Capítulo 12

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Kate - 15 anos

Mamãe queria uma filha bailarina.

Eu queria ser uma soldada das Forças Especiais.

Mamãe amava me ver dançar. Ela dizia que um dos seus grandes sonhos era me ver em uma apresentação grandiosa com teatro lotado. Girando na ponta dos pés, os braços posicionados em arcos graciosos, meus movimentos sendo mais leves do que uma ondulação na água.

E a cada vez que eu via seu rosto se iluminar com orgulho e satisfação, era uma nova facada no meu coração. Eu não podia destruir seus sonhos, dizer a ela que todas as vezes que eu tinha que ir para a academia ensaiar eram como estar caminhando em direção à minha própria execução.

Eu não podia dizer à minha mãe que odiava o balé.

Então por ela eu continuei dançando.

Até o dia que não precisei mais.

Acordei com os soluços do papai. Sam e Wade estavam diante da porta do quarto, quando saí para ver o que estava acontecendo. Caminhei lentamente até eles e vi, entre a fresta de seus braços, papai segurando o corpo inerte de mamãe sobre a cama, chorando como um homem desesperado, cujo mundo ruía, escapando entre seus dedos como grãos de um castelo de areia, os quais ele não sabia juntar.

A mão de Sam procurou a minha, seus dedos gelados apertando os meus enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto. Wade apenas encostou o ombro no meu enquanto tentava se manter firme e forte em um momento em que tudo ao nosso redor parecia desmoronar.

O velório de mamãe aconteceu em um fim de tarde nublado, que ameaçava chuva. Eu não saberia dizer se era a forma que os anjos haviam encontrado para nos consolar, enviando um dilúvio para lavar todas as nossas lágrimas, ou se limpavam a poluição do céu para receber a alma dela.

O cemitério estava lotado com cada cidadão de Paradise disposto a dar adeus a uma das mulheres mais fortes e generosas de todo o condado. Recebi abraços e condolências com agradecimentos automáticos. Era difícil respirar quando as pessoas não paravam de me lembrar o motivo de estar com falta de ar.

Senti uma mão em meu ombro e me deparei com os olhos marejados de Eleonor. Seu abraço foi tão quente e reconfortante que, por um momento, senti como se fossem os braços da minha própria mãe em volta de mim. Sem conseguir me controlar, enterrei o rosto em seu ombro e tentei puxar um pouco de ar.

Nada.

— Sinto muito, querida. Com todo o meu coração, sinto muito — Eleonor sussurrou. — Foi por pouco tempo, mas conhecer sua mãe e tê-la como amiga foi uma das maiores honras com que a vida me presenteou. — Ela beijou minha testa antes de abraçar meus irmãos.

A brisa do cemitério me acertou com um perfume adocicado. Orquídeas, rosas e lírios. Cada flor perfeitamente colocada em um ornamento que servia para dar um pouco de beleza a um lugar cheio de escuridão.

Ar.

Eu precisava de ar.

Eu precisava de algo que tirasse o cheiro da morte da minha mãe de dentro de mim.

Ignorando as pessoas presentes e a voz do meu pai me chamando, caminhei para o mais longe possível, passando entre fileiras de lápides e buquês secos. Um trovão rompeu ao longe e uma garoa fina começou a cair. A cada passo, os ruídos das vozes ficavam mais abafados. Quando alcancei uma das pontas mais distantes do cemitério, deixei o peso do meu corpo cair sobre o tronco de um salgueiro. A chuva se intensificou, e o único barulho ao meu redor era o da água contra os galhos da árvore que fornecia alguma cobertura.

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