Capítulo 13: Menino Bonito - Rita Lee

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– Você sabia quem eu era quando nós brigamos a primeira vez?

– Na verdade não. Eu só percebi que já tinha te visto antes durante a briga. – Crowley sentiu a urgência de compartilhar com Aziraphale o fato de que ele não tinha um rosto fácil de se esquecer, mas resolveu guardar essa informação para si, levando em consideração que Aziraphale não tinha se lembrado dele, e, portanto seu rosto tinha sido facilmente esquecido.

– Eu sinto muito por não ter percebido que já nos conhecíamos antes.

– Não tem problema. Isso foi anos atrás, e acredito que tenhamos trocado no máximo 5 palavras.

Nenhum dos dois se mexeu após Crowley retornar ao sofá com o disco de vinil em mãos, o que significava que os dois ainda estavam com os ombros encostados, mais próximos do que jamais estiveram antes, sem perceber por quanto tempo. Era possível sentir algo diferente no ar naquele momento. Eles tinham passado por diversas emoções naquela sala desde quando Aziraphale chegou com seu kit de primeiros socorros: diferentes estados de alegria e tristeza, nostalgia, etc. Mas o sentimento agora era diferente. Algo que nenhum dos dois jamais sentira antes.

– Então... – Crowley cutuca levemente Aziraphale com o cotovelo para não precisar pensar sobre esse novo sentimento. – Seja sincero. O vaso realmente caiu sem querer ou você o derrubou por livre e espontânea vontade para que ele me atingisse?

– Foi um pouco dos dois.

– É impossível ser um pouco dos dois.

– Eu pensei que você merecesse algo parecido com aquilo, mas realmente esbarrei no vaso de planta sem querer. O pensamento definitivamente existiu, eu confesso, mas jamais faria algo assim por vontade própria.

– Foi por isso que você ficou tão preocupado? Porque você pensou que era uma punição por ter pensado algo assim?

– Não, eu me preocupei pois pensei que você verdadeiramente tinha se machucado. – Aziraphale segura a mão de Crowley. – Eu nunca faria algo do tipo.

Os dois se encaram em silêncio. Crowley sente seu rosto arder, mas não sabe dizer se a sensação é resultado das bochechas queimando, ou se são os olhos de Aziraphale tão concentrados nos seus que fazem com que ele se sinta assim – exposto. Vulnerável.

[E eu me sinto enfeitiçada, correndo perigo. Seu olhar é simplesmente lindo]

Mas ele não se importa. Ele verdadeiramente não liga de estar se sentindo vulnerável naquele momento.

– Além do mais – Aziraphale quebrou o silêncio, desviando o olhar rapidamente. – Eu acredito que você mereceu um pouco, não?

– Bem, é bom saber que você é canalha o suficiente para ser interessante de conhecer. – Crowley gargalhou. A situação era completamente absurda. Ali estava a pessoa com quem ele passou os últimos dias vivendo em pé de guerra, que o acertou com um vaso na cabeça, que se prontificou a cuidar de quaisquer ferimentos que poderia ter causado e, logo em seguida, dizendo que ele mereceria o galo que se formaria em sua cabeça. – Eu achava que você era o tipo de pessoa que nunca mente, nunca comete erros... Esse tipo de coisa.

– E eu achava que você era uma pessoa extremamente amargurada que não gostava de nada e tinha como única diversão transformar a vida dos outros em um inferno. É bom saber que existe um lado muito agradável em você.

– Eu digo o mesmo. Que bom que estávamos ambos errados. – Crowley sorri.

Ao olhar para a varanda pela primeira vez em um bom tempo, Aziraphale percebe que já tinha escurecido. Os dois passaram horas conversando sem notar o tempo passando.

Good Omens - Entre Tapas e Beijos (Ineffable Husbands)Onde histórias criam vida. Descubra agora