Kate - 28 anos
O elegante papel da carta foi consumido pelas grosseiras dobras que meus dedos fizeram quando o amassei com força.
Desviei o olhar das palavras educadamente escolhidas para recusarem o meu pedido formal de transferência... pela sexta vez. Eu conseguia ouvir a voz polida do meu comandante narrando aquela carta com a mesma emoção com que estava acostumado a usar para sugar a vida das pessoas.
Teria sido menos doloroso se tivessem me mandando ir me foder e parar de encher o saco com aquela ideia estúpida de tentar agarrar algo que minhas mãos não seriam capazes de sustentar. Eu era uma tenente responsável pelo planejamento estratégico de resgates. Nossos melhores soldados entravam em terrenos hostis seguindo as minhas coordenadas e voltavam seguros para casa.
Eu controlava cada respiração que eles davam em campo. E enquanto esses homens colocavam suas vidas em riscos, enfrentando o real perigo no meio da selva, do deserto, de alguma região tomada por guerrilhas ou terroristas, eu estava segura e aquecida atrás de uma maldita mesa de escritório.
Lendo pilhas de relatórios.
Estudando mapas e perfis psicológicos.
Calculando rotas.
Foda-se.
Eu não tinha encarado anos de treinamento no inferno para acabar despejada dentro de um escritório. Eu merecia mais. Minhas habilidades eram melhores do que isso.
Joguei a carta sobre a mesinha da sala como se minha mão estivesse queimando. Olhei para o apartamento que eu e Marco alugamos na cidade enquanto a rústica casa que compramos em Paradise ainda passava por reformas. Eu sentia falta do pouco movimento, de estar rodeada por árvores, em vez de prédios, do ar puro e da vista para o lago.
Eu queria um recanto seguro para despejar minha frustração e reconstruir minha autoconfiança. Peguei meu celular e pressionei um dos meus números de emergência.
— Foi negado — cuspi as palavras.
Cassie soltou um gemido.
— Bando de cretinos — ela rosnou entre os sons de panelas e pratos se chocando violentamente. — Você seria a melhor agente em campo que a Marinha poderia ter, mas preferem ignorar isso porque estão ocupados demais olhando para o próprio rabo regressista. Já chega, Kate. Diga para todos irem à merda e abra a sua própria empresa.
— Marco saiu há poucos meses dos SEALs para abrir uma empresa de segurança privada, não posso ser uma concorrente do meu próprio noivo.
— Então diga ao seu homem que você vai trabalhar com ele.
— Já tentei sugerir isso uma vez, mas ele foi extremamente...
— Possessivo? Protetor? Dominante?
— Ele tem medo do que pode acontecer comigo caso algo dê errado no meio de alguma missão.
— O medo dele não pode ser uma desculpa para oprimir os seus sonhos — Cassie disse, irredutível. — É incrível como os homens se apegam à clássica desculpa de querer o nosso bem quando, na verdade, estão subestimando nossa capacidade. Que todos se fodam!
A amargura em sua voz estava tão carregada que acendeu uma suspeita em mim.
— Você e Benjamin brigaram de novo? — perguntei com cuidado.
A relação de Cassie com o namorado nunca foi exatamente um passeio divertido. Ela tinha começado a pensar em estabilidade, como casamento e filhos, enquanto o modelo de cuecas Calvin Klein seguia encarando a vida como uma enorme passarela.
