Borboleta

Capítulo 19

Kate - 18 anos

Eu queria ir para a Marinha.

Queria me jogar na linha de frente e lutar ao lado daqueles que colocavam a própria vida em risco para proteger os meus fracos.

Papai não estava aceitando isso muito bem. Havia uma grande possibilidade de ele estar bebendo mais do que o normal desde que lhe contei que estava me alistando após a formatura. E, talvez, diante da forma como ele estava lidando com essa informação, eu estivesse um pouco hesitante em contar para Marco.

Mary, Jane e Cassie estavam acompanhando meus surtos nervosos a cada vez que o nome de Marco aparecia na tela do meu celular.

— Irei contar a ele — eu dizia para elas, ajuntando toda a coragem que podia antes de atender a ligação. E assim que eu o ouvia ronronar:

— Farfalla.

Bum.

Minha mente dava voltas e minha coragem se partia em pequenos pedaços aos meus pés.

— Ele vai acabar descobrindo, sabe... quando você for se alistar — Mary comentou, rodopiando em meu quarto com seu curtíssimo vestido vermelho e saltos altos que poderiam ser usados como espetos de carne.

Ela exalava sensualidade, perdição e sexo sujo. O pesado cabelo descia até sua cintura em uma cascata negra, deixando seus movimentos ainda mais hipnotizantes.

— Apenas conte a ele de uma vez, não é como se Castellari fosse te impedir — Jane terminou de amarrar a linda fita do espartilho preto que usava sobre um vestido de cetim branco.

Eu nunca a tinha visto tão arrumada. O cabelo loiro naquela noite estava com mechas de um rosa suave, deixando-a com um aspecto de roqueira sexy, mas o grande detalhe de seu look estava nas luvas arrastão que iam até os cotovelos, dando-lhe o ar perfeito de uma garota que gostava de ultrapassar limites e se aventurar com o perigo.

— Não temos como ter certeza de que Castellari não vai agir como um homem das cavernas e trancá-la em uma cabana no meio da floresta — Cassie comentou, tirando pregas invisíveis de sua camisa coral e calça branca. Ela estava tão básica e neutra quanto um parede imaculada. Mas essa era Cassie. Sempre rígida, contida e séria.

— Eu não me importaria de ficar presa em uma cabana no meio do nada com um homem como Castellari. — Mary piscou maliciosamente em minha direção. — Você sabe que seu namorado é o pecado encarnado com um pau grande, certo? Mesmo sendo o fruto proibido e intocável para mim, ainda tenho olhos.

— Como você sabe que ele tem um pau grande? — Jane questionou antes que eu pudesse abrir a boca para fazer isso.

— Não tem como ele ser enorme em todos os ângulos da anatomia masculina e não ter um pau proporcional a todos aqueles músculos. Diga a elas que estou certa, hermosa.

— Eu não vou falar do pau do meu namorado com vocês — resmunguei, sentindo minhas bochechas arderem.

Marco sempre fora um adolescente com uma estrutura impressionante para sua idade. Braços fortes e músculos bem definidos, mas, após começar os treinamentos na Marinha, seu corpo praticamente dobrou de tamanho, os músculos se tornando ainda mais duros, rasgados e impressionantes. Se antes ele já era uma visão dos céus, agora era um Deus do Olimpo.

— Por que não? — Jane deu de ombros. — Eu já contei para vocês que Derek é grande o suficiente para me machucar.

— Se ele está te machucando, então não está te tratando direito — Cassie ladrou bruscamente, fazendo com que nós quatro caíssemos em um silêncio tenso.

Bem, aí que estava o grande negócio.

Desde que Jane começou a namorar um aspirante a cantor de uma banda de rock, eu, Mary e Cassie tentávamos não falar muito dele.

Porque odiávamos o cretino.

Nós realmente tentamos gostar de Derek no começo, nos esforçamos para achar alguma qualidade que pudéssemos usar para tornar mais fácil suportá-lo. Mas não tinha nada. Ele era tão intragável e nojento quanto água de esgoto.

Quando Jane percebeu nosso desconforto e ficou profundamente ressentida, entramos em um consenso de não falarmos sobre isso e passamos a ignorar o elefante no meio de nós e seguir como se Jane não estivesse completamente cega por um idiota de nível A.

Mas continuávamos atentas para o caso de surgir alguma marca roxa que denunciasse qualquer tipo de abuso e, se chegássemos a esse ponto, eu estava pronta para entrar em ação e fazer o bastardo sufocar com as próprias bolas entaladas na garganta.

Jane podia quebrar todos os vínculos comigo quando eu fizesse seu namorado desaparecer, mas eu preferia ser odiada por uma amiga viva do que acabar tendo que colocar flores em um túmulo.

No entanto havia momentos que não podíamos fugir de encontrar com Derek. Como naquele dia, em que ele estaria se apresentando em alguma festa e Jane queria que todas nós fôssemos.

Estendi minha mão para calçar meus coturnos quando uma esponja de maquiagem acertou meu rosto.

— Não se atreva a usar essas coisas horrendas — Mary disparou para o meu armário, abrindo as portas em um golpe determinado.

— Qual é o problema com as minhas botas? São confortáveis.

— São uma ofensa a qualquer pessoa com o mínimo conhecimento sobre moda.

— Não sei nada sobre moda — disparei.

— Por isso não posso deixá-la passar vergonha em público, porque sua total ignorância a faz ser a única garota que não se importa em estar bem-vestida.

— Isso é mentira, Cassie também não liga para isso — eu disse, virando-me para Cassie... que estava bisbilhotando uma das revistas de moda que Mary havia levado.

Sacudi minha cabeça, atônita. Ela fechou a revista, parecendo genuinamente envergonhada.

— Bem, é importante saber como se vestir adequadamente para causar uma boa impressão — ela se justificou, abrindo um sorriso fofo. — Não é como se eu pudesse usar qualquer vestimenta para realizar palestras sobre energia sustentável ou tentar uma vaga como pesquisadora em alguma multinacional.

Um par de ankle boots aterrissou aos meus pés, o salto alto me saudando com um latejar que eu já conseguia sentir nos meus calcanhares.

— Até o final da noite não estarei conseguindo andar.

— Você vai sobreviver. — Mary balançou as mãos, como se o prelúdio do meu iminente sofrimento não fosse grande coisa. — Vamos logo, quanto mais cedo chegarmos na festa, mais cedo poderemos sa... — sair. Ela se deteve a tempo. — Poderemos nos impressionar com o talento inegável de Derek.

O elefante entre nós ergueu a tromba, porque até mesmo Jane sabia que o namorado não tinha nenhum talento.

Eu vesti as botas que provavelmente fariam meus pés latejarem por semanas.

Peguei minha jaqueta, as chaves do carro e, em um silêncio mortal, fomos para a festa.

Eu, Mary e Cassie tivemos uma troca de olhares no meio do caminho. Não foi preciso dizer uma única palavra para sabermos que cada uma de nós estava ansiosa para voltar para casa.