Haver
Respiro fundo quando no momento em que escuto a voz do meu pai.
Muitos me perguntam o motivo de eu ainda morar com eles, sendo que não nos damos bem nem um pouco. Bom, a resposta para isso é simples... Medo. Por mais que minha mãe também não goste nem um pouquinho de mim por conta da minha sexualidade, eu ainda a amo, então continuo nesse inferno de casa para protegê-la do homem que se denomina marido dela.
Meu pai até alguns anos atrás batia muito na minha mãe, era horrível, mas não o suficiente para ela largar ele. Confesso que já tem muito tempo que ele não faz isso, mas é porque o alvo dele mudou. Acho que o preconceito deles os uniu contra mim. Depois que eu contei sobre o que eu sou, magicamente eles se tornaram um casal que lutam juntos pelo o que querem e eles querem me derrubar.
Porra, eu fico pensando o que se passa na cabeça dessa gente... Quem come homem sou eu, não eles, porque se incomodar tanto?
O desgraçado do meu pai é um arquiteto até que renomado, não posso dizer que é podre de rico e que sai por aí esbanjando dinheiro, seria a maior mentira, mas ele tem sim uma boa condição. Já minha mãe, bom, ela era professora, mas o idiota do meu pai a fez largar o trabalho porque segundo ele, mulher foi feita para ficar em casa cuidando do marido e filhos... Babaca.
Eles me odeiam de verdade, não falo isso da boca pra fora, eles realmente não gostam de mim. Eu me lembro a última vez que recebi um abraço da minha mãe, eu tinha quinze anos, foi no dia em que eu recebi o primeiro olhar de desprezo também. Já o meu pai, eu nem lembro quando eu tive um momento sequer de afeto, mas eu me lembro que ele não me rejeitava. Quando eu me iludi, achando que eles iria pelo menos respeitar a minha sexualidade, contando a eles o que eu sou, eu apanhei, apanhei como nunca na vida, tive o meu braço quebrado pelo meu pai e meu coração despedaçado pela minha mãe, mas pelo menos, o que eu eu mais temia que acontecesse, não aconteceu. Eles não me botaram para fora de casa. Na época eu não sabia, mas seria bem melhor morar na rua do que viver aqui.
"Eu vou consertar você"
" Você vai aprender a ser homem"
Dos meus quinze anos pra cá, eu sobrevivi a porradas, orações, himilhações e até mesmo sexo forçado. Mas também aprendi. Aprendi que quanto mais se abaixa a cabeça, mais dor sentimos, quando mais se cala, mais forte é a porrada, quanto mais aceita, mais forte é o sentimento de culpa. Culpa por deixar que uma pessoa qualquer te force a algo, culpa por não se amar o suficiente, culpa por ser um mero boneco.
Lembro-me também do primeiro dia em que revidei. Lembro do primeiro dia que disse não, lembro do primeiro dia em que eu levantei a minha voz e impus o meu direito como ser humano, o direito de receber o mínimo de respeito e meus amigos... A sensação foi ótima. Ótima ao ponto de eu nunca mais querer abaixar a cabeça para ninguém, mesmo que meus pais.
Eu me descobri, eu me fiz forte e esperto, eu comecei a utilizar a inteligência herdade de minha mãe e me fiz desse jogo o único titular. Comecei em procurar saber o motivo de eu ainda morar naquela casa. Não era claro pra mim a ideia deles me quererem alí mesmo me odiando, então descobri que o meu pai adorava se gabar da sua família estável e bonita, usei isso ao meu favor. Descobri também sobre a vergonha que a minha mãe teria se toda a família soubesse que criou o seu filho tão mal a ponto de virar um viadinho, também usei isso ao meu favor. Ah, se ela soubesse que eu fudi dois dos três sobrinhos dela bem na sua cozinha... Meus pais são uma piada.
Me tornei o que sou hoje por causa deles, me tornei essa pessoa "impossível" por que isso foi e é a minha arma de defesa. O mais engraçado é que eles tenta força algo sem nenhuma necessidade. Minha mãe tem vergonha, mas não tem contato nenhum com a família porque se tivesse, ela saberia que meus primos são gays assumidos e o meu pai... Bom, esse é burro mesmo. Tenta passar de perfeito no trabalho mas mal sabe ele que um dos seus colegas de trabalho, o mais conhecido é o que ele mais puxa o saco, já tentou me fuder durante uma festa que ele mesmo fazia para comemorar seus anos no ramo da arquitetura. Bem que eu queria ter esse gostinho de ficar com aquele gostoso, mas sabe como é né, dois ativos não conversam muito bem. Pelo menos ganhei uma mamada gostosa na cozinha... Sim, sempre na cozinha, é o lugarzinho especial da minha mamãe. Um dia ainda irei falar para ela quantas bocas eu já fudi ali, só para fazer com ela o mesmo que ela fez com o meu lugar de refúgio. Me tornei uma pessoa vingativa e calculista e sinceramente? Eu cago pra isso, tenho coisas mais importantes para me preocupar do que ficar me martirizando sobre ser uma pessoa boa ou má. Quero mais que todos se fodam.
Greeg e Michael são os únicos que conseguem, nem que seja por poucos momentos, trazer o meu antigo eu átona. Odeio quando isso acontece, odeio porque choro. Antes dessa merda toda acontecer na minha vida, eu era uma pessoa calma, muito, muito calma, não tinha armadura alguma, eu simplesmente era eu. Um ser que gostava de estudar, preferia casa do que qualquer outra coisa e vivia sonhando acordado. Eu odeio o meu eu do passado, ingênuo e feliz... Um completo idiota. A única coisa que eu sinto falta é da calmaria. Eu gosto da calma. Por mais que ela já não faça mais parte de mim.
Meus amigos são uns pau no cú, mas são uns pau no cú que nunca me deixaram sozinho. Nesse meio tempo de mudanças e brigas, quando eu precisava cair ou simplesmente descansar, eram eles que me apoiavam ou ficavam de guarda até eu recarregar as minhas energias. São dois héteros sem graça, mas ainda sim, são as melhores pessoas que eu poderia ter ao meu lado. Quando contei sobre a minha sexualidade... Quer dizer, quando descobri a minha sexualidade, eles estavam lá. Foi engraçado, eles surtaram mais do que eu, e queriam entrar no cômodo onde eu estava com o menino só para saber se era realmente real. Bando de gay enrustido. Quando transei pela primeira vez, então... Surto atrás de surto.
— Cadê o inútil? — Meu pai grita e eu me viro na cama ajeitando o travesseiro para dormir.
Vejo as notificações no meu celular e vejo algumas mensagens dos meus amigos, ignoro todas e abro o instagram. Abro novamente o perfil do loirinho e começo a curtir todas as fotos dele, inclusive a que postou a pouco tempo. Ele pode não me responder, mas eu vou encher o saco dele até eu ganhar por cansaço.
Jimmy Sowell é lindo. Sério, não tem exagero nenhum nisso, na verdade, a palavra lindo é fraca demais para o que ele realmente é. Seu corpo é deslumbrante, seu rosto é angelical e a sua personalidade encantadora. Ele conseguiria facilmente encantar pessoas ao seu bel-prazer. Quando o vi pela primeira vez na faculdade, ele estava escondido em roupas e boné, mas quando ele se levantou para discutir comigo e eu tive o prazer de ver o seu rostinho melhor, eu me rendi. Eu nunca quis tanto uma pessoa.
Abro a foto da poltrona mais uma vez e suspiro. Eu poderia me masturbar e gozar gostoso apenas tendo essa foto como inspiração. Moleque gostoso do caralho. Volto para o topo do seu perfil e abro os Storys, o primeiro é uma foto dele de costas com uma calça social, descalço, blusa social com as mangas dobradas até os cotovelos, ele está cozinhando. Homem gostoso. Passo e começa o vídeo, a voz do amigo dele soa alto, ele é quem está com o telefone do dono do perfil na mão gravando tudo. "Jim. Denguinho, olha para cá, eu estou tentando fazer umas imagens bem vibe COE gostosão que cozinha e tudo, mas você não ajuda." Começo a rir porque esse amigo dele é bem doidinho. Logo o mesmo se vira e eu quase tenho um treco. Ele é lindo demais. "Ryck, você sabe que a minha paciência para essas coisas é zero.", o amigo dele vira a câmera e agora ele é o foco. "Tá vendo, seguimores, essa é mais uma prova de que sou eu que faço esse perfil aqui acontecer, esse chato aqui nem abre o instagram dele. Não sei pra que esse tanto de seguidores se não posta nada". O vídeo acaba e logo vem uma foto e dessa vez, a menina estava junto também. O próximo stories é uma foto da comida e o último era uma foto dele, distraído, sentado todo relaxado, com as pernas abertas, os botões da camisa abertos e com a cabeça jogada para trás. Em minha mente só vem eu no meio das suas pernas chupando ele com vontade e suas gemidos ecoando pelo local. Ele é um tesão e eu não sou nada controlado. Eu vou ter esse gostoso na minha cama, eu vou beijar muito aquela boca.
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Clichê?
RomanceJimmy Sowell, de 21 anos, tenta levar a vida da forma mais invisível que pode, por mais que isso seja impossível para si, ele segue tentando. Depois da morte de seus pais, muitas coisas mudaram em sua vida e ele realmente se apegou a essas mudanças...