A queda [1]

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No profundo abismo, eis que o sol dos inferiores despeja sua luminescência no éter, ampliando a probabilidade de me ver só uma vez mais, envolto nas assombrações que me aterrorizam. Imploro incessantemente, questionando-me se algum dia fui capaz de desvelar o intricado labirinto em que me encontro, à revelia da minha vontade.

Contudo, é exatamente nessa desventura que o público voraz encontra deleite. Seus olhos famintos se banquetam com o espetáculo dantesco do meu tormento, regozijando-se a cada passo em falso, cada tropeço no meu caminho. São espectadores sádicos, que se nutrem do meu infortúnio como se fosse um manjar dos deuses.

Escapar desse desafio é uma empreitada que, verdadeiramente, não me encontro disposto a enfrentar. Desse modo, resigno-me a permanecer mergulhado nesse vasto oceano de esquecimentos, projetado pelos cruéis que se regozijam com a queda do infortunado.

Ah, como anseio pela emancipação! Contudo, reconheço minha própria fragilidade diante das grilhetas que me encarceram. Sou cativo de um destino sombrio e melancólico, e os aplausos e risos sarcásticos do público ecoam em meus ouvidos como um sinistro coro de prazer perverso.

A cada dia, sinto o peso intolerável dessas amarras invisíveis, estigmatizando minha alma e corroendo minha essência. Não há nenhuma luminescência a clarear meu horizonte, apenas sombras que se levantam e me atormentam, enquanto a plateia exulta na minha queda vertiginosa.

Entretanto, mesmo nesse oceano de tristeza e solidão, ergo meu olhar com um ímpeto de resistência. Deixo que minhas lágrimas alimentem o mar da minha angústia, submergindo-me cada vez mais nas profundezas desse labirinto cruel, desafiando o sadismo da multidão que se compraz com minha desgraça.

Que os ventos transportem meu lamento, enquanto trilho os caminhos sinuosos desse labirinto opressor. Que a escuridão seja testemunha taciturna da minha jornada, acompanhando-me em meu perpétuo desamparo, enquanto o público se deleita com cada tropeço meu, como se fosse um banquete de escárnio e desprezo.

Pois é na mais profunda dor que minha voz floresce, desnudando minha tristeza e desespero. Desvendo minha alma nestes versos que retratam a solidão da minha caminhada, sem enfeites poéticos, apenas a honestidade da minha melancolia, na esperança de que a multidão, ao se alimentar do meu naufrágio, encontre uma centelha de empatia perdida.

Assim, permito-me ser envolto pela sombra, acolhendo-a como uma companheira leal. Pois é nesse negrume que encontro minha expressão mais genuína, revelando a dor de um coração abandonado, sem máscaras ou disfarces.

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