Capítulo 20 - A noite mais longa

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PATRICK

Erick não me pergunta mais nada. Ele me ajuda a tirar o sangue do rosto e eu tomo um banho. Ver as marcas no meu corpo me levam às lágrimas. Eu sei que isso é algo que já aconteceu muitas vezes, mas eu achava que não iria acontecer mais, eu tinha certeza que não iria, mas...

Saio do banheiro, tem uma roupa no móvel em frente à porta e eu a pego, ela fica um pouco maior, mas pelo menos não estou com uma roupa suja e com sangue.

Erick está sentado no sofá da sala e me olha quando me aproximo, seu olhar diz que ele está preocupado, mas não digo nada. Eu não quero que ele faça nada que cause algum escândalo, mas eu sei que deveria deixar.

_ Senta aqui, vai! Você está com o olho machucado, vamos passar algo aí. Sorte que sempre tenho esses kits de primeiro socorros em casa, a Lavínia sempre deixa aqui porque sempre acabo me machucando jogando bola.

Não digo nada, apenas deixo que ele fale, é melhor. Acho que se eu abrir a boca eu vou chorar.

_ Eu sei que você disse para eu não falar nada, mas olha eu quero te ajudar. Foi seu pai, não foi? Foi ele que te espancou?

Eu o encaro e não falo nada, apenas balanço a cabeça e as lágrimas caem.

_ Por que? Por que ele fez isso? Ele é um monstro, cacete. Eu vou dar uma surra nele.

_ Não, por favor, você não vai fazer nada. Eu já estou acostumado.

Erick se levanta e eu vejo que ele está puto. É nítido que o que eu falei o irritou ainda mais. Eu não deveria ter dito nada, eu não deveria ter ligado para ele.

_ Você está acostumado? Como? Desde quando? E por que? Cacete! Você não tem cara de ter feito nada que mereça nem um tapa!

Abaixo meus olhos, eu não quero encara-lo. Eu sei que não vai ser algo que vou poder retirar.

_ Desde sempre. Desde que me lembro, ele sempre fala que a culpa é minha, eu sou mais "meigo" "tenho trejeitos demais" "tenho uma voz muito fina" . Enfim... desde que ele percebeu que sou gay, ele me bate, ele me espanca, pois é a forma dele deixar claro que não aceita o filho que tem. Eu não sou nada que ele esperava. Você sabe, Erick, todo mundo que me olha sabe. Você sabia antes mesmo deu falar algo. E ele também sabe, eu não preciso dizer nada. Ele sabe e não aceita.

Erick para na minha frente e eu olho para cima o encarando.

_ Eu não acredito, esse filho da mãe é um monstro! Ele nunca deveria te tratar assim. Você é gay e daí? Qual o problema? Ele não vê que você é um filho legal? E sua mãe, eu achei que ela faria algo.

_ Minha mãe só aceita, é mais fácil... - digo com dor, mas é a verdade.

Erick me ajuda a limpar meu rosto e não diz mais nada e eu agradeço. Não tem muito o que fazer é estar tão próximo dele mexe demais comigo. Só que eu não posso dizer nada, eu não posso... se ele souber o que estou sentindo ou o que acho que sinto vai me afastar e eu não posso perdê-lo...

Me deito na cama dele, Erick acaba falando que irá dormir no sofá e mesmo depois deu ter relutado em aceitar, ele não cedeu. Olhando para o teto do seu quarto eu penso em tudo que aconteceu e vem acontecendo e penso que seria mais fácil se eu não existisse mais.

Reviro para um lado e para o outro e pego o celular, tem mensagens do Félix e do Ramon, mas não respondo ninguém. Eu não quero mais falar nada, só quero que essa dor que eu estou sentindo suma...

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