Vulgarizar A Nobreza [4]

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Sob o véu diáfano da imaginação, o contato com o Palácio tende a refletir os desejos mais lascivos de uma noviça em seu período fértil. Ela anseia por alguém que a satisfaça, que a revitalize, alguém que a resgate da monotonia da existência. O ápice deste anseio manifesta-se no ranger da cama, onde sua veste caiu como um símbolo de sua vulnerabilidade. Há múltiplas razões para tal, e apenas eu sou capaz de degustar cada uma delas.

Não é que você esteja com a pessoa errada; você é a pessoa errada. Discernir desejos é mais fácil do que encontrar problemas para um homem solteiro em uma noite chuvosa, pois ele já enfrentou árduas batalhas ao longo do dia e tudo o que almeja é o repouso. Mesmo que sua mulher possa oferecer-lhe tal conforto, minha presença emerge como um obstáculo despretensioso.

Profanar a nobreza não se trata de um ato de rebeldia, mas sim, de concretizar o que mais almejo: deitar-me ao lado daquele que considero o mais pecaminoso e perpetrar uma atrocidade sem hora marcada. Tudo isso para, ao romper da aurora, perceber que estou, mais uma vez, sozinha. Outra conclusão indecente surge: preciso rever meus conceitos sobre pecado.

A obsessão pelo fracasso cegou-me, e nem ao menos recordo quando deixei de ser perfeita. Tudo em mim é vulgar, desde minha riqueza até meus fios de cabelo. O prazer é contaminado pelo incenso das águas florais a partir do momento em que o cadáver começa a esfriar; é apenas sangue escorrendo novamente, nada surpreendente. O erro dele foi apenas a lealdade excessiva, e meu vestido era caro demais. Embora eu não consiga estimar o preço, mensuro pela minha paciência, sempre esgotada. Nada disso importa, pois ao cair da tarde, estarei aninhada em seus longos braços musculosos, ávidos por uma donzela em perigo. Não posso ser culpada por ser assim; devo sentir-me culpada?

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