Capítulo 13 - Os Sentimentos Confusos

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Uma semana trabalhando, treinando e no cursinho me fizeram ter uma semana intensa, mas feliz. Pela primeira vez eu consigo sorrir, mesmo chegando em casa todo dia cansado. Quase não encontro com meu pai acordado então não preciso lidar com suas surras.

_ Hoje você está bem aéreo hein - Erick está parado ao meu lado e eu estou parado com a mão no aparelho de fazer supino no cross. Não faço ideia do tempo que fiquei assim, mas...

_ Um pouco, uma semana que vivo no ciclo, academia, trabalho, cursinho e nem acredito que hoje só vou treinar e depois não tenho nada para fazer.

_ Se animar, você poderia ir ver o jogo, hoje vou jogar de novo. - diz Erick

_ Eu vou - digo correndo e ele sorri e me fala a hora. Eu quero continuar falando com ele, mas outro aluno o chama e ele vai até o menino para ajudá-lo. Eu gosto de ficar conversando com Erick, mesmo que seja aqui.

Passo em casa rápido e troco de roupa, não vejo meu pai e minha mãe diz que ele saiu para beber com uns amigos, zero novidade, aviso que vou sair e saio rápido. Não quero nem sonhar em ver meu pai agora.

Andar com Erick, encontrar com ele e dar risadas com ele é algo que venho gostando muito, se compara até ao que sinto quando Félix me ajuda na redação. E olha que ele tem uma santa paciência.

_ Eu achei que ia desanimar de vir. - diz Erick quando me vê chegando perto do campo.

_ Eu disse que vinha. Faço de tudo para não ficar em casa. - digo, pois é a mais pura verdade.

Erick não faz nenhuma pergunta, apenas segue ao meu lado. Entramos no campo e eu vou para a arquibancada e percebo que dessa vez tem muito mais gente que da última vez. Logo mais pessoas chegam e a maioria são homens, alguns já bebendo e tudo isso começa a me incomodar. Não sei o motivo, mas me lembra um pouco do que sentia no ginásio da escola em dia de jogo, pois sempre acabava passando por algo.

Reprimo a lembrança e foco apenas no jogo, Erick corre para um lado e para o outro e as pessoas gritam. Pelo o que entendi o jogo é decisivo e qualquer gol pode mudar tudo. Mas ele não sai fácil e quando um cara perto de mim joga um copo no campo eu já pulo. O clima começa a esquentar, principalmente quando o segundo tempo passa e se aproxima do final.

_ Que merda, eu disse que esse jogo ia ser isso. - diz um cara ao meu lado.

_ Também acho, mas só tem viadinho jogando. Eles não vão na bola nem a porrete. Aquele ali então. - ouço calado. Não quero começar uma confusão. Ainda mais que começo a ficar com medo da forma que ele agem.

Foco no campo no momento que Erick marca e eu pulo comemorando, finalmente um gol, ele marcou!

_ Eu falo, ultimamente a viadagem chegou com tudo até aqui que era um ambiente nosso. Olha aquele ali comemorando todo espalhafatoso. Isso aí é falta de uma boa surra. O pai desse aí deve ficar morrendo de vergonha. - olho para trás e o cara me aponta rindo. Quero falar algo, mas não consigo, fico com medo. Fico com medo do que ele pode fazer comigo.

_ Qual foi, viadinho? Algum problema? - diz o outro homem e eu fico quieto. Seguro as lágrimas, pois eles não vão me ver chorando. Não aqui. Não agora. -

O jogo termina e espero todos irem embora, Erick aponta na beira do campo já trocado e vem na minha direção.

_ Que jogo, foi louco, mas ganhamos. Hoje foi saldo positivo e...

Às lágrimas caem e ele se senta ao meu lado sem entender nada. E eu não sei como explicar o que aconteceu. Já estou cansando de tudo isso, de sair e as pessoas me tratarem assim.

_ Alguém fez algo com você, não é? - diz ele bem sério. E eu apenas concordo com a cabeça.

Aos poucos crio coragem e conto tudo. Cada detalhe, cada coisa que sentir quando ouvir as ameaças.

_ Eu não deveria ter te chamado hoje, eu sabia que seria um jogo decisivo e podia tá lotado, mas eu não esperava que isso acontecesse. Desculpa, cara, eu deveria ter tido uma noção antes, mas você tinha se divertido tanto no último.

_ Não foi sua culpa, sou eu, é o meu jeito, é os meus trejeitos, se eu não fosse assim, nada teria acontecido. - digo e abaixo a minha cabeça, porque eu sei que tudo é minha culpa.

Erick fica em silêncio e eu sei que ele pensa a mesma coisa, eu causo problemas, confusões e se eu...

_ Patrick, a culpa não é sua, mas isso você sabe dentro de você. Só que... você ouviu muito que deveria mudar e não ser como é que não consegue mudar o que pensa. E eu acho que você precisa perceber como você é foda, cara. E sobre o que aconteceu eu só posso te dizer, você quer ir à polícia? Você quer fazer algo? Me passa a descrição deles, posso ver com o técnico se ele sabe quem são.

_ Não, por favor, não. Eu não quero que isso se espalhe. Por favor, Erick, se isso chegar ao ouvido do meu pai eu estou morto.

Erick não diz mais nada, apenas me acompanha até perto da minha casa. Já está de noite quando chego.

_ Patrick qualquer coisa me liga, a gente conversa, mas vai por mim, não tem nada de errado em ser você e não precisa passar pelo o que passou hoje. Homofo... - ele para de falar. Ele sabe bem que não sei o que sou, mas naquele momento eu o abraço sem pensar. E ele se assusta.

Entro em casa e vejo meu pai desmaiado no sofá e minha mãe sentada vendo televisão, ela me olha, mas não diz muito. Vou para meu quarto e olhando para o teto eu só consigo ver a imagem de Erick. E pela primeira vez na vida eu não sinto vergonha do que estou sentindo...

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