Os primeiros sons de batalha chegaram até Satine antes que atingisse o sopé da encosta que abrigava as Doze Casas do Santuário. Mesmo as estrelas pareciam se agitar sobre sua cabeça. Um estrondo fez a terra estremecer sob seus pés, tão forte que quase a derrubou.
A primeira casa não estava longe. Apressou o passado em direção as escadarias, o coração batendo tão alto quanto as vozes que chegavam até ela. Só mais alguns instantes.
Quando alcançou, por um acesso lateral, o pátio do primeiro dos doze templos do zodíaco, a Casa de Áries, o que viu foi muito pior do que poderia imaginar. Nem mesmo seu coração ou seu sexto sentido a haviam alertado para um cenário tão aterrador. Precisou de alguns instantes para assimilar as informações e reagir.
- Seeeeiya! - o grito estrangulado saiu de sua própria garganta, ecoando pela noite, antes que o jovem Cavaleiro evaporasse no ar.
Satine piscou como se pudesse afastar de sua visão a imagem de Mu de Áries aplicando a sua maior técnica, a Extinção Estelar, no Cavaleiro de Pégaso e, assim, extinguindo sua vida numa fração de segundos. Aquilo não fazia o menor sentido.
- Mestre Mu!? Por favor, me diga o que está acontecendo? Por que... - Satine deixou as sombras da encosta lateral e cortou a distância até o Cavaleiro de Áries, seu mestre, em um único salto. Sua presença era imponente, até mesmo para uma Amazona, em sua Armadura de Prata, com entalhes em lilás, a mesma cor de suas vestes, que resplandecia o brilho das estrelas, bem como seus longos cabelos azul-claros, que pareciam pontilhados por elas - O Seiya está.... - e foi estão que seus olhos se acostumaram a parca claridade e avistaram outras duas figuras em armaduras roxas, que lembravam as armaduras que usavam em vida, fazendo com que as palavras morressem. O coração deu um salto, sem conseguir desviar sua atenção deles.
- Afrodite!? Máscara da Morte!? Como vocês... Por que estão usando essas armaduras!?
- Garota idiota! - Máscara da Morte foi o primeiro a se manifestar - Não são armaduras. São Sapuris que ganhamos ao jurar fidelidade ao Imperador Hades.
- Vá embora, Satine! - disse Mu, sem olhar para ela - Ou você terá o mesmo destino de Seiya!
Satine voltou sua atenção para o mestre, os olhos arregalados, tanto pela presença dos Cavaleiros mortos em batalha quanto pelas palavras dele. Satine era uma jovem Amazona, alta e esguia, de cabelos longos como os de seu irmão mais velho, porém de um azul tão claro que parecia refletir o brilho das estrelas e, que lembravam aos do próprio Afrodite parado a distância. Seu porte era altivo e os traços delicados, os olhos intensos, um turquesa e o outro violeta, e quem a visse jamais poderia imaginar do que seu Cosmo era capaz.
- Deixe-a ficar, Mu - interrompeu Afrodite e estendeu uma rosa branca para ela, fazendo uma breve reverência, antes de lança-la — Teríamos uma das lutas mais belas que o Santuário já presenciou. Afrodite de Peixe e Satine de Taça, uma luta graciosa para dizer o mínimo.
- Não temos tempo para gracinhas. Mate-a de uma vez, Afrodite! - Máscara da Morte começou a andar na direção da Amazona.
- Me enfrente, você, Máscara da Morte! Ou tem medo de enfrentar uma Amazona de Prata? - ela se posicionou para o combate, sem esboçar qualquer mudança em seus traços. O olhar atento passando de Afrodite para Máscara da Morte, a rosa branca repousando junto a seus pés.
- Humpf! Medo de você, queridinha? Você se esqueceu do que sou capaz?
- Ela não é nossa prioridade, Máscara da Morte! - intrometeu-se Afrodite, uma rosa vermelha entre seus lábios - Não é, Mu de Áries?
- Mu, o que está acontecendo? - Satine usou a telepatia para falar com seu mestre.
- Eu lhe imploro, vá embora! Essa luta não é sua - a resposta de Mu chegou em pensamento apenas para ela - Atenda ao meu pedido pelo menos dessa vez.
- Não sou mais uma garotinha, mestre! Por favor, permita-me lutar ao seu lado.
- Satine, você honra os ensinamentos de seu mestre, mas... O inimigo é forte demais e preciso que alguém sobreviva para continuar o legado dos Cavaleiros de Atena.
- Mestre!? - os olhos de Satine ficaram turvos. Mu a estava protegendo não apenas por ser seu mestre, mas também depositava a confiança de um futuro nela.
- Ondas do Inferno! - Satine sentiu a aproximação de Máscara da Morte tarde demais. As ondas do Sekishiki a atingiram em cheio e nem a sua capacidade psicocinética impediu que fosse lançada no Mundo dos Mortos. Poucos Cavaleiros conseguiriam vencê-la neste quesito e o Cavaleiro de Câncer era um deles.
A jovem Amazona de Prata sentiu o choque contra a pedra fria e foi tomada por uma onda de náusea ao abrir os olhos e se deparar com uma paisagem inóspita e sem cor, exceto pelas chamas verdes que tremulavam junto as inúmeras filas de mortos que se dirigiam ao Yomotsu. Satine respirou fundo e obrigou-se a ficar em pé, apesar da tontura. O lugar não apenas tentava drenar sua energia, como também sua esperança. Passou os olhos pelas fileiras intermináveis, como que a procura de algo, as mãos tremendo sem saber se por causa do frio que se instalara em sua alma ou pela preocupação.
- Satine, o que você está fazendo no Mundo dos Mortos? - uma voz conhecida tocou sua mente - Não acredito que sua hora tenha chegado.
- Shaka!? Como você sabia... Ah, é claro que você saberia - respondeu ela, o tom deferente na voz.
- Se tem alguém capaz de superar o Sekishiki, sempre acreditei que poderia ser você - continuou ele em tom benevolente, o que a surpreendeu.
- Máscara da Morte me pegou desprevenida, mas admito, essa não é toda a verdade - ponderou ela, fechando os olhos por um momento - Eu me deixei ser atingida pelas Ondas do Inferno - sem poder ver o Cavaleiro de Virgem, que falava direto com sua mente, passou vasculhar as filas com atenção.
- Você está me dizendo que foi até o Mundo dos Mortos de propósito!?
Satine adoraria ter visto a expressão de Shaka naquele momento.
- Precisava ter certeza de que uma pessoa não estava aqui. Então...
- E você já tirou sua dúvida?
- Sim, não vejo o Pégaso por aqui, mas...
Satine teve a impressão de vislumbrar uma aura dourada, embora não conseguisse distingui-la da distância que estava.
- Então volte para o Santuário, antes que seja tarde demais.
- Você não se opõe que eu lute?
- No momento estou mais preocupado em como você fará para retornar ao Mundo Vivos - Satine tentou captar alguma coisa no tom de voz de Shaka, mas não havia nada.
- Bem, não pensei nisso naquela hora.
- É o que parece - ela teve a impressão de escutar um riso nas palavras dele - Quanto a luta, tenho certeza que nem mesmo o Tesouro do Céu a impediria de participar dessa batalha - e dessa vez um um sorriso genuíno se formou no rosto de Shaka sem que nem ao menos ele percebesse - Precisa de ajuda para sair desse lugar?
- Obrigada, Shaka! Acredito ser capaz de me livrar desse lugar sozinha. Agora, uma ajudinha com Mu não seria ruim.
- Não se preocupe com Mu. Ele está apenas tentando protegê-la como qualquer mestre faria. Mas, se você quiser retornar a vida... Faça-o... AGORA!
- Preferia que você não precisasse lutar nas batalhas dessa última Guerra Santa. Eu a protegeria se pudesse, mas essa luta não é apenas minha - Satine não chegou a escutar as últimas palavras do Cavaleiro de Virgem, que se perderam no caminho de volta.
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As Chamas do Cosmo Nunca se Apagam
FanfictionSatine de Taça, a primeira a usar a lendária Armadura de Prata de Taça desde a última Guerra Santa contra Hades, há duzentos e quarenta e três anos, era uma garotinha comum, até perder tudo e ser levada por seu irmão mais velho, Camus, Cavaleiro esc...