XIII- eu acho que te amo

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Aviso de gatilho: claustrofobia

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Já havia passado longos minutos que o paulista estava ali, apenas curtindo seu momento a sós consigo mesmo e volume do fone no talo, quando decidiu que já podia sair de sua bolha de auto-exclusão. Ricardo deveria ter desistido de procurar por si e provavelmente estava virando cambalhotas e gritando por aí com sua voz estridente. Sandro riu com o pensamento.

Porém, suas risadas internas foram cessadas quando tentou abrir a porta da cabine.

Girou a chave e empurrou a porta normalmente, nada. Tentou de novo, nada. Tentou novamente, agora com mais força usando seus ombros, nada.

Seu coração errou uma batida mas o sudestino parou e respirou fundo, bem fundo. Está tudo bem, a porta só tá emperrada e com um pouquinho de força vai conseguir abrir..é só ter calma.

Dessa vez, usou grande força no seu ombro para empurrar aquela maldita porta, mas, não aconteceu nada, apenas o barulho causado pela sua ação agressiva e a respiração ofegante do moreno.

"Não, não, não, não.." Era o que passava na mente conturbada de Sandro. Os sintomas de uma já antiga experiência traumática estavam vindo a tona, e ele não estava conseguindo segurar. Se sentia fraco, mais uma vez.

De repente, aquela cabine que era considerada até que espaçosa começou a ficar muito apertada..muito pequena na visão do paulista.

Sentia seu suor escorrer pela testa e agora sua visão já não era das melhores. Aquela sala estava girando e girando..o espaço é tão pequeno..sentia que iria ser prensado pelas paredes a qualquer momento.

"Mulher maldita..me deixou sequelas que nunca vou conseguir deixar pra trás.."

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Flashback, visão de Sandro.

- Quando você vai fazer isso direito, Sandro?! - dizia sua mãe, enquanto observava o garoto com seus doze anos treinar exaustivamente alguns golpes do Jiu-Jitsu, coisa que fazia com extrema maestria, mas que parecia nunca ser o suficiente para a mais velha. - Quer saber? Se você vai ficar com esse corpo mole aí eu prefiro que você não faça nada!

A mulher disse, pegando o pequeno pelo braço e o levando até o banheiro. O paulista não a questionava em momento algum, muito menos se opunha contra ela. A conhecia muito bem e sabia que seria pior se fizesse isso.

Sandro sempre foi muito obediente. O problema era sua mãe, uma mulher narcisista que queria fazer do filho tudo o que nunca foi. Fazia de seu filho seu objeto, seu robô.

Por causa disso o paulista sempre foi muito privado de tudo e de todos. Mal falava ou trocava palavras com as crianças da escola, e nunca tinha ouvido falar de "brincar na rua". Sua vida era treinar, estudar, e fazer tudo o que sua mãe mandava.

A mulher na sua idade havia sido uma grande lutadora de Jiu-Jitsu, uma que era reconhecida por seu talento e destreza na arte marcial em todo o estado.

Certo dia, em uma luta importante de sua carreira, aconteceu um acidente que mudou sua vida por completo.

Em um movimento errado, acabou por torcer seu próprio tornozelo.

De começo, era apenas um acidente comum, logo ela se recuperaria e poderia voltar com seus treinos.

Porém, o médico a disse que o machucado foi pior do que parecia, e que por segurança ela não poderia mais lutar, pois correria o risco de romper ainda mais o lugar e um dia traria problemas maiores para a região.

Isso acabou com a mulher que na época era jovem. Sua mãe era rígida, e a culpou totalmente pelo acidente, dizendo que se tivesse concluído a luta com mais atenção não teria acontecido isso.

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