Capítulo 1 - Recomeços

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20 anos antes.
Patrick

É... não tem jeito, não tem como enrolar minha mãe, ainda mais agora que não tenho o que fazer. Dona Maria do Carmo quando coloca algo na cabeça ninguém tira. Eu sei que prometi a ela que se não passasse em nada eu iria fazer academia de manhã e estudar no cursinho de noite, o que me deixava apenas com a tarde livre para estudar ainda mais. Minha mãe sempre me incentivou aos estudos e mesmo eu não passando de primeira em nenhuma universidade, ela disse que iria correr atrás e que esse ano eu faria cursinho.

Me olho no espelho e percebo que nem academia nem nada vão mudar a minha percepção sobre mim. Desde novo nunca me vi bonito, nunca gostei de nada em mim e muito menos no que eu penso, tanto que passei a vida toda estudando no Santa Helena e nunca fiz uma amizade que durasse, terminar o ensino médio em dezembro foi a melhor coisa que aconteceu. Nunca mais terei que fingir que gosto de alguém daquela turma, pois ali ninguém nem sabia da minha existência e eu achava ótimo.

_ Anda logo, Patrick, eu já disse que esse mês não iria ser como o último. Você em janeiro só ficou trancado no quarto e eu te avisei, fevereiro você vai sair para socializar, não é saudável alguém da sua idade só ficar no quarto. Seu pai vive reclamando que desse jeito você nunca vai achar uma namorada e mamãe não é eterna, né? - Minha mãe se vira e sai do quarto me deixando lá com a cara de sem jeito. Dona Maria do Carmo é assim, desde nova trabalhou muito e hoje em dia é aposentada. Ela trabalhava como faxineira e acabou conhecendo muita gente, por conta disso que conseguiu que eu fizesse academia e ainda por cima cursinho.

Obviamente meu pai não gostou, mas não interferiu, como ele mesmo diz "academia tem várias garotas gostosas, você vai aproveitar". João Pedro, ou como tenho que chamá-lo desde o dia que nasci, pai, me irrita, mas não posso falar nada. Minha mãe o convenceu a não me pôr para trabalhar na oficina como era sua vontade, claro, ele pode ficar desempregado, mas eu era um absurdo. Mas eu sei que preciso dar um jeito na vida, não quero ser um estorvo para ninguém.

A única coisa boa de morar em uma cidade pequena onde todo mundo toma conta da vida de outra pessoa é que tudo é perto. E a academia não fica nem 10 minutos a pé da minha casa. Chego no local e já me sinto deslocado, só de olhar para dentro e ver vários homens pegando peso alto já quero ir embora. Só de pensar que todos vão saber que não pego nem 5 quilos sem sentir dor, vou ser motivo de chacota.

_ Oi, sou o Patrick filho da dona Maria do Carmo - digo a moça que está sentada na recepção. Ela usa uma blusa com o nome da academia e possui um cabelo todo cacheado que eu acho lindo.

_ Você é filho da Maria do Carmo, ela é um amor. Aqui todos os funcionários antigos sentem falta dela. - Sorrio sem jeito, esse é o efeito que minha mãe tem nas pessoas. Ela consegue encantar a todas, não sei como ela acabou casando com o meu pai.

_ Isso mesmo, sou eu. E você é?

_ Regina, trabalho aqui na Action há uns 10 anos e amo esse lugar. Vou fazer seu cadastro e um dos meninos vai fazer seu teste e sua ficha.

Ótimo, passo meus dados e já fico me perguntando quem vai fazer a minha ficha e a vergonha que vou ficar. Não gosto de tirar a blusa, não gosto do meu corpo e nem de mim. Ainda mais pelas marcas que carrego.

_ Patrick, olha, já está tudo certo. Só você passar e esperar aqui dentro que vou ver quem está disponível. Você deu sorte que agora de manhã aqui fica mais vazio. - ela some para dentro da academia e eu começo a reparar. Como assim? Esse horário vazio? Vejo um grupo de quatro caras malhando e já fico sem graça. Eu não nasci para isso.

A moça da recepção volta com um cara que é um pouco mais alto que eu, ele veste uma blusa apertada da academia o que deixa seus braços ainda maiores e uma bermuda de moletom preta.

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