Borboleta

Capítulo 10

Kate - 14 anos

O parque de diversões começou a ser construído com a intenção de atrair mais turistas. Paradise era uma cidade tipicamente litorânea, com restaurantes de frutos do mar, pousadas charmosas e diversas lojas de souvenirs. Na alta temporada, era normal ver mais lanchas e veleiros percorrendo os canais para mar aberto ou casais em passeios românticos em barcos a remo.

Com a inauguração do parque, foi um pouco estranho ver a cidade lotada fora da época de férias.

Passei os últimos dias pensando em como pedir a Marco para me acompanhar no passeio da roda-gigante sem parecer desesperada ou medrosa demais. O medo de altura era um problema com o qual eu conseguia lidar, não era como se eu precisasse escalar o pico de uma montanha todos os dias ou saltar de penhascos.

Mas a roda-gigante era como um enorme sol brilhando contra o breu da noite, com uma altura impressionante, repleta de cabines de vidro que se penduravam na ponta de vigas de aço. Só de olhar para a cabine no ponto mais alto, balançando suavemente contra o vento como uma folha quase se desprendendo do galho, meu estômago revirou.

Mas eu ainda queria ver as luzes da cidade lá do alto.

Devia ser realmente incrível assistir a uma queima de fogos no topo da roda-gigante, ou às ondas se chocando contra os rochedos do farol, ou ter seu primeiro beijo com a sensação de estar mais próximo da lua.

Eu queria experimentar tudo isso com Marco.

Procurei por qualquer sinal dele ou dos meus irmãos. Luzes coloridas e balões preenchiam todo o horizonte, conforme as pessoas passavam por mim em um enxame de entusiasmo e risadas.

Eu estava quase indo em direção à Casa dos Espelhos quando ouvi meu nome além do murmurinho da multidão.

— Kate! Kate, aqui!

Era tão fácil localizá-la quanto a um incêndio no alto de uma colina. Com toda a beleza impressionante de uma modelo que conhecia os holofotes desde os cinco anos de idade, sendo uma adolescente agora, não restava dúvidas de que Mary Ramirez era uma verdadeira flor cubana que trilhando o caminho para as mais famosas passarelas do mundo. O longo cabelo de azeviche roçava na altura do seu quadril conforme ela saltava na fila para a montanha-russa. A pele azeitonada brilhando como se a lua e as estrelas tivessem surgido no céu somente para adorá-la.

Ela continuou balançando o braço, tão entusiasmada e escandalosa quanto uma líder de torcida no auge da apresentação, fazendo com que as gêmeas Cole, ao seu lado, parecessem prontas para cavar um buraco no chão e se jogarem dentro dele.

— Ela já te viu, Ramirez, agora pare de socar os seus peitos na minha cara, estou quase perdendo um dente aqui. — Ouvi Jane resmungar, os olhos marcados por uma camada generosa de lápis preto varrendo o parque com uma careta, provavelmente considerando ofensiva qualquer coisa que não estivesse dentro do universo alternativo da banda Evanescence.

— Querida, sinta-se privilegiada por estar tendo a visão das verdadeiras bolas de ouro do país. Qualquer um adoraria enfiar a cara no meio destes vales — Mary provocou. — Venha, chegue mais perto e dê uma boa olhada nos presentes que Deus me deu.

— Se você chegar mais perto de mim, o único vale que estará conhecendo será o do inferno, quando eu te enviar para lá em uma viagem de primeira-classe — Jane rosnou.

— Eu posso levantar a minha blusa e te mostrar o verdadeiro tesouro escondido dessa viagem. — Seu sorriso perolado era como uma supernova.

— Pelo amor de Deus, não comece a tirar a roupa! — Cassie gemeu, o rosto de boneca de porcelana praticamente escondido dentro do capuz de seu moletom favorito. E eu sabia que era o seu favorito porque estava coberto com estampas da fórmula da relatividade e uma foto de Albert Einstein.