Capítulo 2 - A Festa

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Lógico que meu pai berrou quando eu disse que iria. O que eu passei o dia de ontem e hoje ouvindo sobre se eu precisava de camisinha que eu não teria hora para voltar. Até dinheiro a mais eu ganhei, e eu fiquei espantado. Minha mãe só ficou calma quando eu disse que iria com o povo da academia, a maioria ela já conhecia há anos, então não esquentou muito.

_ Filho, acho que o pessoal chegou. - Ela me acompanha até a porta e vê Erick no volante, ele está com uma mulher do lado.

_ Dona Maria, a senhora está bem?

_ Estou sim. Erick querido fica de olho no Patrick, hein. Ele não é de sair e eu já fico preocupada. Então fica de olho e não deixa ele beber.

_ Mãe! - me despeço dela e entro no carro atrás. Não tem ninguém. Erick arranca o carro e eu fico sem graça, estou indo segurar a vela.

_ O Patrick, os meninos já foram com o Dudu, por isso que não estão aqui. Dá para ver na sua cara que você está achando que vai segurar vela. - olho pelo retrovisor para Erick que diz rindo.

_ Amor, deixa o garoto em paz, você não perde a chance de fazer graça. - Lavínia lhe dá um soquinho de brincadeira e sorri para mim.

Ela parece ser uma fofa.

_ Ei, ele sabe que estou brincando. Não é, Patrick?

Concordo rindo e já sei que a noite começou boa.

O show está lotado, pelo visto toda a cidade está aqui. O que não me espanta em nada. Cidade pequena quando tem um show, vai todo mundo. Porque é a única diversão.

Assim que entramos nos encontramos com o pessoal da academia e eu começo a me sentir um intruso. Todos estão acompanhados, menos eu. Fato, eu não deveria ter vindo, mas...

_ O Patrick que cara é essa, olha tem tanta menina bonita aqui que se eu fosse solteiro não ia deixar uma passar. - Natural ouvir isso de um cara.

_ Erick, amor, se você quiser realmente ficar com outras é só a gente terminar. Também tem cada cara aqui que eu ia fácil. - Lavínia provoca Erick que solta uma risada e abraça ainda mais a namorada.

O show começa e eu me distraio um pouco, não tem ninguém aqui que eu queira conversar, quando a música lenta começa a tocar saio de fininho para não atrapalhar ninguém.

Ando até a barraquinha de refrigerante e...

_ Aí! - um cara acaba me dando um encontrão e eu quase caio.

_ Qual foi viadinho não sabe andar sem tropeçar em um cara não? - olho na direção do cara e sinceramente não tenho paciência, mas ele deve dar dois de mim e tem dois caras com ele.

_ Eu... eu...

_ Ele não consegue nem falar. Eu falei para virmos de blusa, tirá-la aqui era isso que ia da. Gente igual ele não consegue se controlar.

Olho para um lado e para outro e não avisto ninguém da academia e nenhum conhecido e quem passa perto não para só concentrado no que estão fazendo.

_ Me desculpa, eu...

Os três caras começam a rir e um deles me imita, com toda a certeza já devem estar bêbados. Eu deveria ter ficado em casa era muito mais prático e menos problemático.

Um garoto começa a prestar atenção na cena e era só o que me faltava, mais um babaca.

_ Conta pra gente, você já sentou? Aguenta? - o da frente se aproxima de mim e eu desvio o olhar. Não vou responder nada. Quero correr, mas o susto me deixa travado.

_ O amigo, você tá com algum problema? - o garoto que vi vendo a cena se aproxima de mim ficando ao meu lado.

_ Eu.. eu...

_ Pow, mais um? Eu falei que eles só andam em bando. - diz o cara que trombou em mim.

_ O fera, você quer que eu chame o segurança? Por um acaso sou filho de um deles e meu pai ia curti demais isso. Por um babaca para fora.

O cara para e olha para os amigos, aposto que ele deve estar pensando se vale a pena arriscar ser jogado para fora.

_ Vamos embora, cara! Deixa esses viadinhos aí, um dia eles acabam tendo o que merece. - os caras se viram e eu respiro aliviado.

O garoto que me salvou está parado ainda ao meu lado e eu reparo nele. Ele é mais alto que eu, e o braço dele dá uns dois do meu, sem falar na barriga que está colada na blusa polo.

_ Você está bem? Esses idiotas eram da minha antiga escola, eles eram o trio maluco. E pelo visto nada mudou nesses anos.

_ Eu estou...  - então ele é mais velho. Só não sei quantos anos, essa questão de não ser mais aluno de escola é muito estranho, se na escola existia aquela questão de divisão por conta da idade e turmas, depois que formamos todos parecem iguais.

_ Cara, você tá de boas mesmo?

_ Sim, minha sorte foi você ser filho do segurança aqui. Eu estava na boa e esses caras começaram a implicar.

_ Quem disse que sou filho do segurança? Meu pai é ... enfim, se você tá bem vou nessa. - O garoto se vira e se perde na multidão e eu fico ali sem saber nem o nome do cara que me salvou.

Volto até perto do pessoal que fui e só encontro Erick e sua namorada, ele me avisa que as pessoas já foram.

_ Amanhã eles trabalham aí já foram, eu que só pego de tarde. Só achei que foram rápido demais, mas paciência. E você, sumiu! Me conta aí encontrou alguma garota? - Erick me pergunta e eu finjo que não ouvi o resto da frase.

O show termina e as pessoas começam a ir. Eu não esperava que fosse durar tanto, ainda mais que amanhã é dia útil para todos, menos pra mim que vou ficar em casa. Todo dia é igual agora.

_ O Patrick, vou deixar a Lavínia na casa dela que é aqui perto e depois levo você em casa.

_ Não precisa, fica com ela. Fazer você ir lá me levar para voltar. Eu pego um uber.

_ Então, ele não mora comigo ainda. A gente namora há uns dois anos, mas ainda não demos esse passo. O senhor "eu gosto do meu espaço" aqui, prefere ficar na casa dele, gastando com aluguel sabe. - Lavínia entra no carro e eu vejo a cara de Erick, ele revira os olhos e eu seguro a risada.

De fato, Lavínia mora perto do parque de exposição e ela se despede de mim e Erick sai do carro para deixá-la na porta do prédio. Eles foram um belo caso, algo que eu nunca terei, pois nunca alguém vai olhar para mim como um Erick olha para Lavínia.

_ Pula pra frente, cara. Se não vai aparecer que sou seu motorista.

Sento ao lado dele e fico olhando para a rua, não sei o que dizer com ele. O Erick é gente boa, mas...

_ Patrick aconteceu alguma coisa no show? Você ficou estranho em um momento.

_ Não, nada não é que... - se eu falar vou ter que falar muito, mas eu sei que não posso contar em casa o que rolou, não tenho um amigo para dividir e não sei se vou aguentar ficar só guardando tudo.

O olhar de Erick em mim deixa claro que ele não acreditou na minha resposta.

_ Olha, cara, eu sei que ter 18 anos é um saco ainda mais numa cidade igual a nossa. Mas se precisar conversar. Não sou de falar coisas legais, mas...

_ Erick, valeu! Mas estou bem, só preciso arrumar uma rotina. Sair da escola e não saber muito o que fazer é tenso. Sobre o show, só encontrei uns babacas, nada demais. Eu já me acostumei.

_ Babacas? O que fizeram?

_ Nada, só falaram algumas coisas. E eu ignorei, já me acostumei com isso. São 18 anos ouvindo.

_ Eu acho um saco, você não deveria ter que ouvir nada, povo retardado aqui.

Apenas aceno e sigo quieto. O pior que já me acostumei mesmo, sempre foi assim e sempre será assim.

_ Patrick, como disse se um dia precisar conversar, só me falar. Ok?

Desço só carro e vou me virando, Erick me chama novamente e me pede meu número de celular, eu passo e entro em casa. A casa está silenciosa. Tomo um banho e me jogo na cama, eu nunca saio e quando faço isso acontece tanta coisa. Fecho os olhos e sonho em um dia poder ser feliz de verdade...

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