Marco - 20 anos
Muitos homens entravam na Marinha para se tornarem heróis; poucos eram aqueles que conseguiam. O treinamento nos transformava em homens de combate. O oceano virava nosso habitat natural. Com sorte, morreríamos em uma missão em que nossos corpos pudessem ser encontrados e devolvidos aos familiares com uma medalha de honra.
Mas eu não queria ser um herói.
Eu não queria uma condecoração.
Eu queria provar a mim mesmo que era capaz de escrever a minha própria história sem que qualquer influência do meu pai abrisse as portas.
Na Marinha, resistência era sobrevivência.
Sobrevivência era luta.
E eu estava acostumado a lutar.
— Eu disse que elas seriam úteis. — Wade cutucou o meu ombro, apontando para o jovem recruta que socava o ar com as luvas de boxes emprestadas.
— Até hoje não acredito que você realmente trouxe aquelas coisas.
— Eu não podia deixar as minhas belezinhas para trás, acumulando pó no meu quarto.
— Do que adiantar ter boas luvas se o lutador não souber usá-las? — Olhei para O'Neil, que parecia não saber nem o que fazer com os próprios braços.
Wade sufocou uma risada, os olhos varrendo o ginásio de treinamento onde outros se juntavam para assistir à luta de boxe da noite. Era uma tradição que os superiores enfrentassem os novatos. Não havia hierarquia dentro do ringue, apenas dois homens dispostos a tirar sangue um do outro e fazer com que o adversário caísse na frente de todos os colegas da Academia.
— Por que você acha que o comandante o desafiou?
— Porque O'Neil é presa fácil — respondi, sem precisar pensar. — Os tenentes não arriscariam desafiar um de nós dois e ter a reputação manchada. Ninguém quer levar a vergonha de não ser melhor do que um calouro que ainda limpa banheiros com a própria escova de dente.
— Agora não sei se fico aliviado por nunca ter sido desafiado ou ofendido.
— Fique feliz — falei, a diversão pincelando minha voz. — Não ser desafiado mostra que o comandante gosta de você o suficiente para deixá-lo continuar aqui.
— Espero que ele não goste de mim só porque deixo os banheiros brilhando.
Minha risada foi abafada pela agitação na entrada do centro de treinamento. Na verdade, Wade estava entre os recrutas favoritos do alto comando, e eu tinha uma suspeita de que esse favoritismo começou quando foi visto carregando uma tora de madeira sozinho logo nas primeiras semanas que chegamos ali.
Os treinadores viram um adolescente com uma força monstruosa, mas também enxergaram um futuro homem de combate capaz de levar todos os seus companheiros nas costas, se fosse preciso. Wade era o tipo de cara que arriscaria pisar em um campo de minas terrestres para não deixar nenhum de seus companheiros para trás.
O filho da puta era altruísta a esse ponto.
O comandante Jackson finalmente chegou, sua estrutura de dois metros praticamente ocupando todo o espaço da porta do ginásio. Seus olhos negros se fixaram em O'Neil à medida que caminhava com uma confiança impressionante até o ringue.
Jackson tirou a camiseta em um puxão, entregando-a para um dos tenentes ao seu lado. Sua pele negra cintilava sob as luzes do ginásio. Os dentes brancos se revelaram em um sorriso que me lembrou do sorriso de um tubarão, quando apontou para O'Neil e o chamou com o dedo indicador.
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Borboleta
Romance* Paraíso | LIVRO 0.5 * Existem escolhas que trazem consequências irreversíveis. Um sonho arruinado. Um amor destruído. Uma vida interrompida. Kate O'Connell não queria morrer. Marco Castellari queria ter matado o próprio pai quando teve a chance. D...