Jimmy.
Same Girl soa em meus ouvidos enquanto eu caminho pelos corredores da nova faculdade. Assim como odeio R. Kelly, eu odeio essa bagunça de pessoas a cada canto que vou, mas assim como eu necessito vir para esse inferno para ser alguém na vida, eu necessito escutar essa música às vezes... Porque homens tem que ser tão podre? Se não fosse a podridão do desse cantor, eu poderia escutar essa música divina sem culpa. Say Goodbye começa a tocar no momento em que eu entro na sala e quando eu levanto a minha cabeça eu sinto o meu corpo tremer. Todos estão olhando.
Calma Jimmy, não tenha uma crise no seu primeiro dia.
Respiro fundo e vou para final da sala, sento na última cadeira do lado esquerdo, me afundo nela e tento nem me mexer para não chamar atenção de ninguém. Olho para o lado e vejo um par de olhos verdes me encarando, volto a prestar atenção na mesa e tento ignorar o olhar afiado daquela garota. Eu tenho que entender que mudar de faculdade no meio do ano é algo no mínimo inusitado, então sim, irei chamar atenção. Mas não é como se eu quisesse que isso acontecesse, eu precisei, eu precisei sair daquele lugar o mais rápido possível.
Vejo uma movimentação na porta da sala e logo entra um grupo de três pessoas, os três meninos falam alto pouco se importando com os demais alunos na sala, eles veem andando para o final da sala ainda falando alto entre si, quando estão próximos da minha mesa eles se calam e ficam olhando diretamente pra mim. Ah não, hoje é o meu primeiro dia...
— Esse é o meu lugar. — O que eu posso denominar como líder da pequena gang fala e eu não controlo as minhas reações já que minhas sobrancelhas sobem e eu faço a maior cara de deboche.
— Não, não é. — Tiro a minha atenção dele e foco no meu celular.
— Olha bonitinho, você acabou de chegar, certo? Nunca te vi por aqui, então eu irei te explicar, esse lugar é meu e fique sabendo que não é apenas nessa sala, em todas as outras, a última cadeira é sempre a minha. — Ele fala apoiando as mãos na minha mesa. Olho diretamente em seus olhos.
— Como eu sou novo aqui eu também me sinto no dever de falar como as coisas funcionam comigo... — Me levanto e noto o quanto ele é maior que eu, mas não estou nem aí. — Se eu cheguei nessa merda e estava vazia, eu posso sentar e ponto, quer esse lugar? Chegue mais cedo da próxima vez. — Não quebro o contato visual e ele fica me olhando sério, depois de alguns segundos ele abre um sorriso de lado e se afasta.
— Irei chegar cedo amanhã. — Ele se afasta e se senta na cadeira à minha frente.
Nesse momento noto a surpresa das pessoas e fico me perguntando o motivo de tanto. Volto a me sentar e os cochichos começam. Era o que me faltava, primeiro dia de aula e já to chamando atenção, fala sério, era o que eu menos queria. Mas nunca que eu iria abaxar minha cabeça para um idiota que se sente o dono do mundo.
Pego o meu telefone e abro o grupo com meus amigos, eu preciso deles hoje.
Quando eu ia começar a digitar uma mensagem o professor entra na sala e eu sinto o meu corpo tremer quando vejo o porte dele. Alto, forte e com uma cara nada boa. Respiro fundo desejando não ser notado por ele e todos os outros.
Ele começa a aula e antes de eu focar na matéria eu foco em como ele trata os alunos, meninas, meninos, não importa, só presto atenção e relaxo mais um pouco quando noto que ele está sendo muito profissional. Que ninguém me leve a mal, mas passando pelo o que eu passei, isso é o mínimo a ser feito, eu pensei que nunca mais ia conseguir entrar em uma sala de aula... Graças aos meus amigos eu consegui desbloquear esse medo.
Depois de alguns minutos a aula acaba e vejo todos saindo, eu não sei bem pra onde ir agora, mas arrumo as minhas coisas e pego a folha que indica para onde eu preciso ir, quando ia sair pela porta alguém surge na minha frente e esse alguém é o mesmo garoto irritando de mais cedo.
— Oi, eu posso te ajudar, sabe, dizer para onde tem que ir. — Ele fala apontando para a folha em minhas mãos.
— Não, obrigado. — Tento passar, mas ele não deixa.
— Qual é, to tentando ser legal. — Respiro fundo e entrego a folha a ele. — Ah, parece que temos mais uma aula juntos agora. Vem, vamos para a sala. — Ele se vira, mas antes de andar, ele volta a falar. — Dessa vez eu irei chegar mais cedo, gatinho.
Reviro os olhos para a fala dele e começo a segui-lo. Logo entramos na sala e ele faz questão de entrar primeiro do que eu, ele vai para o fundo da sala e se senta na última cadeira, como eu estava atrás dele, me sento em sua frente e tento não sentir raiva do sorriso debochado dele.
Logo a sala vai enchendo e apenas um membro da gang entra, ele se senta à minha frente, mas isso não o impede de ficar em uma conversa com o indivíduo atrás de mim, ou seja, estou no meio de uma conversa bem escrota.
— Não cara, eu juro, eu juro que ela ia me bater, por isso chamei a minha irmã. — O idiota a minha frente fala e o idiota atrás de mim se acaba de rir.
— Tu é um bundão.
— O que eu poderia fazer? Bater nela que eu não ia. — Parece que o idiota tem senso. — Até porque se eu tentasse levantar a voz, ela me comeria na porrada. — Me esforço para não rir.
— Sei lá, você poderia apenas dizer a ela que era o seu irmão e não você que estava pegando uma coroa gostosa em uma balada. Mano, tu é muito burro. — O lider dos idiotas fala e eu me concentro mais na conversa deles, que babado.
— Mano, não ia adiantar, você sabe que o Liam e eu parecemos gêmeos, ninguém acreditaria. Aquele desgraçado me paga.
O professor entra na sala e eles calam a boca. Passo por mais uma tortura de "averiguar" o comportamento dele, infelizmente eu não comando isso em mim, eu me sinto ameaçado. Noto a simpatia dele e noto também a animação dos alunos com ele, ele deve ser aquele professor legal, isso me deixa com medo, ele também era o professor legal.
— Pelo o que vejo, vocês estão animados hoje, até parece que amam ciência política. — Ele brinca.
— Na verdade, amamos você. — Um aluno lá na frente fala.
— Eu sei, eu sei, mas não adianta babar o meu ovo, não dou nota de graça pra ninguém. — Ele brinca e todos reclamam. — Tá, chega de conversa, vamos começar essa bagaça aqui.
Ele começa e eu foco na aula, depois do que pareceu pouquíssimos minutos, a aula acabou, agora eu entendo o motivo do pessoal gostar dele, a aula dele é leve. Enquanto guardo as minhas coisas, meu celular toca e eu vejo o nome do meu pet na tele.
— Fala sua maldita. — Ouço ele resmungando do outro lado.
— Pilantra... Ta onde?
— Faculdade, querido.
— Saindo?
— Na verdade não, mas dependendo da sua proposta, eu posso sair agora mesmo.
— Balada, Abby, você e eu, comemorar a nossa vitória. — Quando ele termina de falar meu corpo se arrepia e eu sinto como se uma tonelada tivesse saído de cima de mim.
— Está falando sério?
— Sim, meu amor, aquele desgraçado está na cadeia e vai ficar por lá uns belos anos.
— Estou saindo daqui agora mesmo.
— Venha para a sua casa, Abby e eu estamos aqui.
— Abusados. — Ele desliga na minha cara, mas eu sinceramente não consigo nem ligar para isso.
Enfio tudo de qualquer jeito na minha mochila e quando eu ia começar a andar em direção a porta...
— Parece feliz, gatinho...
— Estou muito feliz para discutir com você, tchau. — Saio da sala e vou em direção a saída.
Mesmo com toda a minha felicidade, uma coisa me vem à cabeça... Eu só tive alguma justiça por ter dinheiro, quantas pessoas passaram pelo o mesmo que eu e ver os seus abusadores andando por aí como se não tivessem feito nada de errado?
Antes de abrir a porta do meu carro, o meu telefone vibra e eu abro um sorriso.
"Não pense muito, meu amor, é uma vitória, é a sua vitória. Aproveite."
Eles me conhecem tão bem...
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Clichê?
RomanceJimmy Sowell, de 21 anos, tenta levar a vida da forma mais invisível que pode, por mais que isso seja impossível para si, ele segue tentando. Depois da morte de seus pais, muitas coisas mudaram em sua vida e ele realmente se apegou a essas mudanças...