As Chamas do Cosmo Nunca se Apagam

A Descida ao Inferno

 Dohko ainda podia ver o resquício do Cosmo de Shion girando, como partículas de luz a sua volta, mesmo que já não estivesse mais ali. Ele se despedira do antigo amigo quando os primeiros raios de sol surgiram no Santuário e, então, seguira até o Inferno, na companhia de Kanon.

Em pouco tempo, eles chegaram a entrada do Castelo de Hades. As diversas partes de Sapuris espalhadas pelo piso indicavam que uma dura batalha havia sido travada no lugar, mas foi a figura dourada, sentada sobre as próprias pernas, à beira de um fosso do qual labaredas verdes ascendiam, segurando o Rosário de Shaka contra o peito, que desestruturou o Cavaleiro de Libra. Ele fez um sinal a Kanon, pedindo que esperasse e foi em direção a ela.

- Satine! - chamou Dohko, aproximando-se com cautela, mas não houve resposta. Satine - chamou outra vez, deixando que seu Cosmo expandisse até ela.

- Mestre Ancião!? - disse ela, sem se virar, reconhecendo o Cosmo, que lhe era familiar desde quando fora pela primeira vez aos Cinco Picos de Rozan. O Cosmo a abraçara como um velho amigo e a despertara do torpor que se apossara de sua alma.

- É um alívio encontrá-la, minha querida Satine - o Cavaleiro de Libra parou as costas dela - Mas o que faz aqui?

Então ela virou o rosto na direção dele, os olhos apagados, quase irreconhecíveis. A pele havia desbotado e o vermelho dos lábios havia dado lugar a uma tonalidade de azul. As mãos estavam trêmulas e suavam frio.

- Oh! - disse ela ao ver pela primeira vez o Cavaleiro de Libra em sua verdadeira forma e trajando sua armadura dourada.

Dohko estendeu a mão para ela. Satine hesitou antes de aceitá-la, mas a segurou firme, o calor do Cavaleiro emanando para ela. Seu corpo havia congelado quando a esperança a abandonara, assim como o seu coração. Ela estava em choque, mas seu amigo chegara a tempo.

- Mestre Shion pediu que eu viesse atrás dos Cavaleiros de Bronze, mas quando cheguei aqui... Eles estão mortos, Mestre! - ela cuspiu as palavras - Todos eles.

- Por favor, acalme-se, Satine! - pediu Dohko, apoiando as mãos nos ombros dela - Agora me explique o que aconteceu? Quem está morto?

- Aioria, Mu, Miro... Os três caíram no abismo - disse ela, sem conseguir encarar Dohko - Quando cheguei aqui encontrei Radamanthys e, ele... - ela levou as mãos aos olhos, como se pudesse apagar a lembrança - Ele soltou Aioria lá embaixo.

- Satine - foi tudo que o Mestre Ancião conseguiu dizer, enquanto as lágrimas surgiam em seus olhos.

- Não cheguei a encontrar Mu ou Miro, mas senti o Cosmo deles desaparecendo - ela quase se afogou com a própria ar - Eu não cheguei a tempo!

- Ah, minha doce Satine - Dohko segurou o rosto dela, obrigando-a a olhar para ele - Não foi sua culpa. Não havia nada que você pudesse ter feito. O Castelo está cercado pela Barreira de Hades e nem mesmo os Cavaleiros de Ouro são capazes de usar mais do que uma pequena parcela de seu Cosmo aqui dentro.

- Como!?

- É isso mesmo - Kanon revelou sua presença, falando pela primeira vez - Somos praticamente inúteis aqui por causa dessa barreira. Agora, se vocês não se importam... Vou abrir as portas do Inferno! - O Cavaleiro de Gêmeos fez um aceno e sumiu através de uma abertura.

- Escute o que vou dizer, Satine - Dohko observou o estado em que ela se encontrava - Se você enfrentou um dos Juízes do Inferno e sobreviveu... E, acredito que estou certo quanto a isso. Você é capaz de usar boa parte, senão todo o seu Cosmo, e pode acabar com todos eles. Agora, deixe toda essa tristeza para trás e vamos atrás dos Cavaleiros de Bronze.