Capítulo 19 - O limite

34 6 0
                                    

Durante todo o mês eu só deixei fluir, segui o conselho de Ramon e acabei saindo mais vezes com o Félix e aproveitei cada momento na academia e minha relação com o Erick. Tudo me deixou ainda mais confuso, mas tentei não me cobrar. Até mesmo falei com Félix para irmos devagar e ele entendeu, e não me forçou mais a nada. A gente sai, conversa, brinca, mas não nos beijamos mais.

Eu achei que ele não iria topar, ainda mais que ele já é mais velho, já passou dessa fase que estou. Mas ele compreendeu e eu gostei bastante.

E foi lindo, é engraçado como ele consegue me entender, sem precisar cobrar nada. E no serviço a gente continuou se ajudando, na verdade ele me ajuda bastante. Se eu não fosse uma pessoa tão confusa, já estaria pulando de alegria, mas...

_ Terra chamando Patrick! - Erick está parado ao meu lado e eu estou segurando o aparelho de Cross.

_ Fui longe aqui, desculpa. - digo.

_ Sem problemas, eu só não esperava que você não estivesse me ouvindo, ainda mais que estou te contando que aqueles babacas daquele dia não pisam mais aqui.

_ Você?

_ Lógico, esse mês eles estavam voltando em outros horários e eu não os via, mas ontem eles vieram na hora que eu estava aqui e eu avisei o dono. Pacey na hora avisou que eles não poderiam treinar aqui porque aqui na Action não existe preconceito.

_ Mas você falou sobre mim? - pergunto sem jeito.

_ Eu disse o que rolou, mas não deixei claro quem era, pois eu sei que você não queria. Só que eu não podia deixar caras como eles aqui.

_ Obrigado - digo e eu fico com impulso em abraçá-lo, mas não o faço. Não quero nenhum olhar. Não quero nenhum comentário.

_ Você está bem?

_ Estou... só estou... confuso, mas nada demais.

_ Confuso?

_ Sim, mas logo passa.

_ Se quiser conversar.

_ Eu não quero incomodar.

_ Quantas vezes eu preciso dizer que você não incomoda, Patrick.

_ Eu sei, mas...

_ Mas nada, só uma coisa.. - ele sorri e diz: "você é meio dramático". E eu não nego apenas assinto.

_ Eu só não consigo te dizer, senão vou acabar chorando.

_ Sem problema, termina então o treino e se quiser falar vou estar aqui. Se não quiser, tudo bem...

Eu não consigo falar com ele sobre, imagina...

Termino meu treino e noto que Erick está com sua namorada. Passo discreto entre eles, não quero incomodar e nem que ele me pergunte nada, ainda mais na frente dela.

A livraria está a todo vapor, o que me ajuda a não ter de encarar o Félix hoje, pois não sei muito o que faria. Eu sei que ele iria querer conversar e hoje eu realmente não quero nem isso, não sei o motivo, mas quando o Erick me perguntou o que eu tinha isso me fez sentir tudo junto e não quero ter que mentir o que estou sentindo para Félix.

Eu mesmo não sei o que sentir, o que não sentir, eu estou deixando tudo ir, mas tem momentos que não consigo não pensar e agora é um deles.

_ Você quer mesmo assistir a aula de hoje, Ramon? Ou podemos apenas sair. - digo assim que entro na sala. Minha cabeça está a mil, vi que Félix percebeu que não quis conversar muito com ele e evitei olhar o celular por receio de Erick ter dito algo. Eu realmente preciso falar com alguém que vá me entender.

Ramon me encara e eu percebo que ele percebeu que não estou muito bem, ele não diz nada apenas pega sua mochila e me acompanha para fora da sala. Paramos na lanchonete que já virou um local nosso e vamos para a varanda.

_ Vai me falar o que aconteceu, na hora que você entrou na sala eu vi que tinha algo de errado. - Ramon começa a me conhecer mais do que eu imaginava, mas nesse tempo que convivemos ele foi o único que eu consegui me abrir e falar tudo que vinha sentindo.

_ É que hoje bateu uma confusão interna, o Erick me perguntou sobre o que eu estava pensando e eu fiquei sem jeito porque era sobre ele. E depois o Félix. Eu corri dele o dia todo.

_ Mas você não estava de boa com isso? Eu achei que você ia deixar as coisas irem rolando, só ia parar de ficar com o Félix porque não se sentia bem.

_ Eu estava, mas... Ramon eu quero falar com Erick, mas eu não faço ideia da reação dele. E quero falar com o Félix, mesmo ele não querendo mais nem me olhar. Eu...

Faço algo que nunca fiz, eu abraço Ramon e choro. Ele não faz nada para me tirar, apenas deixa que eu chore abraçado com ele. Eu estou tremendo e nunca demonstrei afeto assim, mas...

_ Ei, calma, Patrick, você está muito ansioso com tudo, cuidado você pode ter... - ele para de falar e envolve os braços ao meu redor e eu paro de tremer. - fica calmo, tudo vai se resolver, você vai ver. E se sentir vontade de conversar com eles, faça isso.

_ E se...

_ Se o Erick ficar puto? Não acho que ele vai. Pelo o que você me contou ele é tranquilo. Não acho que vá te machucar. Ou algo do tipo e o Félix, bem, ele sabe o que é ficar confuso e não saber muito como lidar com o que sente.

Eu sei que ele está certo, mas é se eu fizer algo ou decidir algo e depois me arrepender e.., não respondo nada para Ramon, eu não sei como passar o que estou sentindo e..

_ Eu acho que não disse o que você gostaria de ouvir, mas... Patrick eu estou aqui por você, viu. Só vai no seu tempo...

Ramon fica querendo me deixar em casa, mas acabo não deixando, preciso ficar um pouco sozinho, mesmo que seja por pouco tempo. Me despeço dele e desço a rua no sossego.

Entro na minha rua e vejo de longe a luz da varanda ainda acesa, fico surpreso, normalmente ela sempre está apagada quando saio do curso.

_ Eu falei que ele ia chegar mais tarde. - da sombra da varanda meu pai aparece. Só pelo olhar dele eu já sei, ele bebeu muito. Minha mãe não está à vista. O que não me surpreende. Quando ele bebe fala sozinho e acha que tem gente.

_ Pai, o senhor - ele se aproxima e antes que eu perceba grito, ele me dá um soco na cara e eu fico sem reação.

_ CALA A BOCA! EU VI VOCÊ! VOCÊ ESTAVA COM UM CARA. EU SABIA, EU SABIA QUE VOCÊ ERA... - ele para de gritar e sinto outro soco e mais um e mais um. Perco o equilíbrio e tento deixar meus pensamentos vagarem, faz tempo da última surra e eu achei que ficaria livre, mas a minha vida sempre foi essa. Não sei quantos socos e chutes levo, mas uma hora ele para. E eu fico quieto.

_ TENHO VERGONHA DE VOCÊ! EU TENHO VERGONHA DE SER SEU PAI! HOJE VOCÊ DORME AÍ NA RUA. - ouço a porta fechar e aos poucos me levanto, não sei para onde ir. Meu corpo todo dói. Olho pela janela e tudo apagado, minha mãe deve ter ouvido, mas lógico que não irá interferir, ela não faz isso.

Me viro para a casa e com dificuldade caminho. O celular no meu bolso está com a tela quebrada, mas ainda consigo usá-lo. Meu olho dói e não consigo ver direito, mas tento ligar para a única pessoa que me vem à cabeça...

As Cartas nas Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora