isso. Em longo prazo era essencial.

— Vou repassar o que farão naquela mesa de poker. Serão 9 pessoas, cada uma apostando 5 milhões de dólares, o primeiro colocado leva tudo. Não pode ser nenhum de vocês dois, fui claro?

— Já que você vai me bancar...

— É para um bem maior. Preciso que eliminem o máximo de jogadores enquanto acumulo fichas. Se eu não ganhar, vou partir para o plano B.

— Josh chegou ao ponto de pagar para eu participar de um torneio e me fazer perder de propósito, e eu pensando que não era louco o suficiente — Bailey pontuou, não gostando da ideia.

— A vida é um jogo e estou jogando.

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Depois que repassei o plano para Bailey e Hector, liguei pelo menos umas 18 vezes no celular da Any, mas ela não atendeu. Hoje era um péssimo dia para estarmos brigados um com o outro, e precisei resolver problemas na rua antes do grandioso evento pela noite.

— Ela não estava comigo, posso garantir. — Hector veio até mim, debochando como de praxe.

Ignorei o comentário dele, observando o meu relógio. Os ponteiros marcavam 18h. O torneio começaria às 20h, e ainda nem tinha resolvido todos os problemas fora do cassino. Tentei mais algumas vezes falar com ela, mas não fui atendido. Após retornar à minha suíte, a procurei, mas não a encontrei. Em seguida, desci o elevador indo até a sua seção. O turno dela havia acabado. Fui informado que dessa vez ela saiu do cassino quando cumpriu o seu horário, mas duvidava que ela tinha ido ao seu antigo apartamento. Ela precisava fazer parte disso! Merda. Improvisar quando se valia tanta coisa era complicado, mas se não achasse Any a tempo, seria preciso algo diferente.

O tempo foi passando, e antes das 20h os 9 jogadores já estavam aqui. O Sr. Fuy não parava de falar um segundo sequer, animado. Ele era um bilionário no ramo petrolífero, e muitas pessoas não o suportavam justamente porque falava demais, e nunca deixava ninguém o interromper. O Sr. Fuy nunca se sentiu querido no meio das pessoas que eram tão ricas quanto ele. Era estranho, porém, apesar de rico, ele nunca se sentiu amado por seus amigos. Essa era uma das suas queixas em praticamente todas as conversas que tivemos. Eu o conheci por acaso, por intermédio do Bailey dias atrás. Acabei então identificando uma oportunidade quando pesquisei mais sobre a sua vida pessoal, e aqui estávamos. O próximo passo foi descobrir o seu jogo favorito, e arquitetar um plano. Não gostava de usar as pessoas, mas com o tempo me acostumei.

— Que tal começarmos mais cedo, cavalheiros? — o Sr. Fuy perguntou, e com o meu melhor sorriso assenti. Dessa vez eu não tenho outra opção...

𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Onde histórias criam vida. Descubra agora