Abismo

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Ecoam os gritos
os xingamentos ditos ao abismo
o som das lágrimas ao encontrarem o chão

As vozes não se calam
se tornam cada vez mais brutas
convincentes
atrativas

como em transe ando até a borda
penso em como é cair
os braços balançando no ar
mas no fim o medo faz recuar

pensando que sou como um mobile
olho para o ventilador de teto

logo imagino como uma nova peça do guarda roupa

um quadro com cores primárias e vermelho como destaque

ou uma caixa de primeiros socorros
guardando todos esses remédios no estômago

mas ao mesmo tempo não sou nada
seria mentira me dar tal importância
apenas mais um pontinho na estatística

vejo as janelas riscadas
assim como os cadernos
diversas cartas endereçadas

um turbilhão de pensamentos e palavras
falhando ao tentar descrever tudo
ou fazendo isso de forma assustadora

os sinais sempre estiveram claros
mas ninguém parece entender

estou cansada de enviar mensagens sutis
mas temo toda vez que saia de controle
e vire só mais um boato infundado
mas dessa vez ligeiramente real

virar manchete de jornal
só por ser um eminente fracasso
estampando a derrota em letras garrafais

mas no final
estou no fundo do poço
e posso ouvir minha própria voz
anunciando o fim

piedosa com todos
menos consigo
morte da hipócrita que um dia habitou o abismo da melancolia

09.08.23

Poeta de meia tigelaOnde histórias criam vida. Descubra agora