Capítulo 5: O Tempo Não Pára - Cazuza

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 – Não Anathema, não é tão fácil assim. – Crowley segurava o celular próximo ao rosto, para enxergar melhor sua amiga.

– Me parece uma situação bem fácil de se resolver. Às vezes você precisa pensar "será que isso é realmente tão difícil ou eu sou apenas um cabeça dura que dificulta até as coisas mais simples para mim mesmo por motivos bobos?". Você é o segundo caso. Tenho certeza que pedir para abaixar o volume já teria te ajudado muito.

– Você acha que eu não pedi? Ele não escuta! Inclusive, hoje de manhã ele não apenas colocou a música para tocar mais cedo como também cantou que estava rindo à toa da situação. – Ele andava pelo apartamento com o celular em mãos, mostrando para Anathema por vídeo o quanto as plantas tinham crescido, quais estavam dando flores e quais precisavam de mais cuidados (o equivalente a mostrar o álbum de fotografias de um bebê para uma visita).

– Eu acho muito difícil acreditar que você pediu para ele abaixar o volume. Existe uma diferença entre pedir educadamente e agir como um cão ensandecido, que é como você normalmente trata as coisas. – Foi possível ouvir, atrás da mulher com óculos redondos, uma gargalhada alta que só poderia ser de Newt.

Anathema sempre teve um jeito com as palavras, não no sentido "ela sempre sabe dizer algo para te confortar", mas no sentido "ela sempre sabe o que dizer e de alguma maneira ela sempre está certa, independente da ocasião e independente de você ter dito algo para ela antes". Crowley sempre deu seu melhor para racionalizar o fato de que eles eram amigos há anos, e muito provavelmente era por isso que ela sempre acertava essas coisas. Nada sobrenatural sobre isso, apenas racional – mas às vezes era um pouco difícil aceitar a explicação racional.

– Primeiro, cão ensandecido não é um termo usado normalmente numa conversa cotidiana – Crowley apoiou o celular em um dos vasos de planta, se afastando do aparelho. – Segundo, eu tenho um plano.

Por uns instantes Anathema não conseguiu encontrar seu amigo na tela do celular. Nos segundos seguintes, ela torceu muito para que ele não aparecesse na frente da câmera com o que ela achava que ele apareceria. Conforme o som foi aumentando e Crowley foi se aproximando da tela, ela sabia que estava certa novamente. Tirando o óculos do rosto e cobrindo inteiramente a face com as mãos, Anathema soltou um imenso suspiro.

– Anthony. – Crowley aumentou a música no meio da sentença de Anathema – Anthony eu estou te pedindo, abaixe isso! – Ela tentava gritar para ser ouvida, enquanto Crowley dançava com a caixa de som no ombro.

Ele não conseguiu ouvir o que a amiga disse, mas supôs que tinha sido algo próximo a "Chega, eu não consigo. É a sua vez", porque assim que ela saiu do foco da câmera, Newt pulou para ele.

– Ei, amigão! E aí? – Os olhos azuis de Newt estavam arregalados, talvez pelo volume alto, talvez pela reação de Anathema. Ele sequer tentou pedir para Crowley abaixar a música, partindo direto para mímicas.

– Newt! Eu estava lendo sua carta sobre o ET de Varginha hoje de manhã! – Crowley abaixou a música o suficiente para conseguir ouvir o amigo, mas não o suficiente para que os dois não precisassem manter um tom de voz elevado.

– Que bom! Lá na cidade tinha bastante coisa sobre ele, várias estátuas e... – O entusiasmo de Newt foi cortado muito provavelmente pelo rosto de preocupação de sua noiva. – Crowley, Anathema tem a sensação de que você vai usar essa caixa de som aí no seu ombro – Newt apontou para a caixa – para colocar uma música bem alta e irritar o seu vizinho de cima. Eu tentei falar para ela segundos atrás que você não faria uma coisa dessas e...

– Ela está certa, eu faria sim. – Crowley interrompeu o amigo, com um sorriso de orelha a orelha estampado em seu rosto. – Aliás não faria, eu farei. Inclusive já estou fazendo, se pensarmos bem, mas logo mais eu aumento o volume. Sabe como é.

Good Omens - Entre Tapas e Beijos (Ineffable Husbands)Onde histórias criam vida. Descubra agora