O Abismo das Chamas Verdes

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 O Castelo de Hades surgiu a sua frente, imponente, no alto de uma colina rochosa. Satine procurou a sua volta pelos outros Cavaleiros, mas constatou que estava sozinha, no sopé da entrada para o Inferno. Ela observou a subida íngrime, quase vertical, que a esperava e respirou fundo. Aquele era o caminho para a maioria dos Cavaleiros até os domínios do Imperador do Inferno, mas talvez houvesse uma outra possibilidade. Satine expandiu a mente, sentindo todas as proteções que envolviam o lugar. Seu Cosmo tremeluziu quando tocou a Barreira de Hades, como se uma corrente elétrica a tivesse transpassado e depois desaparecido. Ela atravessou a membrana invisível com a mente e, então, estendeu o braço, penetrando o espaço protegido, antes de desaparecer.

Satine se transportou para o topo. Seus pés tocaram a superfície firme e o que ela viu fez seu sangue gelar. Um Espectro de Hades, não, ele era mais do que isso. A Sapuris era muito mais elaborada, percebeu Satine, que via o inimigo de costas. Aquele só poderia ser um dos Três Juízes do Inferno. Mas não fora isso que paralisara seu corpo e congelara sua alma. Ela sentira os Cosmos de Mu e Miro desaparecerem, enquanto Aioria estava suspenso na beira do fosso de chamas verdes, lutando para se libertar do adversário, que o segurava pelo pescoço.

Como se sentisse a presença de Satine, o rosto do Cavaleiro de Leão se voltou para ela e seus olhos se encontram apenas por um instante.

- Não! - ela teve a impressão de escutar o grito sair de sua própria garganta e voou até Aioria.

Mesmo para quem é capaz de se deslocar a velocidade da luz, cada instante pode levar uma eternidade, quando tudo depende disso. Antes de se aproximar, Satine foi arremessada para longe e colidiu contra alguma estrutura, talvez uma parede. Ao se levantar, viu um dos braços do Espectro erguido na sua direção. O outro, que segurava Aioria, o largou em direção ao abismo.

Satine correu contra o tempo e próprio medo e se atirou na borda do fosso. Seus dedos chegaram a tocar as pontas dos de Aioria, mas ele estava a caminho do Mundo dos Mortos, sem que ela pudesse impedir que eles escorregasse para longe de seu alcance.

- Aioria! - Satine gritou e seu desespero reverberou pelo abismo. As Chamas verdes refletiram e ela teve um último vislumbre dos olhos azuis do Cavaleiro de Leão, que logo desapareceram no vazio, para o qual ela mantinha o braço estendido, como se pudesse agarrar algo que não estava mais lá.

- Essa é a entrada para o Cocytus, o Inferno para qual aqueles que desafiam os deuses são enviados - disse uma voz atrás dela - Nem mesmo um Cavaleiro de Ouro seria capaz de resistir a queda. Deve ser doloroso cair no precipício e saber que não há esperança.

Satine, ainda deitada à beira do fosso, tão imersa na própria dor que tinha se esquecido da presença do Espectro, girou a cabeça para trás.

- Quem é você? - perguntou ela, buscando se recompor. Então saltou, assumindo uma postura imponente em frente ao seu adversário. Agora que podia vê-lo de frente, tinha certeza que ele era um dos Juízes de Hades, com sua Sapuris roxa e enormes asas de dragão.

- Eu sou Radamanthys de Wyvern, a Estrela Celeste da Fúria e um dos Três Juízes do Inferno - ele se aproximou dela - E logo você se juntará aos seus amigos no Cocytus, Amazona de Touro.

- Bem, você pode tentar - Satine se posicionou para o combate e, ao faze-lo, seu olhar foi atraído, de relance, para um objeto tombado a beira do precipício, que a separava do Inferno de de seus amigos. As contas reluziam, embora parte delas tivessem assumido o negrume inconfundível dos Espectros do Submundo. Aquele era o Rosário de Shaka, o símbolo da vida e da morte para as Cento e Oito Estrelas Malignas. E só havia uma explicação para estar ali: havia caído junto com seu portador, Mu de Áries - Conseguir é outra história.

As Chamas do Cosmo Nunca se ApagamOnde histórias criam vida. Descubra agora