Paraguai 🍁
Me encostei na parede e cruzei os braços, parei para observar os menores que querem entrar para o crime atirar. Marcola estava supervisionando eles com o MV.
Neguei com a cabeça quando vi que uns estavam segurando a arma do errado, uns atiraram errado no alvo e outros não sabiam nem destravar a arma.
Mas havia um ali que se destacou. Destravou bem a arma, mirou e atirou no alvo. E fez isso até acabarem as balas.
Ele parecia comigo e devia ter a mesma idade que a minha quando entrei, se não, ele mais mais velho pouca coisa. A aparência dele também me lembrava. Alto, magro e já tinha tatuagens pelo corpo.
MV: Patrão. - me encarou.
Os meninos escutaram e na hora me encararam com medo, somente aquele moleque me cumprimentou com um aceno de cabeça. Olhei para ele e fiz o mesmo gesto.
Marcola: Voltem ao trabalho. - ordenou e os moleques pararam de me olhar, voltando a atitar. - Tá fazendo o que por aqui? - se aproximou de mim.
Paraguai: Apenas quero conhecer os novos recrutas. - continuei na mesma pose e ele suspirou. - Esses foram os melhores que encontrou?
Marcola: Ninguém está querendo mais entrar pra essa vida, Paraguai, se liga. Os tempos mudaram e os moleques estão com a cabeça diferente. A maioria quer tentar na música, no futebol ou ir pra outras cidades pra trabalhar.
Paraguai: E estão certos. - ele negou com a cabeça.
Marcola: Estamos ficando sem força. A maioria dos caras estão querendo se aposentar ou meter o pé do bagulho.
Paraguai: Ninguém vai meter o pé, todos sabem que só saem em saco preto.
Marcola: É, alguns ainda sabem disso, mas você afrouxou. - o olhei. - Pegou leve com alguns que quiseram sair e agora todos estão achando que será assim com eles. - desviei o olhar para melhor recruta que tinha.
Paraguai: Quem é o menor? - perguntei e ele olhou também para o menino.
Marcola: Rafael Gomes, tem 17 anos, vulgo RF. - me olhou, mas não o olhei. - O pai abandou e a mãe tá doente... com câncer. O menor quer entrar no intuito de pagar um tratamento pra ela.
Paraguai: Ele tá dentro. - negou com a cabeça e riu.
Marcola: Ainda falta mais algumas fases, Paraguai, temos que ver que o menor resiste.
Paraguai: Ele está dentro, Marco. - o encarei.
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Sai e tranquei minha salinha. Estavam ali apenas os menores que fazem a vigia da noite e os que fazem o trabalho noturno. Cumprimentei eles e sai da boca.
Fui descendo o morro andando mesmo, até escutar alguém me chamar.
RF: Paraguai. - virei para trás e encarei o moleque. - Posso falar com o senhor? - ri.
Paraguai: Senhor tá no céu, pivete. Me chama de Paraguai mesmo. - ele assentiu. - Solta o verbo.
RF: Porque eu já estou dentro? Nem passei para a segunda fase, os outros moleques ainda estão lá. - suspirei.
Me sentei na calçada da casa de algum morador e chamei ele para sentar também.
Paraguai: Eu sei o que tá acontecendo contigo, na tua vida. - ele engoliu o seco e olhou para o chão. - Tua força de vontade te fez se destacar em meio aos outros.
RF: Não tive muita escolha.
Paraguai: Nem eu, pivete. Eu tinha tua idade quando entrei e também foi por necessidade, entendo bem o que tu tá passando. A vida nem sempre vai ser boa contigo, ela vai te dar umas rasteiras, mas tu é quem vai se decidir se vai querer permanecer no chão ou se reerguer. O que tu quer fazer pela tua mãe é foda e o cara lá de cima vai te recompensar.
RF: Eu.. queria que ela tivesse orgulho de mim. Tentei procurar um trabalho honesto, mas todo mundo virou a cara pra mim. - ele me olhou. - Tô ligado que não vai ter mais como eu sair, mas é para o bem dela.
Paraguai: Fica mec, de quiser ir depois e conseguir algo melhor, eu te libero. - me olhou surpreso.
RF: É sério? Caralho, Paraguai. - sorriu e ri também.
Paraguai: Mas não comenta isso com ninguém, beleza? Fica só entre nós. - ele assentiu.
RF: Valeu, pô. Agora entendi o motivo de tu ser amado pelo morro. Tu é pica, porra.
Paraguai: Eu tento. - riu. - Agora vai pra casa, vai. Tá tarde pra tu ficar andando pela rua.
RF: Ih, qual foi? Daqui a alguns meses já vou ser maior de idade. - me levantei.
Paraguai: Mas ainda não é. - puxei ele pelo braço. - Mete o pé, rapa. - empurrei ele de leve e riu.
RF: Valeu, Paraguai. Isso vai significar muito pra mim.
Paraguai: Que nada, moleque. Já tive na sua pele. - balançou a cabeça. - Tu ainda estuda?
RF: Tô no segundo ano, atrasei uma série, mas depois que começar o trabalho, eu vou parar de ir. - neguei com a cabeça. - Ué, não vou ter tempo pra estudar.
Paraguai: Mas vai terminar os estudos. Eu não terminei, nem o Marcola e não desejo isso pra ninguém. A gente organiza, tu estuda de manhã e trabalha a tarde, pra tudo tem um jeito, mas tu vai terminar.
RF: Beleza então.
Paraguai: E só quero nota boa, hein.
RF: Ai já é demais, Paraguai.
Paraguai: Não estou pedindo nenhum sacrifício. - ele suspirou fundo. - Fé!
RF: Fé!
Me virei de costas e segui meu rumo até minha humilde residência.
Não sei o motivo, mas senti necessidade em ajudar esse garoto. Eu me vi nele, naquele olhar perdido e na angústia de não saber o que fazer.
Porra, eu sou o dono desse morro, tenho que dar suporte a todos. E não seria diferente com esse moleque.
E mal sabia eu, que mais tarde, viraria um ótimo aliado.
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Rafael Gomes
17 anos
Vulgo: RF
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Sintonia
RomanceSerá que os opostos se atraem, ou apenas os dispostos se ligam? Gabriela é uma mulher que mora na Zona Sul do RJ, junto com sua amiga, Serena, vão para um baile apenas para se divertirem. Porém, mal elas sabiam que suas vidas iriam mudar a partir de...