Capítulo 01

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Gabriela 🌺

Terminei de embrulhar o presente e entreguei a madame. Ela sorriu fraco e deixou as notas de dinheiro no balcão, perto do caixa. Fui até lá e recolhi colocando junto com as outras notas.

Simone: Gabriela, eu preciso que fique até mais tarde e feche a loja hoje. - disse a minha chefe.

Estava de costas para ela e revirei os olhos, mas quando a olhei sorri fraco.

Gabi: Claro. - respondi. - Sem problemas.

Simone: Meu filho.. se meteu em outra briga na escola. - suspirou e se encostou no balcão. - Não sei mais o que faço com aquele menino. O pai dele então, nem liga mais para a criança. - suspirou.

Gabi: Muito difícil. - ela assentiu.

Algumas mulheres ricas entraram na loja e a Simone correu para atender. Ótimo, só assim tenho folga e fico longe da arrogância dessas peruas.

O ruim de fazer parte dessa sociedade de pessoas ricas, é que você tem que ser gentil com essas pessoas, mesmo elas não sendo com você. Minha mãe que me ensinou isso e sempre agi assim, com quem merece é claro.

Meus pais sempre foram muito conservadores e fazem parte de uma família tradicional. Meu pai é advogado e tem uma empresa. Ele sempre quis que eu seguisse o mesmo rumo que ele, mas nunca tive vontade, na verdade, tenho preguiça de tudo relacionado ao trabalho dele.

Aliás, da minha família inteira. Todos são metidos a ricos esnobes e eles são. Meu padrinho, irmão do meu pai, é comandante do BOPE, meu avô era advogado também e minha avó uma remomada arquiteta. Meus primos seguem a mesma linhagem, apenas eu que não. A tal da ovelha negra da família Castro.

Achei que seria pior sua reação quando soube que não iria cursar direito, a única coisa que recebi foi um olhar de desprezo (que já esperava) e um "Sabia que tinha gastado todo aquele dinheiro com seus estudos atoa."

Sinceramente? Nem fiquei tão magoada, meu pai nunca foi tão presente, vivia trabalhando e viajando por todos os lugares do mundo. Ele me tirou do testamento, mas mostrei para ele que consigo sobreviver sem a grana dele.

Trabalho e tenho um apartamento bem bom. Claro que a minha amiga, a Serena, me ajuda nas despesas, mas não deixo ela cobrir tudo.

E tem a minha mãe, que é só a minha mãe. Meu pai até hoje a culpa por não ter lhe dado um filho homem, um herdeiro para seu império. Houve um problema no meu parto e ela não conseguiu mais engravidar. Mas acho essa fala dele tão.. coisa de homem idiota que não entende nenhum pouco de biologia e como funciona a natureza do ser humano.

Simone: Garota? - me encarou e sai dos pensamentos. - Levanta daí e vai atender as outras clientes. - suspirei.

Se eu não recebesse tão bem, eu já teria ido embora daqui.

Coloquei o meu sorriso mais falso no rosto e fui na direção das dondocas.

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Serena: La mia principessa. - chamou minha atenção e a encarei. - Porque está tão triste? - perguntou com seu maravilhoso sotaque italiano e ri.

Fofo ela tentando falar perfeitamente nossa língua.

Serena é Italina e sua família é bastante tradicional. Nos conhecemos em um dos intercâmbios que fui e foi tão maravilhoso ter ela comigo. Ela veio ao Brasil apenas para uma visita, mas acabou se apaixonando e já está morando a quase um ano e meio aqui.

Ela se formou em direito e hoje trabalha na empresa do meu pai. Apesar de não ter mais uma boa relação com ele, super apoiei minha amiga, esse era o sonho dela e admito que a empresa do Dr. Hernando Castro é uma das melhores do país.

Gabi: Não estou triste. - coloquei uma colher de arroz na boca. - Só não aguento mais essa vida de trabalho. - ela riu.

Estávamos na hora do almoço. A empresa não fica tão longe do meu trabalho então sempre que podíamos, almoçamos juntas.

Serena: Bem, você poderia procurar um emprego que gosta muito. Você ama desenhar, Gabi, e são maravilhosas suas obras.

Gabi: Isso é só um hobby, nunca.. pensei em levar isso para frente. - bebi um pouco do suco. - Mas enfim, o que vamos fazer para se divertir no final de semana?

Serena: Escutei a secretária da tuo padre falar que vai ter um lual na praia sábado. - fiz careta.

Gabi: Estava pensando em outra coisita mais apimentada. - levantou a sobrancelha. - Você vai gostar. - sorri.

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Serena: No, no, no! Não acredito que me arrastou até aqui. - cruzou os braços e sai do táxi. - Gabriela, volta aqui!

Encarei a entrada e sorri. Estava tudo lindo, cheio de movimento e muita gente animada. Serena ficou ao meu lado e peguei em sua mão.

Serena: Sempre escutei umas coisas ruins daqui.

Gabi: São só... boatos. - ela negou com a cabeça.

Serena: Gabriela, vamos embora. Não é bom estarmos aqui. Olha para nossos rostos, a cara da burguesia.

Gabi: Fica tranquila, Serena. Eles não vão mexer com a gente. - ela apertou minha mão e tentei passar confiança, mesmo não estando totalmente segura. - Vamos? - ela mordeu o lábio e negou com a cabeça.

Serena: Porque tenho a sensação de que nossas vidas não será mais a mesma depois de entrarmos? - dei de ombros.

Porque realmente não seria.

E tenho a plena certeza, que se eu tivesse outra chance, eu faria exatamente a mesma coisa.

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