Ano 545 - Gaily
Logo quando o dia clareou, na manhã seguinte ao seu regresso a Gaily, Zoe vestiu roupas apropriadas para uma dama e se dirigiu até a casa do doutor Sales.
Durante o tempo em que ficava no navio, a jovem optava por calças e blusões, sempre acompanhados por corpetes de couro, onde a moça pendurava adagas. Contudo, quando estava em terra firme, Zoe Delacroix se deixava utilizar da moda, sempre preferindo vestidos e penteados mais elaborados. Isso não foi diferente naquela manhã, já que a morena optou por um feminino vestido rosa chá, acompanhado por um coque baixo, que realçava o rosto angular dela.
A moça conhecia o doutor há muitos anos. Mesmo com a diferença de cinco anos de idade, ambos foram grandes amigos durante toda a infância. Por isso, a capitã se sentia confortável em tê-lo como responsável pela saúde de seu pai.
O caminho até a casa do médico foi tranquilo, Zoe curtiu todos os presentes que só a estadia em terra firme poderia promover. Afinal, ver flores e pássaros cantando, não era algo comum em sua rotina, para não dizer que era algo impossível no alto mar.
A morena foi levada ao escritório de Sales, logo que chegou à sua propriedade. O mordomo conhecia a moça desde que ela e o doutor corriam por todos os cantos da cidade.
Era estranho para Zoe estar na casa do médico, essa era uma sensação advinda da infância. Afinal, a residência da família DeLuca era muito diferente da sua. Os móveis eram sóbrios e requintados, refletindo a riqueza hereditária de uma árvore genealógica composta por muitos doutores.
A família DeLuca era conhecida em Gaily, por ser responsável pela saúde do país, já que em todas as gerações haviam médicos renomados.
Contudo, a sensação pela qual Zoe era acometida, era causada pelo clima de riqueza quase inalcançável que a casa transmitia, como se tudo fosse planejado para exalar poder.
- Zoe! - Sales abriu um sorriso tão grande quanto era possível, e seus braços acompanharam o movimento. - Que saudade, eu estava de você - a moça não rejeitou o abraço carinhoso do melhor amigo.
Sales DeLuca era um jovem bem apessoado, com pele oliva, maxilar quadrado e cabelos pretos fartos. Para Zoe, o sorriso era fácil e sempre constante, além de lhe dar uma sensação de estar em casa. Pois, sempre que a moça via o sorriso dele se abrir, uma sensação gostosa de nostalgia lhe acometia e ela era transportada para todos os momentos inesquecíveis que eles viveram durante a infância.
- Foram dois meses - ela comentou com um sorriso.
- Pareceram muitos mais - Sales indicou um sofá para que ela se sentasse. - Você faz uma falta gigantesca! - Comentou carinhoso como sempre.
O escritório de Sales era bem diferente do resto da casa, pois tinha sido composto por móveis mais claros; e as imensas janelas deixavam o ambiente ainda mais iluminado. O que era de se esperar, já que era ali que ele atendia seus pacientes, pelo menos, os que não requeriam o atendimento a domicílio, como era o caso da realeza.
O cômodo era dividido em duas partes; uma delas era como um escritório, enquanto a outra funcionava um pequeno ambulatório, com duas camas e também outra mesa, onde o assistente de Sales ficava acomodado.
- Me conte, como foi a viagem? - Sales quis saber empolgado.
Ele sempre encarava Zoe, com seus olhos amendoados, e dedicava-lhe toda a sua atenção durante qualquer conversa que tivessem. A moça gostava disso. Sentia que ele realmente se importava com o que quer que ela tivesse para contar.
- Navegamos pelas águas do sul... - Zoe começou seu relato empolgadíssima.
Era intrigante, parecia que Sales se tornava outra pessoa perto dela. Bom, era isso que Zoe achava pelos diálogos que tinha com as pessoas à sua volta.

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Volitar das águas
SpiritualO mar é um lugar perigoso, às vezes um tanto imprevisível, mas quando conduzir seu navio pelos inexplorados e quem sabe mágicos mares do leste se torna sua única saída, Zoe Delacroix arrisca tudo. Afinal, o que pode dar errado quando seu primeiro e...