Os fragmentos [1]

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Em tempos remotos, nutria a crença audaz de que poderia me libertar das correntes do passado, despojar-me das lembranças que me assombravam. Contudo, descobri que as sombras do que foi são astutas, envolvendo-me em seu abraço sinistro, transformando-me em refém de minhas próprias recordações.



A cada imagem que se projeta em minha mente, a cada palavra que ecoa em meu íntimo, as amarras se apertam, estreitando-se ao redor do meu ser. Sinto-me enclausurado, confinado em uma cela sombria, onde o passado exerce seu poder tirânico, lançando-me em um labirinto de lembranças que me devoram.



A sanidade, outrora sólida e segura, desfaz-se como fumaça ao vento. Os momentos presentes desvanecem-se, eclipsados pelas miragens do que foi. Visões distorcidas e sombrias me assaltam, obscurecendo a tênue linha entre a realidade e a ilusão, levando-me a questionar minha própria lucidez.



Dia após dia, a névoa do esquecimento avança, transformando minhas lembranças em um amálgama confuso e implacável. Sou testemunha impotente de um espetáculo caótico, onde os fragmentos do passado ganham vida, uma tragédia que se desenrola diante dos meus olhos, sem que eu possa interferir.



A sensação de estar acorrentado ao passado é avassaladora. Os grilhões do tempo envolvem-me, apertando meu peito, cerceando minha respiração. A nostalgia e o amargor entrelaçam-se, corroendo minha essência, enquanto o desespero se apossa de mim. Sou prisioneiro de memórias inalteráveis, de remorsos que me consomem e de arrependimentos que dilaceram minha alma.



A lucidez escapa-me como um pássaro em voo frenético, deixando-me à mercê das sombras e dos delírios que emergem do passado. A fronteira entre o real e o imaginário dissolve-se, mergulhando-me em uma dança perturbadora de momentos que não podem ser revividos e pessoas que já partiram. É um suplício incessante, uma asfixia mental que me consome gradualmente, como se meu ser estivesse mergulhado em um abismo de recordações.



Em meio a essa clausura psicológica, resiste em mim uma centelha frágil de esperança. Anseio por encontrar uma brecha, uma fenda nas paredes do tempo que me permita escapar desse labirinto tortuoso. Ainda que cercado por lembranças sufocantes, persigo a libertação, almejando romper os grilhões que me retêm.


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