Permite-me, criatura de lascívia celeste, que eu te evoque com a delicadeza de um sussurro que arrepia o tempo - não como súdito diante de um trono, mas como esteta fascinado pela geometria voluptuosa da tua existência. Acariciar-te seria não apenas uma oferenda, mas um banquete sagrado entre seda e pecado, onde meu toque, ornado de intenções explícitas, desliza como vinho raro entre as frestas do teu querer.
Quisera eu devorar-te com os olhos antes de tocar-te, como quem contempla uma obra-prima de desejo exposto sob luz âmbar. Cada curva tua, cada reentrância, seria território a ser percorrido com a sofisticação de um perito e a fome de um faminto. Meu toque não seria súbito, mas premeditado, arquitetado como uma sinfonia em que cada nota tateia tua pele até que os arrepios se confessem.
Minha língua, caso me seja permitido, prestaria homenagens ao templo que habitas - não com pressa, mas com culto, como quem lambe um altar dourado coberto de promessas. As mãos, vestidas de ternura suja, não buscariam apenas tocar, mas submeter o teu corpo a uma dança milimétrica entre o prazer e a rendição. Quero que te percas no toque como se nele estivesse escrita a tua biografia sensorial.
E se minha voz ousar sussurrar obscenidades, será com o tom de quem recita poesia rara em biblioteca interditada. Pois até o vulgar, quando dito com elegância, torna-se jóia. E tu, ornamento vivo do meu desejo, serás lida em braile por dedos que suplicam indulgência entre teus suspiros.
Ó divindade tangível, permite que esta experiência se converta em liturgia. Que minha boca percorra teus contornos com a reverência de quem saboreia fruta proibida em jardim esculpido por deuses. Não há pressa - apenas fome e estética. Apenas um desejo tão nobre que escorre. Que meu toque seja uma escrita sagrada sobre tua epiderme, e cada carícia, uma oração indecente em teu nome.
Permite-me, enfim, descer à tua nudez como quem adentra um palácio em chamas: deslumbrado, lascivo, agradecido. Que o vulgar se curve à beleza e o profano se cubra de ouro. Que gozar contigo seja, mais do que prazer, uma forma de arte.
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As Vivências
Non-FictionUm conjunto de prosas que eu escrevo enquanto enfrento algum problema na vida ou quando pretendo praticar técnicas de escrita (A imagem representa o último texto publicado) Legenda Temática: Drama Existencial [1] Reflexão filosófica [2] Imagética [...
