Satine sentiu a luz do sol aquecer seu rosto mesmo antes de abrir os olhos. Ela deixou que o calor se espalhasse por cada célula de seu corpo congelado pelo frio do submundo e a tristeza de tantas vidas perdidas, as que lhe eram mais queridas. Era como se a vida tivesse voltado a fluir por suas veias, despertando tudo que estava adormecido.
As pálpebras se abriram, permitindo-a observar a luminosidade, que irradiava pelos olhos turquesa e violeta, ainda carregados de pesar. A pedra estava fria sob suas costas, as colunas ao lado dela se estendiam até o alto, onde suportavam a entrada da Casa de Touro, a sua Casa do Zodíaco.
A Armadura de Prata de Taça rangeu quando ela se sentou e apoiou as pernas nos primeiros degraus da escadaria e seus pés sentiram o terreno firme pela primeira vez, desde os Elísios. As asas haviam desaparecido, mas ela sentia que ainda era capaz de voar.
- Casa - pensou ela - Ainda assim...
O coração de Satine apertou, quando apesar da familiaridade do lugar, ela sentiu o vazio que se estendia pelas Doze Casas. O Santuário havia resistido a batalha contra Hades, seus Cavaleiros Guardiões, exceto por ela, não.
Tomada pela exaustão, Satine se deixou afundar contra o mármore frio sob ela, que era a única coisa que impedia que desmoronasse. O Santuário que sempre fora um lar para ela, só o tinha sido, porque ali também viviam as pessoas que ela amava. Mas agora, não restava mais nada. Todos haviam partido.
- Satine!? Você não está sozinha - um Cosmo caloroso chegou até ela, tocando seus pensamentos e o seu coração ferido.
- Atena!?
Satine mirou o teto acima dela. Seu corpo jazia imóvel sobre o piso, preso numa espécie de torpor pós batalha.
- Estamos aguardando por você - prosseguiu Atena - Venha ao nosso encontro quando estiver pronta.
Os olhos de Satine se fecharam por um instante. Por mais que tivesse perdido Aioria, o amor de sua existência, seu mestre e tantos amigos, se Atena estava viva, eles haviam cumprido seu destino e ela, com a promessa que fizera aos Cavaleiros de Ouro, sua família.
A Amazona quase saltou, quando uma luz atravessou a Casa de Touro e materializou a forma de um touro alado dourado, que pairava acima dela. As asas enormes que adornavam as costas da Armadura de Touro pareciam ter luz própria, como se fossem compostas pelo pó dourado das estrelas.
- Então essa é a Armadura Divina de Touro? - gemeu Satine - Ela retornou para casa em segurança. Como é possível? Ela foi completamente destruída nos Elísios.
Satine não era mais apenas a guardiã da Armadura de Taça, divina ou não, mas também fora escolhida pela Armadura de Ouro, para perpetuar o legado dos Cavaleiros de Ouro. Assim como também era regida pelas duas Constelações, que decidiriam qual era o seu destino.
Assim que suas pernas permitiram, Satine percorreu as Casas da Santuário, até chegar a quinta Casa Zodiacal. Ela parou no patamar, antes do último lance de escadas, e observou os Leões que guardavam a passagem, um de cada lado, a edificação de mármore a sua frente, com suas colunas majestosas e o símbolo do signo de Leão no topo da fachada. Tantas lembranças passaram por sua memória, que ela poderia se perder no tempo. Aquela não era apenas a Casa de Aioria, o Cavaleiro de Leão, ela era uma extensão da sua própria. Ela passara quase toda a sua vida no Santuário e aquele era um dos lugares em que fora mais feliz.
Os pés se moveram hesitantes em direção ao interior da construção. Por um ínfimo instante, Satine chegou a pensar que encontraria Aioria ali, esperando por ela, mas tudo com que ela se deparou foi o vazio. O Cosmo do Cavaleiro de Leão havia desaparecido. Não havia qualquer resquício dele naquelas paredes, apenas a lembrança de que um dia ele fora o guardião daquela casa e das batalhas que aconteceram ali.
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As Chamas do Cosmo Nunca se Apagam
FanfictionSatine de Taça, a primeira a usar a lendária Armadura de Prata de Taça desde a última Guerra Santa contra Hades, há duzentos e quarenta e três anos, era uma garotinha comum, até perder tudo e ser levada por seu irmão mais velho, Camus, Cavaleiro esc...