As Cartas nas Estrelas

Parte 2 - Capítulo 1 - A Verdade

ERICK

Chego e não sei o que fazer. Minha cabeça está a mil. O áudio se repete na minha mente. Eu sei que ele fez merda, eu sei que ele fez algo que não vou poder desfazer. Como eu não percebi, como eu não notei, eu sabia que ele trazia muito em si, quando o deixei eu senti que não deveria, mas minha cabeça estava com tanta coisa que não prestei atenção aos sinais, e eles estavam ali. Quando Yasmin disse que ele estava afim de mim eu não levei a sério, e mesmo se fosse, eu não ia me incomodar. Ele...

Desço da van e corro para casa, ele pode ter desistido, ele pode ter apenas ficado lá, mas ao chegar na rua da minha casa vejo marcas e ouço algumas pessoas na rua falando, paro um instante e escuto o comentário. Um garoto pulou da ponte direto e bateu nas pedras, um garoto foi resgatado a pouco pelos policiais, um garoto foi reconhecido por alguém que viu a movimentação. Entro em casa e torço para que esteja errado, torço para que não seja ele, mas a mensagem e a informação que ouvi na rua, tudo bate.

Abro a porta do apartamento e me apego ao fio de esperança que ainda tenho. Patrick, você não fez isso, por favor, você não fez isso. Por tudo, não foi você. Ando pela sala e não escuto nada, vou até meu quarto e nada, ele está vazio, volto até a bancada da cozinha e lá estão as cartas que ele me falou por telefone. Não, por favor, não.

Pego todas e vejo que uma delas tem o meu nome. Eu não sei o que fazer, soco a parede com raiva e o sangue escorre em minhas mãos, eu ignoro a dor, pois tem outra ainda maior se formando dentro de mim.

Abro a minha carta e quero saber. Eu quero saber o que ele pensou, não o que ele sente, pois pode não ser ele que pulou, eu preciso esperar amanhecer e vou descobrir tudo, quem sabe Patrick chega a qualquer momento. Pego o celular e tento ligar, mas não chama. Mesmo todos os sinais dizendo, eu não quero acreditar.

Sento no sofá e abro o papel, a letra dele algo que nunca tinha visto, começo a ler me preparando para tudo.

Erick, se você está lendo essa carta é porque eu dei um fim à dor que estava sentindo. Eu cansei de sofrer e de provocar dor. Você deve estar se perguntando do que estou falando, e eu vou lhe contar, só não me julgue. Eu sei que não estarei mais aqui, mas por favor não pense mal de mim.

Eu conheci você em um momento muito difícil da minha vida, eu não sabia se iria aguentar muito tempo, tanto que comecei na academia apenas porque meus pais queriam que eu fosse mais homem. E quem diria que seria lá que eu ia encontrar alguém que me fizesse sentir especial, que me fizesse sentir completo, mas que não poderia nunca rolar.

Erick, quando eu te conheci foi como se eu encontra-se um amigo que sempre sonhei em ter. Você me compreendeu, você me ajudou, você me fez ver que eu tinha forças, digo tanto nos pesos do exercícios, mas também para enfrentar as coisas da vida, mas neste meio tempo eu comecei a ficar confuso quanto ao que sentia. Eu conheci um garoto também, você sabe, mas no fim eu percebi que não era dele que eu gostava de verdade, era de você. Mas quando me dei conta disso, eu vi que não podia deixar, pois você é hétero, namora e eu não podia deixar que isso estragasse nossa amizade.

Contudo, sabe, ontem quando ouvi a Yasmin lhe dizendo que eu estava afim de você e que você deveria tomar cuidado meu mundo caiu de vez. Eu lhe causei problemas e eu nunca quis isso. Você sempre foi incrível comigo, você tentou me ajudar de todas as formas possíveis, pois você conseguia me compreender como ninguém, você parecia que me conhecia desde sempre. E eu não sabia como, mas quando estava com você, me fazia sentir bem, me fazia sentir especial, tanto que foi para você que liguei quando rolou o último surto com meu pai.

Mas sabe, depois que ouvir a Yasmin terminando com você, eu percebi que o problema era eu, eu causava isso tudo. Eu causava a dor da minha mãe que não podia largar meu pai, eu causava a dor no Félix que gostou de mim e eu não conseguir corresponder, eu causei a dor no Ramon, pois ele tinha que me ouvir e eu nunca estava lá para ele. No fim a culpa de tudo era minha. Então... eu vou terminar com tudo.

Erick, eu quero que saiba que você foi a luz que eu precisava, você foi o amigo que eu sempre precisei e quero que saiba que eu te amei e por favor não me odeie por isso, pois eu não vou aguentar. Eu juro que não foi intencional, eu juro, queria ter esperado você voltar para te contar, mas fiquei com medo da sua reação, eu fiquei com medo do que você poderia fazer, eu fiquei com medo de você me odiar e me afastar...

Eu...

Paro de ler, a carta continua, mas não estou pronto para terminar. Ele me amava, mas ficou com medo de me contar. Ele não atrapalhava a minha vida e eu nunca na vida iria machuca-lo ou me afastar, a gente ia lidar com isso, eu não iria mudar em nada com ele, quem sou eu para fazer isso. Sim, eu sou hétero, mas e daí? E daí que ele me amava? E daí?

A raiva que sinto de tudo de tudo que ele precisou passar e da atitude que ele tomou, porra Patrick por que não me contou? Por que não me falou? Por que eu não percebi? Por que não percebi que ele ouviu o que a Yasmin disse? Por que? Por que?

O amanhecer vem rápido e eu saio de casa ainda com a roupa que estava quando cheguei de Belo Horizonte, quero saber se é tudo real. Vou direto para a academia, eles devem saber por conta da mãe dele e ao chegar lá já vejo o clima. Não preciso ouvir falar, eu sei, a confirmação veio.

Paro no local onde conversei com Patrick pela primeira vez e sinto que estou chorando...

As lembranças dele voltam e demoro a perceber que uma mão está no meu braço.

_ Erick... eu. - olho e vejo Yasmin parada. Tento não ser rude mas tiro suas mãos do meu braço, por mais que eu goste muito dela, eu não consigo esquecer o que ela disse e ainda mais que ele ouviu...

A deixo parada e saio da academia, eu já sei onde vai ser o enterro e a hora, e é a minha próxima parada, por mais que eu não saiba como vou ficar...