Kate - 18 anos
Jane estava completamente bêbada.
Eu não podia culpá-la por querer afogar o gosto amargo do ciúmes e da decepção que a rasgaram por dentro ao longo da noite conforme observava o próprio namorado sendo acariciado por um grupo de mulheres. E Derek, sendo o grande idiota que era, não fez absolutamente nada para afastar as groupies que o rodeavam como mariposas famintas pela chama. Ele se jogou nelas, sorrindo para cada proposta indecente que sussurravam em seu ouvido ou rindo exageradamente quando tentavam beijá-lo. Ou lambê-lo.
Observei com um nojo resignado quando uma das mulheres pousou a mão no peito dele, as unhas arranhando a pele à mostra pela camisa aberta. Derek abriu um sorriso predador quando a mão começou a descer.
E descer.
Então ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, em êxtase.
Eu deveria acabar com tudo isso e apenas levá-lo até o banheiro e empurrar sua cabeça para dentro do vaso. Ele não seria o primeiro artista a morrer aos vinte e sete anos.
Cassie e Mary estavam perto da piscina, sentadas nas espreguiçadeiras, conversando. Pelo olhar no rosto de ambas, elas também não estavam felizes.
Foi quando algo inesperado aconteceu.
A música ambiente parou abruptamente e o som desafinado de microfonia cortou todo o salão em um rajado aflitivo.
— Ah, merda! — gemi, lançando um olhar para o lugar em que Derek havia feito Jane ficar, como um cachorrinho obediente enquanto se apresentava no palco e depois ia festejar, esquecendo-se dela completamente.
O lugar estava vazio.
— Boa noite, senhoras e senhores. — A voz embriagada de Jane vazou dos autofalantes de repente, ecoando por todo o espaço em uma sonoridade preguiçosa.
Eu me virei em direção ao palco como se tivesse acabado de receber um choque.
— Gostaria de agradecer a todos que estão aqui. — Ela se apoiou no microfone preso ao pedestal, os olhos meio fechados por causa do jogo de luzes que ainda iluminavam o palco. — Como devem saber, a indústria da música é extremamente difícil. Você precisa ser muito talentoso para conseguir se destacar entre centenas de artistas que sonham com seu pedaço na calçada da fama. — Jane fez uma pausa, o peito subindo em um soluço. — Por isso que a indústria está cheia de cantores de merda, porque eles estão mais preocupados com o dinheiro do que com o talento. Como meu namorado, Derek, bem ali. Oi, amor.
Um riso coletivo borbulhou na plateia. Estavam todos tão focados em Jane que ninguém reparou na mudança em Derek.
Mas eu vi.
Porque estive olhando para o bastardo a noite inteira.
O rosto relaxado e sedutor que ele exibiu a noite inteira deu lugar a uma carranca assustadora. Os olhos azuis pareciam pulsar com um ódio tão profundo que seus braços começaram a tremer.
— Eu sei, eu sei. Ele é lindo, não é? — Jane ergueu a perna e, depois de três tentativas, conseguiu se acomodar no banquinho perto do microfone. — E talvez esse seja o problema hoje em dia. A falta de talento é mascarada com a beleza, e, no final, estamos sendo verdadeiras cadelas que só sonham em transar com o astro de rock que não sabe cantar, mas que pelo menos sabe foder. — Ela soltou um longo suspiro. — Bem, como uma forma de agradecer ao apoio de vocês à banda sem futuro de Derek, eu quero cantar uma música que escrevi há algum tempo sobre cantores de verdade que lutam por seu lugar ao sol, mas jamais tiveram o devido reconhecimento. Eu a nomeei de "seus sonhos não morrem sozinhos".
Jane se inclinou para pegar o violão apoiado contra o banquinho. O responsável pela iluminação foi para o lado do palco, apertando alguns botões e fazendo toda a luz do salão se apagar lentamente, deixando Jane com todo o destaque. Seu cabelo loiro brilhou como raios de sol quando ela voltou a erguer a cabeça para encostar os lábios no microfone.
E então ela começou a tocar. Os dedos deslizando pelas cordas do violão como um amante apaixonado adorando o corpo de sua musa. Como alguém que dedica cada batida do seu coração a algo que ama verdadeiramente.
E Jane Cole amava a música.
Talvez seja difícil acreditar
Estamos acostumados a olhar para as sombras
Mas você precisa se lembrar
Que para haver escuridão,
a luz também precisa brilhar
O timbre rouco de sua voz chegou a cada um de nós em uma vibração potente. A melodia ressoando suavemente enquanto Jane segurava o violão contra o peito como se segurasse a própria vida.
E, de certa forma, ela estava.
Jane estava revelando uma parte essencial de si mesma para uma plateia de desconhecidos, mas tanto eu quanto Mary e Cassie a conhecíamos o suficiente para entender a sua intenção de mostrar ao homem que deveria compartilhar o mesmo sonho que ela que ele não era digno de viver da música.
Nossas desilusões não são eternas
Agarre seus sonhos e siga em frente
E mesmo se nada der certo
Quero que saiba, amor
Seus sonhos não morrerem sozinhos
Ela continuou cantando, soltando cada nota em um timbre tão profundo que envolveu cada pessoa presente em um feitiço. Os acordes seguiram acompanhando as estrofes em uma junção perfeita da voz de Jane e seus dedos no violão. Ela continuou cantando, com a clareza de uma pessoa sóbria e a experiencia de uma verdadeira estrela.
Até que a música chegou ao fim.
E todo palco se apagou em uma finalização dramática.
Foi o tempo de eu me lembrar de voltar a respirar quando tudo ao meu redor explodiu em uma salva de palmas estrondosas e gritos histéricos.
— Ela foi incrível! — Mary gritou ao meu lado antes de enfiar dois dedos entre os lábios e assobiar tão alto que quase fez meus tímpanos sangrarem.
— ESSA É A MINHA IRMÃ! — Cassie gritou. Eu a encarei com as sobrancelhas erguidas. Ela só balançou os ombros e continuou aplaudindo.
As luzes se acenderam e todos sentiram a expectativa de olhar novamente para a cantora que levou cada pessoa naquela casa a uma loucura eufórica. O problema foi que, quando o palco se revelou novamente, o banquinho estava vazio, e o violão, abandonado.
Jane não estava ali.
E Derek também havia sumido.
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Borboleta
Romance* Paraíso | LIVRO 0.5 * Existem escolhas que trazem consequências irreversíveis. Um sonho arruinado. Um amor destruído. Uma vida interrompida. Kate O'Connell não queria morrer. Marco Castellari queria ter matado o próprio pai quando teve a chance. D...