Capítulo 24

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Kate - 29 anos

Eu era uma informante, uma espiã.

E só quando era tarde demais que descobri que também era descartável.

Apesar de ser o canal de comunicação entre o submundo das máfias e a central de comando do grupo das forças especiais de Kowalski, sempre desconfiei de qual teria sido a real motivação do vice-almirante ao me escolher para compor seu time de soldados fantasmas.

Tudo o que precisei fazer depois foi estabelecer contatos, coletar informações que ajudassem o grupo paramilitar de Kowalski a localizar Carlos Revera.

Mas claro que tudo deu errado.

Os homens de Revera acabaram desconfiando da bela ruiva que fazia as negociações de mercadorias que nunca chegavam ao local combinado, porque uma batida policial sempre acontecia no lugar certo, na hora certa.

Aprendi rápido que traficantes não acreditavam em coincidências. Não dava para ser arrogante e pensar que estava a um passo à frente deles quando jogava com um baralho de cartas desconhecidas.

Eu tinha a inteligência, mas não tinha o conhecimento dos trâmites do crime organizado. Eu não sabia jogar aquele jogo de acordo com as regras deles.

Quando as coisas vão mal, o peão é a peça entregue para sacrifício.

E eu era o peão.

Quando meu disfarce caiu por terra e minha cabeça foi colocada a prêmio, a ação mais rápida em que consegui pensar foi me fazer desaparecer antes que meus inimigos descobrissem a minha verdadeira identidade e começassem a caçar a minha família.

Minha mão congelou sobre a porta aberta do meu carro.

Lancei um olhar para a câmera de segurança do estacionamento, meus olhos ardendo. Eu podia ouvir minha própria alma gritando, debatendo-se dentro de mim para me impedir de fazer aquilo.

Meus dedos se fecharam contra o metal frio da porta enquanto eu encarava a câmera, ciente de que Marco iria repassar aquela gravação tantas vezes que acabaria sonhando com todos os detalhes. Ele olharia cuidadosamente os meus movimentos, tentaria ler as expressões em meu rosto, buscaria por cada pista que mostrasse que algo estava errado, qualquer sinal que o levasse a um culpado para a minha tragédia.

Mas ele não encontraria nada.

Com um último olhar para câmera de segurança, ofereci minha última imagem com vida, tentando mostrar as últimas batidas do meu coração para o único homem que seria capaz de ouvi-lo.

Ouça meu coração, Marco. Ouça cada pedaço que estou deixando para você.

Os pneus cantaram contra o asfalto quando pisei fundo, deixando um cheiro de borracha queimada no ar quando me coloquei na estrada, dirigindo com os faróis no máximo, as janelas abaixadas, uma das mãos para fora para sentir o vento gelado.

Havia uma bola de culpa que se expandia a cada quilômetro em meu peito. Apertei o volante com uma das mãos, o couro rangendo sob meus dedos.

O diamante e as jades do meu anel de noivado brilhavam sob as luzes dos postes da estrada, refletindo todo o futuro que eu destruía. Eu e Marco tínhamos combinado de marcar a data do casamento na próxima semana.

Agora eu o faria organizar um enterro.

O primeiro soluço escapou de mim, ecoando pelo silêncio sufocante do carro. Tentei cobrir cada soluço do meu pranto com a mão, mas o som da minha ruína conseguiu deslizar entre meus dedos.

Acelerei ainda mais, ultrapassando todos os limites de velocidade.

Entrei na trilha que levava para a estrada do desfiladeiro, as curvas mais acentuadas e perigosas — normalmente percorridas com auxílio de guias turísticos e todas as medidas de segurança previamente tomadas. Guiei o carro até o ponto combinado e, por um momento, meu pé hesitou contra o acelerador. Os faróis iluminavam a escuridão do oceano, a fúria da maré fazendo com que as ondas se chocassem contra os rochedos.

Agora, falei para mim mesma, guiando o carro até a borda do desfiladeiro. Prendi a respiração e apenas fiz o que precisa ser feito. Peguei o celular, abri a porta e saltei. Meu corpo tombou contra o cascalho, girando sobre a poeira da estrada.

Observei quando o carro deslizou para frente, até que as rodas perdessem o contato com o chão e se inclinassem em direção à queda livre. As luzes traseiras dos faróis foram a última coisa que vi quando o carro despencou, o som do metal contra as rochas sendo quase ensurdecedor no silêncio da madrugada.

A explosão da água aconteceu quando a lataria se chocou com o oceano.

Então tudo o que ouvi foi o mais cruel e desesperador silêncio.

Um silêncio que mudou tudo.

Que fez a incisão entre o meu passado e meu futuro. Uma vida repleta de amor e luz para uma vida desconhecida.

Foi um silêncio que ecoou tão alto que quase me forçou a tampar os ouvidos para tentar contê-lo.

Com os joelhos tremendo, caminhei até a beira do desfiladeiro para observar o que restou dos destroços do meu carro. Olhei para o celular e disquei o número que precisei decorar. Fui atendida no primeiro toque.

— Está feito — relatei, minha voz soando estranha, rasgada.

— Muito bem — Kowalski falou, soando tão frio e sem vida quanto eu me sentia. — Seja oficialmente bem-vinda à Delta Force. Você sabe o que fazer.

O vento bateu mais forte contra mim, serpenteando ao meu redor em uma corrente de ar que fez meu cabelo chicotear. Ergui o braço e joguei o celular no mar antes de começar a caminhar pela estrada escura como uma alma perdida.

Sim, eu sabia o que precisava fazer.

Eu precisava me tornar a lembrança de uma mulher que não tinha mais permissão de existir.

Eu precisava me tornar a lembrança de uma mulher que não tinha mais permissão de existir

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