Capítulo 12

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Haver

Ao chegar em casa, a primeira coisa que vejo é a cara feia e velha do meu progenitor. Fecho a porta atrás de mim e sigo para o meu quarto. Bom, eu tento fazer isso.

— A bichinha chegou. — Ignoro. — Já estava dando esse rabo por ai? Para voltar essa hora com certeza estava sentando em vários paus por ai. — Ignoro mais uma vez e ele se irrita. Ele odeia ser ignorado, por isso faço tanto.

Quando piso no primeiro degrau da escada sinto algo atingindo as minhas costas com força e para não cair de cara no chão eu apoio as minhas mãos na escada. Me levanto logo em seguida e olho para o chão vendo que ele me tacou a garrafa de água feita de metal que estava em suas mãos. Me abaixo ignorando a dor nas minhas costas e pego a mesma no chão, boto ela em pé na escada e olho bem para a cara desse ser desprezível.

— Uma vez ouvi de uma mulher que nem sempre ter uma pau entre as pernas torna uma pessoa um homem, no momento eu não entendi bem, mas hoje, olhando para você, eu acho que consigo entender perfeitamente o que ela queria me dizer. — Ele vem andando em minha direção com raiva e eu abro um sorriso. — Quem "da o rabo" sou eu, mas quem não é homem a qui é você, engraçado, não? — Ele para bem na minha frente e segura o meu braço com força, muita força.

— Repete, seu merda.

— O que? A parte que eu disse que dou o rabo ou a parte que você não é homem? — Abro um sorriso debochado e ele acerta um soco na minha barriga me fazendo me curvar fazendo assim sentir o cheiro de álcool vindo dele.

— Seu merda, você é uma vergonha, eu tenho nojo de você, não sabe o quanto eu quero que você suma dessa casa, suma da minha vida e ninguém mais te associe a mim. — Dói. Não o soco.

— Sinto muito, mas o seu desejo não irá ser realizado tão cedo. — Puxo o meu braço. — Só saio daqui quando a sua mulher sair também. — Não por ela.

Ah, a quem eu quero enganar?

— Isso nunca vai acontecer, seu merda.

— Então nada de sonhos se realizando para você, Carlos Henrique. — Viro as minhas costas e subo as escadas.

Eu posso estar sendo o maior otário de todos, mas não vou deixar ela aqui sozinha com ele para servir de saco de pancada para ele. Eu prefiro apanhar no lugar dela.

Entro no meu quarto e tranco a porta, vou até o closet e pego uma roupa, me troco botando as típicas roupas que uso no trabalho, me olho no espelho e faço uma careta quando vejo o meu braço meio vermelho. Essa porra vai ficar roxo e eu vou ficar puto. Lembro das minhas costas e logo levanto a minha blusa e me viro.

— Droga, não da nem pra falar que foi sexo. — Me ajeito e pego a minha mochila e meu capacete.

Saio do meu quarto e tranco a porta, desço as escadas e graças aos deuses não vejo o infeliz. Saio de casa e vou direto para a minha moto.

°°°

Chego no bar muito mais cedo do que deveria e vejo o meu tio arrumando umas mesas. Eu trabalho a noite e são três e vinte da tarde, não, não estou aqui essa hora porque gosto de trabalhar, eu estou aqui essa hora porque não estou funcionando como de costume e isso me sufoca, então prefiro me distrair.

— Mas que porra você está fazendo aqui a essa hora, moleque? — Meu tio pergunta botando as mãos na cintura enquanto eu me aproximo. Vejo seus olhos descendo para o meu braço e logo ele fecha a cara. Ele sempre faz isso, sempre me analisa inteiro quando eu chego aqui. Isso só me faz lembrar o quão fudido eu sou. Me sinto minúsculo.

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