Capítulo 04

2.1K 96 3
                                    

Marcola 🌪️

Raiana: Onde você estava, Marco Antônio? - revirei os olhos ao ouvir sua voz irritante.

Fechei a porta e coloquei as mãos na cintura encarando ela com cara de deboche.

Marcola: Desde quando eu te devo satisfação da minha vida?

Raiana: Desde quando eu virei sua fiel. - cruzou os braços.

Marcola: E que dia foi isso? Nunca nem vi. - revirou os olhos.

Raiana: Você ainda vai pagar caro por todo esse desprezo, seu.. filho da mãe! Estava com mulher? Até essa hora, né, devia estar mesmo.

Marcola: Eu não sei se você está sabendo, surtadinha, que teve uma invasão no morro. Tu tá ligada que só volto para casa quando tudo tiver em ordem. - bufou. - E quem te deixou entrar aqui? Tu não tem a chave.

Raiana: Tenho sim. - levantei uma sobrancelha. - Eu peguei a sua e mandei fazer uma cópia.

Marcola: Ai, meu Deus. Isso só pode ser castigo. - falei olhando para o teto.

Raiana: Você nunca me deu uma, então resolvi fazer a minha.

Marcola: Eu nunca te dei porque você não é nada pra mim. - falei alto e ela se assustou. - Vai embora.

Raiana: Marco.. - não deixei ela terminar.

Marcola: Eu disse para ir embora! - bati a mão na mesa e vi ela engolir o seco.

Não deu dois segundos e ela passou com o rabo entre as pernas ao meu lado e saiu da minha casa.

Só tem nega emocionada e surtada nessa favela, puta que me pariu.

Caminhei direto para o meu quarto e tirei minha roupa, que estava toda suja. Entrei no box do banheiro e tomei um banho rápido. Tava cansando pra caralho, então só comi um pão antes de cair na cama.

••••••••••••••••

Paraguai: Aê, tá ligado no Guiné? - se aproximou com uns papéis na mão.

Marcola: Dono do Lins? - ele assentiu. - O que o puto aprontou?

Paraguai: Corrida de carro lá na ZO. - mostrou algumas fotos. - Igualzinho aos velhos tempos. - eu ri.

Rian é a única família que tenho. Nunca tive pai, nem mãe, somente uma tia que me criou com muito sacrifício. Depois que ela morreu e os pais do Paraguai também, não sabíamos o que fazer.

Já teve dia que passávamos fome e não tínhamos pra onde ir. Foi aí que entramos para essa vida. Claro que não é a mais certa e nem a mais honesta, mas temos comida na mesa todo santo dia.

Marcola: Oh, tempo bom. - ele riu.

Paraguai: Pena que agora só servem para tráfico de mulheres. - o encarei.

Marcola: Papo reto? - assentiu. - Puta merda.

Paraguai: Tito já tá sabendo e pelo que vi hoje, ele vai acabar com isso o mais rápido possível.

Marcola: É o certo. - ele concordou.

Não sou nenhum príncipe e estou muito longe de ser, mas isso era demais. Mulher nenhuma merece passar por tal covardia e quem faz isso, deveria tomar madeira no cu até sair pela boca.

K4: E aí. - falou e se aproximou. - Qual foi o bagulho daquelas minas de ontem?

Paraguai: Pra que tu quer saber? - cruzou os braços e ele deu de ombros.

K4: Não sou cego, né? As minas são mó gatas e vocês ficaram interessados. Pegaram o contato?

Marcola: Vai trabalhar, vagabundo, é o melhor que tu faz. - ele fez careta.

K4: Já terminei o que tinha pra fazer.

Paraguai: Então arruma outra coisa pra fazer. Trabalho aqui é o que não falta. - ele empurrou de leve o K4 e saiu da boca.

K4: O que deu nele?

Marcola: Cuida da tua vida. - me virei de costas para ele.

K4: Eu hein, grosso.

Marcola: E grande. - revirou os olhos e ri.

•••••••••••••••

O juiz apitou final no jogo e me sentei no banco ao lado do Paraguai. Estava morto, mas ganhamos o jogo, isso é bom. Os moleques do Jacarezinho não são bons o suficiente para nos ganhar.

Quase me afoguei de tanta água que bebi e o Paraguai riu.

Paraguai: Vai com calma, porra.

Marcola: Sede.

Paraguai: Isso eu percebi. - riu mais.

Tirei a camisa e enxuguei o suor com ela. Levantei meu olhar e custei acreditar no que eu estava vendo.

As duas patricinhas estavam vindo na nossa direção.

As duas vinham cheias de moral, vestidas com roupas de grife e salto alto. Estavam bem maquiadas e de cabelo feito. Isso só pode ser uma miragem.

Paraguai: Isso só pode ser um sonho.

Marcola: Ou pesadelo. - bebi mais um gole de água.

Gabi: Boa tarde. - sorriu falso.

Paraguai: O que querem? - cruzou os braços.

A loira respirou fundo e nos encarou.

Gabi: Preciso urgentemente entrar novamente naquela casa ou naquele quartinho ou revirar esse morro todo. - levantei uma sobrancelha. - Minha amiga, Serena, perdeu a pulseira dela que é muito importante para ela.

Serena: Foi mia nonna que me deu. - falou embolado e a olhei sem entender. - Preciso dela, não tem valor nenhum em dinheiro, mas sim sentimental.

Paraguai: Fiquem a vontade, mas já adianto que não vão encontrar.

Serena: Como assim?

Marcola: Conhece o ditado "achado não é roubado", italiana? - ela negou com a cabeça. - Pois agora você vai conhecer.

Gabi: Viu, Sê, eu te falei. - olhou para a ruiva.

Serena: Mas eu tenho que tentar, Gabi, é a única lembrança que tenho da minha nonna. - a loira suspirou.

Gabi: Podem nos levar lá? - neguei com a cabeça e o Rian suspirou.

Paraguai: Eu levo. - se levantou.

Serena: Grazie.

Os três saíram da quadra e quando já estavam bem longe, abri minha carteira e tirei uma pulseira com o nome da ruiva.

Havia encontrado no chão perto do quartinho onde elas estavam. Qual o motivo de não ter devolvido agora? Não sei, mas acredito que logo iria descobrir a resposta.

E eu estava certo.

____________

Sintonia Onde histórias criam vida. Descubra agora