O Medo [1]

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Na densidade dos teus traços malévolos, reconheço as breves e angustiantes alegrias que um dia me proporcionaste, mesmo que eu mesmo me subestime. Tua vontade insidiosa é traiçoeira diante de tamanha habilidade efêmera, enquanto me vejo perdido e desnorteado. A confiança, frágil como cristal, é despedaçada e cada fragmento fere repetidamente, como se fosse minha sina. Porém, num momento audaz, ágil e destemido, tento me agarrar à esperança, mesmo sabendo que ela escorrega entre meus dedos incertos. O silêncio, meu eterno companheiro, paira aqui, reforçando minhas inquietudes incessantes. Debato-me entre as infinitas muralhas, incapaz de regressar a um lugar ao qual sequer senti que pertencia. Sempre há algo novo além da porta, mas será que eu, com minha autoestima cronicamente subestimada, serei capaz de desvendá-lo? A abro, a fecho, e a maçaneta parece zombar de mim, como se dissesse: "Você não é digno de descobrir o desconhecido". Talvez a cegueira tenha atingido um estágio em que não consigo mais enxergar sequer o chão sob meus pés trêmulos. Quem me colocaria numa posição tão elevada? Certamente não eu, pois aqui, neste recinto obscuro, jamais me sentirei seguro.

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