Capítulo 22

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Marco - 20 anos

A sensação de estar em casa quando eu chegava a Paradise levou um longo tempo para se estabelecer dentro de mim. Na verdade, isso só aconteceu quando meu caminho se cruzou com o de Kate. Pouco a pouco, aquela cidade foi ganhando espaço dentro de mim. Até o dia em que me deparei desejando criar raízes ali.

De certo modo, Paradise foi onde renasci. E isso só foi possível por causa de Kate. Minha garota me ensinou a amar aquele lugar com a mesma intensidade que eu a amava.

No final, era ela o meu verdadeiro lar.

Então, quando alguém arromba a porta da sua casa e faz com que a violência irrompa seu espaço sagrado, quebrando suas coisas e manchando as paredes com mãos imundas, você só consegue pensar que o filho da puta precisa pagar.

Por mais que eu tenha me afastado da máfia, a máfia nunca me deixou ir de verdade. Eu sempre seria um legítimo filho da Famiglia, por mais que tivesse renegado meu pai. Sangue é sangue. E, naquele momento, o meu pulsava com a mesma necessidade carregada e distorcida de quando realizava trabalhos para Don Salvatore.

Precisei fazer duas ligações. Uma para conseguir uma dispensa excepcional da Academia e outra para conseguir todas as informações de que precisava.

Assim que o portão da Academia bateu às minhas costas, meus olhos localizaram uma Mercedes preta estacionada no meio fio. Um motorista correu para abrir a porta do passageiro.

— Senhor Castellari — ele cumprimentou, inclinando a cabeça quando me aproximei.

— Quem o enviou?

— Estou aqui às ordens do senhor Rossi.

Vittório Rossi.

O cão de guarda que meu pai adotou, responsável por ser meu substituto. Isso me fez sorrir internamente. Não importava o quanto Rossi se esforçasse para ser o melhor e derramasse o próprio sangue para honrar o legado de Salvatore, ele jamais seria eu.

— Pagarei o dobro se fizer a viagem na metade do tempo — eu disse, entrando no carro.

O pobre homem quase se sufocou no próprio assombro, antes de correr para alcançar o volante e pisar fundo.

Foi uma viagem silenciosa, meus olhos presos na estrada, lembrando-me da fisionomia de Kate. O nariz quebrado, o lábio cortado, os hematomas cobrindo seu maxilar. Meus punhos estavam cerrados como pedras, quando o motorista me deixou na frente do hospital.

As portas automáticas se abriram e fui até o balcão de atendimento.

— Estou aqui para ver Katherine O'Connell — informei.

— Só podemos liberar os familiares. Você é parente? — a enfermeira de plantão perguntou, franzindo o cenho.

Antes que eu pudesse responder, uma nova enfermeira surgiu, a estrutura pequena quase sumindo no uniforme privativo em que o nome Poppy Miller estava bordado.

— Está tudo bem, Nancy. — Ela sorriu amavelmente, os olhos cor de chocolate a fazendo parecer um filhotinho adorável. — Ele é o noivo da paciente. Vou levá-lo até ela. Por favor, siga-me.

Ela girou nos calcanhares e começou a caminhar. Assim que viramos a esquina, sua mão deslizou para dentro de um bolso e, discretamente, ela me entregou uma seringa.

— Quarto 357. — A fisionomia angelical de Poppy desapareceu e uma carranca vazia assumiu suas feições. — Você tem cinco minutos. — Seus lábios se torceram maliciosamente. — Don Salvatore manda lembranças, aliás.

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