Capítulo 5

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Marco - 14 anos

Wade estava certo quando disse que Kate O'Connell era um desastre natural. Mas ela era o meu desastre natural.

Se houvesse no Guinness Book a categoria "pessoa mais feliz do mundo", o nome dela provavelmente estaria ali junto com uma foto. O mais surpreendente era que a alegria exagerada dela não me irritava como a das outras pessoas, mas acalentava a saudades que eu sentia de Alina.

Por outro lado, com a mesma facilidade com que ela sorria para os outros, ela me fuzilava com aqueles impressionantes olhos de ouro, como se me ver fosse estar diante do próprio Anticristo. E eu não podia culpá-la por me odiar.

As coisas entre nós começaram mal por minha causa.

Muito mal.

Wade me convidou para jogar basquete em sua casa no dia seguinte ao que nos conhecemos, o que me fez conhecer Samuel também. Até então, Kate era apenas um nome sem rosto, uma figura citada como um tornado desgovernado que só criava dores de cabeça.

Samuel, diferente de Wade, era magro e esguio, com cabelos loiros e parecia carregar uma aura angelical que fazia todas as garotas do bairro suspirarem por ele. Chegava a ser ridículo como elas desfilavam em suas bicicletas pela rua apenas para cumprimentá-lo.

— Por que não faz algo de útil e usa esse seu brilho de Príncipe Encantado para fazer essas garotas nos trazerem um pouco de limonada? — Wade resmungou assim que fez mais uma cesta.

— Eu aceitaria uma toalha também — comentei, tirando minha camiseta para secar o suor da testa.

Sam revirou os olhos antes de conseguir roubar a bola de Wade, correr até a cesta e saltar, marcando mais um ponto.

— Deixem o meu fã-clube em paz e tentem arranjar o de vocês.

— Se elas já são insuportáveis agora, quando crescerem teremos que colocar uma cerca elétrica em volta da casa para mantê-las afastadas. — Wade me encarou. — Ele recebeu tantos cartões no Dia dos Namorados ano passado que o Greenpeace veio até a cidade e iniciou uma campanha de reflorestamento.

Sam jogou a bola em Wade, acertando-o no peito.

— Você está com ciúmes porque o único cartão que recebeu foi da mamãe!

Como Wade estava distraído xingando Sam, usei isso ao meu favor para roubar a bola dele e tentar fazer uma nova cesta, mas antes que pudesse lançar a bola, uma voz alegre soou, me paralisando.

— Posso jogar com vocês?

Foi quando nossos olhos se encontraram e também foi quando o meu coração parou. Ela ficou me encarando, piscando aqueles olhos que tinham a cor mais linda do mundo, enquanto esperava por uma resposta que eu simplesmente não conseguia articular, porque a droga do meu cérebro havia pifado.

Por um momento, esqueci como respirar, porque aquela garota ruiva, pequena, delicada e tão encantadora quanto uma fada estava diante de mim como uma aparição mágica.

Eu jamais tinha visto algo tão bonito. Mesmo sendo novo demais para ter esse tipo de percepção, eu já tinha conhecimento do lado mais escuro do mundo, por isso foi fácil reconhecer o lado mais brilhante. E ele estava bem ali, na minha frente, com longos cabelos vermelhos. Contudo, em um reflexo de autodefesa diante de uma ameaça desconhecida, eu precisei estragar tudo ao abrir a boca e dizer:

— Com todo esse tamanho não vamos conseguir te enxergar direito e você vai acabar beijando o chão.

Seu semblante suave murchou como se tivesse acabado de receber um golpe. Em seguida, cada um de seus traços se transformou em uma superfície vulcânica, junto com um brilho perigoso em seus olhos que serviu apenas para torná-la ainda mais fascinante.

Estava tão hipnotizado que não vi aquela baixinha se mover na velocidade de um relâmpago e seu pequeno punho acertar meu queixo com uma força impressionante. A surpresa de ser golpeado por uma garota não me fez apenas tropeçar em meus próprios pés, mas também cair no chão sem qualquer dignidade.

Olhei para cima, perplexo.

— Quem está beijando o chão agora? — ela rosnou antes de sair batendo os pés.

Ouvi Sam e Wade gargalharem atrás de mim. Meu queixo latejava e provavelmente ficaria com uma pequena marca roxa, mas não era nisso que minha mente estava focada.

— Estou indo para casa — falei, ignorando os dois idiotas atrás de mim, que continuavam rindo.

— Ei, acho que tem um dente seu aqui! — Sam gritou.

Minha visão se tingiu de vermelho.

Lancei um último olhar pelo caminho que Kate havia percorrido, minha mente rapidamente considerando se ela tinha machucado a mão ao me bater.

Foda-se.

Eu não poderia me importar menos com isso. Ela tinha furado completamente as minhas barreiras e invadido meu espaço pessoal, chegando tão perto que foi capaz de me tocar.

E eu pude ver os riscos de um ouro mais escuro em seus lindos olhos. Sentir o perfume de suas roupas. O roçar macio de seu cabelo contra minha bochecha.

Balancei a cabeça. Meu coração parecia um cavalo furioso contra meu peito. Eu não podia permitir que ninguém chegasse tão perto assim. Era perigoso demais. Arriscado demais. Eu era praticamente uma bomba relógio pronta para detonar e isso poderia ferir qualquer pessoa que estivesse ao meu lado.

E algo me dizia que Kate O'Connell tinha uma enorme possibilidade de se transformar no meu botão de detonar. Isso fazia com que eu tivesse somente uma opção.

Eu precisava mantê-la longe de mim o máximo possível. Mesmo que essaideia parecesse tão amarga quanto o gosto de sangue na minha boca.

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