Ano 545 — Cemitério das águas turvas
Os marujos estavam animados. A música estava alegrando o ambiente iluminado por várias luminárias de velas espalhadas pelos mastros do navio.
Uma grande e extensa mesa foi montada no centro do navio. Muita comida estava sendo servida. Todas as deliciosas iguarias tinham sido preparadas por Jacques e sua equipe.
No canto próximo a proa estavam sendo tocados um violino, um acordeon e uma gaita, em sua harmonia uma música animada preenchia o ambiente.
— Deveria me juntar a eles com o meu inútil trompete, Abelhinha? — They assustou Zoe, chegando por trás dela.
A capitã havia acabado de sair de seu aposento para se juntar a sua tripulação, que ao contrário dela, estava muito animada naquela noite.
— Você me assustou! — a moça reclamou, ignorando o apelido, fazendo o rapaz soltar uma risadinha.
— Desculpe-me!
— Não acredito que esteja arrependido — a capitã contrapôs.
— Você tem razão, Abelhinha! — They riu abertamente. — Foi tão engraçado!
Zoe se forçou a revirar os olhos, mesmo que fosse difícil não rir junto com o rapaz ao seu lado. Por mais que ele fosse infinitamente irritante, Theirry ainda era incomparavelmente engraçado.
— O trompete faz som? — a moça perguntou debochadamente. — Achei que te ouvi chamando-o de inútil.
— Pois bem — assim que terminou de rir, They respondeu. — Já que não é hoje que tiraremos isso a limpo. Me diga, como passaremos a noite?
— Ainda estou pensando em alguma forma de te irritar — Zoe lançou um olhar altivo para o representante de Versya parado ao seu lado.
— Se já planeja passar a noite ao meu lado, posso dizer que minha presença já está se tornando interessante. — They seguiu com o deboche.
Os cabelos do rapaz estavam dançando com o vento. Naquela noite ele não usava o nada parecido com o terno do dia em que se conheceram; assim como a capitã, o rapaz optara com um camisão de tecido branco, que além de confortável, ainda os protegia do sol durante o dia, porém não esquentava, graças ao tecido leve e largo.
Era certo que a blusa do rapaz era muito maior do que a da moça, já que ainda que They fosse mais alto do que ela, ele também era muito mais forte, o que o deixava corpulento e exuberante. Contudo, nada disso tinha prendido a atenção da moça, tudo que ela enxergava era aquele irritante e atrevido sorriso enviesado.
— Na verdade — os olhos de Zoe encararam a imensidão escura que os cercavam —, é a melhor forma de não pensar… — ela deixou a frase morrer quando percebeu que estava falando demais.
— Pensar em que, Abelhinha? — ele insistiu baixinho.
Zoe mordeu o lábio inferior sem desviar os olhos do mar. Sentiu-se tão pequena, tão desprotegida, como nunca antes em sua vida. Ela sempre tinha sido forte e sempre tinha dado conta das coisas que se propunha, porém aquela situação não estava nem perto do seu controle, e aquilo era no mínimo desesperador.

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Volitar das águas
SpiritualO mar é um lugar perigoso, às vezes um tanto imprevisível, mas quando conduzir seu navio pelos inexplorados e quem sabe mágicos mares do leste se torna sua única saída, Zoe Delacroix arrisca tudo. Afinal, o que pode dar errado quando seu primeiro e...