23°CAPÍTULO

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A nossa vida é um misto de decepções e alegrias...

  ANY GABRIELLY

Não queria ter que me mudar hoje. Infelizmente, era muito rancorosa em determinadas situações, e sabia que era um erro ficar remoendo determinadas conversas, mas acabava levando muito para o meu coração.

Tinha alguns pensamentos bipolares, e me imaginava uma fracassada quando estava muito para baixo, mas logo lembrava da minha infância, e isso caía por terra. Estou longe de ser uma fracassada.  Tive uma mãe que me amava e cuidou muito bem de mim. Não era uma mãe perfeita, e dava graças a Deus por isso, agradecia às suas imperfeições.  Ela sempre fez o melhor para me educar, mesmo precisando ficar longe de casa para levar comida para a nossa família, assim como meu pai.

— Chegamos. Vou deixar suas coisas na porta da suíte — Raplh disse, e agradeci.

Minhas coisas se resumiam a uma mala com minhas roupas e uma mochila. Não trouxe quase nada, porque sabia que tinha quase tudo que me supria na suíte de Joshau. Nossa suíte. Ainda era estranho pensar assim, porém iria me acostumar. Ralph se apressou e enquanto esperava no saguão descarregou meus acessórios.

Após algum tempo fomos juntos até a porta da suíte, e a percebi entreaberta.

— Pode deixar comigo agora. Obrigada, Ralph — agradeci, e em seguida ele desceu junto com o elevador.

Respirei fundo, peguei minha mala e mochila, abrindo devagar a porta recostada. Ao entrar, notei Josh sentado no sofá, parecia estar com os olhos fechados pelo ângulo que vi.

Fiquei ali parada pelo menos um minuto, observando se ele tinha alguma reação à minha presença. Fui me aproximando cada vez mais, então fui até o sofá.

— Joshau? — chamei baixinho, mas ele parecia estar dormindo.

Dormindo, não. Apagado. Senti um cheiro diferente dele. Com toda certeza havia bebido além da conta. Resolvi não o incomodar, e peguei meus pertences, procurando um quarto para ficar, o que não foi difícil, já que quartos era o que mais tinha nessa suíte.

Nunca vi algo tão chique e espaçoso. Depois de mais algum tempo, achei um quarto aconchegante e coloquei minha bagagem na cama.

Abri a janela, e a vista do outro lado me deixou maravilhada. Não permaneci no quarto tempo o suficiente e voltei para a sala. Para a minha surpresa Joshua havia acabado de se levantar, e vi o exato momento que ele tentou se apoiar na pia da cozinha, caindo em seguida. Corri preocupada e tentei ajudá-lo. Ao me ver, seus olhos ficaram levemente surpresos.

— O que está fazendo?

— Bebendo — respondeu, fitando o chão.

— Não acha que bebeu demais hoje? — perguntei, mas ele não me respondeu.

O homem imponente e forte de ontem havia sumido, dando lugar a alguém quebrado, hesitante.

— Joshau, vou te ajudar. — Minha voz era gentil, e como se a força dele fosse mínima, ele caiu de novo quando o ajudei a apoiar-se na parede.

— Desculpa, Any — falou, e não entendi o significado de me pedir perdão.

  Eu... Com muito custo  ele se levantou sozinho, e foi tateando as paredes até chegar ao seu quarto. Fiquei ao seu lado, observando se ele iria vacilar em algo para segurá-lo.

Provavelmente se isso acontecesse nós dois iríamos cair no chão, não conseguiria segurá-lo a tempo, mas era um risco que eu estava disposta a correr. Fiquei aliviada quando ele chegou até o quarto, desmontando-se na cama. Até pensei em dar um jeito de botá-lo no chuveiro, mas dificilmente iria conseguir mover um homem grande desses.

— Any... — disse, suspirando profundamente.

— Estou ouvindo — respondi, chegando pertinho, mas não ouvi mais nenhum som da sua boca. Ele havia apagado novamente.

***

Acordei vacilante. Ao abrir meus olhos ouvi o som de algo, parecido com uma música. Minha ficha caiu que não estava em casa quando olhei para o quarto.

Em seguida, peguei o meu celular, observando o horário.  7 da manhã. Fui até o banheiro e fiz minha higiene pessoal, depois me lembrei do Joshua, e saí do meu quarto, indo até o dele.

Para a minha surpresa, ele não estava mais lá, mas o som da canção que ouvi minutos atrás estava maior, e quando fui até a cozinha tomei um grande susto com o que vi. Como se ontem à noite tivesse sido uma miragem, notei Joshua impecavelmente vestido, sentado em um dos bancos, tocando piano.

Resolvi não interromper a melodia. A melodia era linda, bem musical, e definitivamente diferente de tudo que já ouvi. Não consegui identificar a canção, nem mesmo quando ele terminou de tocar.

— Qual a nota? — perguntou, ainda de costas, surpreendendo-me.

— Definitivamente um dez. Mas, como sabia que eu estava atrás de você?

— Você é bem espalhafatosa — respondeu, girando seu corpo e rimos juntos. Na sequência ele se levantou, vindo até mim. — Obrigado por ontem. Tive alguns lapsos, e sei que me ajudou.

— Na verdade, eu tentei, você foi por conta própria pra cama.

— A sua intenção de ajudar já foi uma boa ação. — Engoli em seco quando ele terminou a frase, depois uma de suas mãos foi em direção ao meu queixo, enquanto ele permanecia me olhando com firmeza. — Saiba que a partir de hoje todas as decisões que envolvam você, discutiremos juntos. Espero que confie em mim, pelo menos mais uma vez.

Tentei observar com afinco alguma dúvida em seus olhos, mas não encontrei.

— Tudo bem.

— Outra coisa: não há necessidade de ficar no outro quarto. E, quando eu falo que não há necessidade, estou dizendo que não quero que durma em outra cama a não ser a minha.

— Você acordou muito mandão — pontuei, estreitando os olhos.

— É a convivência com a minha futura esposa. O café da manhã está pronto, e ajeitei tudo para que não se atrase para o trabalho.

Ele deu dois passos para o lado e pude visualizar a mesa cheia de comida, entre elas café, fatias de pão, açúcar, leite e mel e algumas frutas.

— Gosto dessa sua versão que se importa com alguém além de si mesmo.

— Só tem um problema: tenho inúmeras versões.

Viver com Josh seria uma caixinha de surpresas, sempre haveria algo novo a ser aprendido.

Será que a proximidade entre os personagens está começando a criar laços mais profundos?

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𝘼𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖 𝙁𝙖𝙩𝙖𝙡Onde histórias criam vida. Descubra agora