Sexta - feira e eu não acredito que finalmente essa semana vai terminar e sei que em seguida vou começar a trabalhar. Pelo menos isso, porque depois de tudo que passei não sei mais o que pensar.
O único lugar que pude ficar bem foi na academia e isso somente quando Erick estava presente para me ajudar e até mesmo para tentar conversar comigo. Mas, nesses últimos dias eu não estava no clima, meu pai continuava me olhando torto e por conta disso comecei a recusar caronas do Erick quando ele me via voltando do cursinho. Parece que ele entendeu e parou de me oferecer.
Tenho muita vontade de mandar mensagem para ele, mas sei que não devo envolvê-lo nos meus problemas, ainda mais que não posso falar nada para ele sem comprometer toda a minha família.
_ Seu caderno caiu, Patrick. - Ramon está na minha frente e eu não percebi que minhas coisas caíram, o cansaço bateu ou a mente que não para de pensar.
_ Valeu - digo pegando da mão dele, Ramon me encara e eu quero conversar com ele. Eu realmente preciso de um amigo, mas depois do que ele disse, não sei... posso estar sendo idiota? Sim! Mas eu passei a vida toda ouvindo e tentando perceber porque todos odiavam só de pensar que eu poderia ser... eu... e..
_ Patrick, vai rolar uma social hoje lá na praça, você quer ir? Vai ser bem tranquila, tipo violão, uma fogueira e bebida.
_ Eu?
_ Sim, vamos ue! Eu já ia, mas melhor ir com alguém não é?
Ele diz com uma simplicidade que acaba me empolgando. Sei que meu pai ia curtir muito me ver chegando tarde. Segundo ele, eu fico muito em casa e que devo arrumar uma mulher. E a melhor forma é saindo. Típico dele.
_ Pode ser, mas nem estou arrumado para isso.
_ Ah nem eu. Vou descer assim que o sinal soar no último tempo. Vai ser aula de biologia e eu já não aguento nem ouvir mais falar de mitocôndrias.
Dou risada e concordo. Minha cabeça já não aguenta mais nada essa semana.
Descemos para o luau e percebo que todos os estudantes mataram a última aula, pois saímos todos.
É engraçado que nunca conversei com nenhuma pessoa aqui, mas quando descemos todos é como se fôssemos colegas de anos e não de uma semana. A diferença da escola para o cursinho é que tem pessoas de todas as idades possíveis.
A praça está lotada e a social que ao meu ver está mais para um luau bomba. Ramon me entrega um copo de cerveja e eu aceito sorrindo, ficamos ali em um canto enquanto ouvimos música calma.
_ Patrick, olha, eu sei que você ficou estranho comigo desde no início da semana quando eu falei sobre você ser...
_ Gay, você falou que não tinha problema eu ser gay.
_ Isso, porque realmente não tem. Mas eu vi que não deveria ter pressuposto algo sem nem conversar com você direito. E...
_ Ramon, cara.. - olho em volta e o chamo para irmos nos sentar em um canto mais afastado. Ele me acompanha sem entender muito e principalmente me esperando para falar.
Sento com ele em um meio fio em frente a uma escola. Por coincidência a escola foi onde eu estudei e um local onde durante anos me senti mal.
_ Ramon, vou ser sincero com você. Durante muitos anos eu andei por essas paredes e chorei e me senti sozinho e sofri calado, durante anos eu ouvi pessoas me chamando de viado, de anormal, de fruta e... - respiro para não chorar. - Enfim, eu passei muita merda em silêncio, pois não poderia dizer nada para ninguém e a verdade é que não tinha ninguém para comentar. Então quando você disse que não tinha problema ser gay, eu assustei porque me lembrei de muitas coisas.
_ Eu não sabia e eu queria te conhecer para você não ter passado por nada disso. Eu real não sei porque as pessoas são idiotas assim. E..
_ Tá tudo bem e, sinceramente, Ramon, eu não sei se sou ou não, eu não sei quem sou. É estranho eu dizer isso, não é? - digo e desvio o olhar dele, Ramon vai me achar maluco, mas essa é a verdade, eu não faço ideia de quem sou.
_ Ei, cara. Você não é estranho, você é você. E está bem. Só seja feliz. - Ramon se levanta e me dá a mão para que eu levante. Eu deixo que ele me puxe e acabo dando um abraço nele que não se afasta.
Voltamos para o centro do luau e ele fica mais próximo de mim do que antes, as vezes é melhor falar, algo que começo a perceber...
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As Cartas nas Estrelas
Novela JuvenilPatrick tem 17 anos e sonha em sair da pequena cidade de Ponte Nova, interior de Minas Gerais. Seu maior sonho é poder se entender e ser feliz longe de todo o preconceito velado de opinião. Mas a vida reserva muitas surpresas, algumas incríveis e ou...