Marco - 18 anos
— Acho que você deslocou o meu queixo — Wade disse, examinando o corte no lábio.
Fechei o armário da academia com um golpe, meu corpo inteiro doendo após passar quase duas horas treinando contra um saco de areia, e depois dentro de um maldito ringue, levando tantos socos e chutes que pontos de luz piscavam diante dos meus olhos.
— Agradeça por ainda ter todos os dentes depois de ter feito isso em mim. — Apontei para o corte no supercílio, cujo sangramento tinha levado uma eternidade para estancar.
Wade abriu o seu melhor sorriso de merda.
— Esse soco foi tão lindo que pude ouvir seu cérebro tocando sinos. Talvez eu devesse tentar carreira na liga profissional do MMA.
— Talvez não devesse contar tanto com a sorte — disparei. — Você só conseguiu me acertar porque eu estava distraído.
— Eu sei que meus músculos são impressionantes, você não é o primeiro a ficar abalado com a visão desse conjunto aqui. — Ele ergueu a blusa, revelando os oito gomos esculpidos em seu estômago.
Ergui uma sobrancelha.
— Desde quando começou a ficar desesperado por elogios?
Wade me mostrou o dedo do meio, antes de voltar a arrumar suas coisas.
Eu era naturalmente rápido, calculista e letal em uma luta, mas Wade tinha a força de um gorila, com a capacidade de erguer um trator com as próprias mãos. Eu precisava ser rápido para conseguir levá-lo até o chão antes que fosse nocauteado. Wade estava focado em melhorar sua velocidade, me forçando a gastar mais energia em uma sequência de golpes calculados que não chegaram nem perto de ser eficazes, por culpa de uma certa ruiva que não saía da minha cabeça.
O resultado foi a merda de um corte no supercílio, costelas doloridas e uma coleção de novos hematomas.
— O que está acontecendo? — Wade apoiou o quadril na pia do vestiário e cruzou os braços, os bíceps esticando tanto o tecido da camiseta que pareciam prestes a rasgá-la. — Você esteva com a cabeça enfiada na própria bunda hoje e sua velocidade estava uma droga.
— E ainda assim você apanhou.
— Não fui o único que saiu do ringue precisando de um curativo — rebateu, ficando sério. — Fale comigo, irmão.
Muitas coisas me incomodavam, mas tudo sempre ficava em segundo plano quando havia algo relacionado com Kate. De uma maneira vergonhosamente obsessiva, ela sempre vinha em primeiro lugar para mim. E eu preferia levar uma surra completa a dizer isso em voz alta ou confessar ao meu melhor amigo que minha cabeça vinha elaborando muitas cenas inadequadas com sua irmã mais nova. Cenas que me faziam acordar diariamente com uma maldita ereção que eu não conseguia resolver.
Eram sonhos com Kate sorrindo contra o meu travesseiro, nua entre meus lençóis, seu longo cabelo vermelho espalhado sobre meu peito enquanto me beijava com mais profundidade do que o toque que tivemos no velório de sua mãe.
Eu a queria gemendo meu nome.
Seu corpo apertado recebendo meu pau.
Suas unhas formando meias-luas nas minhas costas.
Eu a queria gozando tão forte que faria o mundo inteiro estremecer.
Eu acordava todo suado, sem fôlego e com uma excitação tão dura que era capaz de martelar pregos. Kate havia se instalado sob a minha pele como uma coceira. Não importava o quanto eu tentasse ocupar minha mente com outras coisas, ela sempre voltava para me assombrar; cutucando, sussurrando, me enlouquecendo.
Minha necessidade por ela havia piorado como se eu não passasse de um animal sedento por comida. Tinha perdido as contas de quantas noites passei olhando para a janela do quarto dela, considerando as chances de ela não me matar, caso eu invadisse sua cama e a beijasse de verdade.
Mas eu não era louco de dizer isso a Wade.
— Acho que estou pensando demais sobre o alistamento. Planejamos isso por tanto tempo que parece um pouco surreal estarmos tão perto agora.
— Porra, e eu não sei? — Wade suspirou, passando a mão pela cabeça raspada. — Só mais alguns meses e daremos o fora dessa maldita cidade, dizendo adeus aos nossos colegas de merda e a tudo que vivemos aqui.
— Por mais que eu esteja satisfeito com tudo o que conquistei desde que cheguei aqui, é como se estivesse preso em uma bolha. Sinto que preciso de mais.
— Você ainda conheceu algumas coisas antes de se mudar para cá. Não sei que tipo de merdas você encarou, mas eu preciso sair dessa porra de cidade e ver o que o mundo tem a oferecer. Juro que ficaria louco se tivesse que viver pelo resto da vida em um lugar onde a coisa mais emocionante é a polícia sendo chamada para resgatar um gato preso na árvore.
Ele não fazia a mínima ideia do tipo de coisas que meu pai tinha me ensinado a fazer. Até certo ponto, eu entendia o tédio de Wade diante de tanta tranquilidade, mas para alguém que cresceu no submundo do crime, Paradise era uma carícia no meio do inferno.
— Nem tudo aqui foi sempre tão pacífico.
— Parece que foi ontem que você deu um soco em Big Jorge — lembrou Wade, começando a rir. — Você sempre foi um filho da puta violento. Nós vamos arrasar na Marinha. Verdadeiros SEALs até os ossos.
— Samuel está mesmo considerando ir para os Fuzileiros Navais?
— Ele acha que os fuzileiros têm mais sucesso com as mulheres.
— Como se ele precisasse de mais bocetas.
Wade abriu a boca para dizer algo quando o som de seu celular o interrompeu. Caçando-o dentro do bolso da calça jeans, olhou para o visor que exibia o nome de Sam.
— Falando na prostituta da família — grunhiu ele, atendendo.
Eu teria continuado a rir, se não tivesse notado a mudança na postura de Wade, seus ombros ficando duros, a forma lenta como sua cabeça virou, seus olhos sérios prendendo os meus.
Algo queimou no meu estômago.
— O que aconteceu?
— Onde? — Wade praticamente latiu. — Eu não acredito nessa merda! O que você estava fazendo que só descobriu isso agora?
Em um movimento rápido, tirei o celular da mão de Wade a tempo de ouvir Sam dizer:
— Como eu ia saber o que Kate tinha programado para hoje? Pensei que ela ficaria fazendo as unhas ou lendo a porra de um livro, como sempre faz aos fins de semana, não que iria à porra de uma festa da Marshall.
Eu já estava correndo até o estacionamento do ginásio.
— Se algum filho da puta se aproximar dela, você o derruba, entendeu?
— Eu estou a caminho agora, uma das minhas garotas que me mandou uma mensagem me avisando tê-la visto.
— Me envie uma mensagem quando chegar e se certifique de achá-la. Eu não quero nenhum filho da puta perto dela, Samuel. — Sem esperar por uma resposta, joguei o celular para Wade e deslizei para dentro do meu carro.
— Ela está na festa da Cindy — Wade informou o que eu já sabia.
Sim, as festas de Marshall eram conhecidas por serem pesadas, escandalosas e com uma temática muito específica.
Caralho.
A raiva correu solta pela meu sistema em uma pulsão assassina que há anos eu não sentia. Apertando os dedos ao redor do volante até as pontas ficarem brancas, pisei fundo.
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Borboleta
Romance* Paraíso | LIVRO 0.5 * Existem escolhas que trazem consequências irreversíveis. Um sonho arruinado. Um amor destruído. Uma vida interrompida. Kate O'Connell não queria morrer. Marco Castellari queria ter matado o próprio pai quando teve a chance. D...