Capítulo 16 - Encontro e confusões de sentimentos

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Acordei mais cedo do que eu imaginava. A ansiedade não me deixou dormir, eu vou sair com um garoto. Eu sei que ele só deve querer conversar sobre o trabalho, mas mesmo assim...

Me olho no espelho e me sinto diferente, esse ano começou com tudo, mas olha onde estou, eu vou encontrar com um garoto, eu vou... eu comecei a me entender e eu comecei a me aceitar.

Passo pela sala e meu pai está desmaiado, o que já não me espanto, minha mãe está na cozinha e quando me olha apenas pede que eu não faça barulho. Desde que ela se aposentou ela começou a se apagar, mas nesses meses, nem consigo mais ver aqueles olhos dela...

Desço a rua e vejo que a academia já está aberta e Erick está na recepção, meu olhar encontra o dele e eu aceno. Ele sorri e eu fico sem jeito, eu real não sei o que sinto, mas quando o vejo sorrindo fico tão feliz.

Faço sinal que vou voltar depois e sigo para a padaria, lá está bem vazio, o que eu prefiro. Ainda mais aqui onde todo mundo conhece todo mundo. Eu estou ansioso, quando ele se senta na minha frente eu sorrio e ele também. E é legal, é divertido viver isso.

_ Eu achei que você não ia aceitar, fiquei com receio. Você sabe, eu sou gay e muitos caras não gostam de sair a sós comigo.

Não digo nada apenas balanço a cabeça. Eu quero me abrir com ele, mas e se ele não me entender? E se ele me achar maluco? E se...

_ Patrick, você se arrependeu? - olho para ele e pelo visto ele falou comigo e eu não ouvi. Ficar preso nos meus pensamentos está ficando bem comum.

_ Eu acho que sou... - paro de falar, pois vejo alguém passando, mas a minha fala faz com que o olhar dele fixe em mim e eu sei que estou ficando vermelho.

Tomamos um café em silêncio, mas assim que saímos paramos perto da academia. A rua está deserta e eu me sento no degrau da calçada. Ainda não falamos nada, mas eu sei que ele quer perguntar algo.

_ Então... eu vi que você queria me falar algo, mas desistiu e...

_ Eu ia, mas...

O olhar de Félix é forte e eu começo a perceber que pode ser verdade, será que ele pode gostar de alguém como eu? Alguém que ainda não se conhece? Alguém que...

_ Félix, quando... aliás como você percebeu que era gay? - não era isso que eu ia falar, mas..

Félix sorri e me diz que sempre soube, mas que quando chegou na adolescência ficou bem claro o que ele gostava o que ele sentia e que deu sorte com os pais que o aceitaram de boas.

Aquela fala dele me aquece, como eu queria ter pais assim.

_ E foi assim, mas cada um tem uma história, cada um tem seu tempo e... - eu o olho e Félix para de falar e aproxima seu rosto do meu. Eu sei que alguém pode passar, eu sei que alguém pode ver, mas fecho meus olhos e sinto quando os lábios dele encostam nos meus. É leve, é calmo e...

Me afasto quando escuto passos e segundos depois um senhor aparece descendo a rua. Me levanto de uma vez. Eu não deveria ter arriscado.

Estou tremendo e se ele me viu, e se ele...

_ Meninos que bom que vocês podem ficar juntos assim na calçada, no meu tempo não podia. Aproveitem. - diz o senhor que continua descendo, nunca o vi aqui na cidade, mas sua fala me espanta.

Félix continua sentado apenas sorrir e eu me sento de novo.

_ Calma, eu conheço o Sr. Mauro, ele é gay também, mas viveu uma época pior que a nossa. Ele nasceu e cresceu aqui na cidade nos anos 60 então imagina. Mas encontrou alguém que o fez bem. Mauro é amigo do meu pai. Então quando vi que era ele nem me preocupei.

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