Acordo cedo, ontem depois da conversa com Ramon, ficamos até tarde ouvindo música e quando começou a amanhecer viemos conversando. Olho para o relógio e vejo que não dormi nem 4 horas direito, mas em tempos que não me sentia bem. Parece que conversar com ele e falar a verdade me ajudou bastante.
Saio do quarto e noto o silêncio o que me espanta, normalmente sábado meus pais estão sempre na sala, meu pai vendo treino de fórmula 1 e minha mãe adiantando o almoço. Hoje de manhã quando cheguei já estranhei o silêncio.
Ando pela sala e vejo um papel colado na mesa da TV.
Seu pai quis ir ver o jogo na capital. E eu concordei. Passei no seu quarto e vi que você não tinha chegado, seu pai comemorou e disse que você deveria estar seguindo os passos dele finalmente. Voltamos amanhã. Vou aproveitar e visitar a prima Beatriz.
Claro, o irresponsável do meu pai inventa de ir na capital ver jogo e minha mãe apenas concorda. A gente não consegue se manter, mas ele não trabalha e tudo que quer consegue com minha mãe. Provavelmente foram de excursão e devem voltar amanhã de noite, a prima Beatriz faz parte da família que acabou conquistando muitas coisas e que mamãe sempre entra em contato quando a situação fica difícil. Ou seja, já sei que tudo está complicado, mas minha mãe sempre concorda com meu pai. Sempre!
Me jogo no sofá, então vou ficar o fim de semana sozinho em casa. Pelo menos vou conseguir descansar um pouco, já que segunda começo a trabalhar.
Não quis ficar em casa e acabo vindo parar na academia, pelo menos vou ocupar minha cabeça. E também passar o tempo. Uma semana aqui e nunca pensei que iria curtir tanto, mas sei que muito disso se dá ao Erick, ele tem uma paciência comigo que me surpreende, além de sempre estar aberto quando quero falar.
Chego procurando ele, mas pelo visto não veio. Isso me desanima, mas já que estou aqui resolvo fazer a ficha.
_ Ah quem é vivo aparece até sábado. - me viro e dou de cara com Erick.
_ Ah resolvi vir aqui, meus pais viajaram e eu não quis ficar lá de bobeira.
_ Fez bem. Exercício ajuda bem, mas você está com uma cara de sono.
Sorrio e conto para ele que sai noite passada. E que fiquei até de manhã com um colega meu.
_ Tá explicado, eu ia ontem também, mas desanimei. Só ia dar gente mais nova e a Lavínia foi lá pra casa também.
_ Falou vovô! Até parece que é tão mais velho assim, mas se a Lavínia foi lá você aproveitou muito. - digo sorrindo.
_ Um pouco, mas esse sorriso seu, hein! É por conta do luau ou teve algo a mais?
Minha vontade é de contar tudo para ele, mas aqui tem muita gente já e não quero correr o risco de ninguém ouvir.
_ Então, teve mais, mas não dá para falar aqui - digo entre dentes. Erick entende e não me pergunta mais nada.
Treino com ele me dando suporte e aos poucos a academia vai se esvaziando e eu faço uma hora para ir embora. Chegar em casa e ela está vazia não me anima muito.
_ Ei, se quiser ficar, a academia fecha agora meio-dia, mas você pode ficar aqui, eu vou treinar com ela fechada então não vai ter mais ninguém.
Acabo concordando, ficar aqui mais um pouco vai acabar me fazendo bem.
Erick fecha as portas e eu sento no degrau da escada que leva para o piso dos aparelhos inferiores. Ele malha pesado, mas me fala que não, já que o ombro dele está machucado. Se aquilo que ele está fazendo é pegar leve, fico assustado.
_ Mas, Patrick, agora você pode me falar, porque você estava rindo daquela forma hoje? Me conta, vai dizer o que aconteceu para você chegar aqui desta maneira?
Balanço a cabeça sorrindo, se eu falar ele vai me achar um idiota, pois não foi nada demais. Eu apenas contei tudo para Ramon e ele ficou ao meu lado o luau todo, mesmo eu dizendo que ele deveria ficar com alguma garota, pois várias passaram olhando para ele.
_ Não foi nada demais. Eu só conversei com um colega. E ... - eu começo a falar do começo. É a melhor coisa, conto que Ramon me ajudou no show e vejo a expressão de Erick mudar por não ter notado o que aconteceu, conto sobre o cursinho e sobre ele ter me perguntado sobre minha orientação sexual, mesmo que nessa hora eu abaixe a cabeça e não o encare e falo sobre a conversa no luau.
Termino de por tudo para fora e sinto quando ele se senta ao meu lado.
_ Ei, Patrick, fico feliz que tenha me contado. E cara não tem nada de errado em não saber quem é neste sentido. Uma hora você vai saber e não vai ter nada de errado se você gostar de garotos, de garotas, dos dois ou de nenhum. O que importa é você ser feliz. - ele se levanta e volta a malhar e eu fico ali percebendo que em muitos momentos a vida pode ser mais simples do que esperamos.
Erick termina de treinar e avisa que vai tomar um banho.
_ Olha, só uma ducha e a gente sai. E preciso te falar uma coisa se alguém aqui faltar com respeito com você me avisa, beleza? E sobre o que você me contou do show, se rolar de novo me fala. Eu detesto babacas ignorantes.- Erick se levanta e vai para o vestiário e eu fico ali. Como eu queria ter coragem de contar tudo para ele...
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As Cartas nas Estrelas
Teen FictionPatrick tem 17 anos e sonha em sair da pequena cidade de Ponte Nova, interior de Minas Gerais. Seu maior sonho é poder se entender e ser feliz longe de todo o preconceito velado de opinião. Mas a vida reserva muitas surpresas, algumas incríveis e ou...