III

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Ano 545 - Gaily

Havia muito o que se pensar, contudo assim que passou pelas portas da casa de Sales, Zoe engavetou mentalmente o assunto declaração de amor até uma hora mais oportuno. Aquilo parecia demais para processar naquele momento. Principalmente diante da alegria e gratidão pela chance que seu pai tinha de se curar. Talvez, O Eterno não fosse tão alheio assim. Logo que expressou sua gratidão, sua lista de afazeres tomou sua mente.

Zoe nem prestou mais atenção no caminho, não se importando com as belas borboletas que cruzavam sua linha de visão. Ela estava tão alheia que chegou ao centro da cidade e entrou no seu escritório com a mente no automático; a moça tinha ido até lá, pois precisava pegar alguns papéis sobre os novos marujos que precisaria contratar. Para a sorte dela, Fergus já os tinha separado em uma maleta.

Quando deixou seu escritório e tomou o caminho de casa, a cabeça da jovem voltou a girar em torno da conversa que tinha acabado de ter com o melhor amigo.

Desde que se entendia por gente, Sales DeLucca esteve presente em sua vida. Ele era como um pilar de sua existência. Como aquelas pessoas que sempre se pode contar, aquelas que não geram dúvidas em nós, pelo contrário são certezas; as primeiras que vem em sua mente quando algo acontece.

Pensando sobre a proposta, ela se sentia surpresa, nunca tinha pensado sobre essa possibilidade. Porém, se ela fosse sincera, jamais havia pensado em se casar. Não que ela não quisesse, mas sua vida sempre fora tão agitada que Zoe deixava isso guardado no fundo de seu coração, num lugar intocado, para pensar só quando fosse necessário.
Bom, naquela manhã, tinha se tornado de extrema necessidade!

Contudo, também havia a saúde de seu pai em jogo. A moça desejava ardentemente que aquele remédio surtisse o efeito curativo que seu pai precisava. E isso desviava completamente sua atenção de qualquer coisa sobre o assunto: romance.
Zoe estava tão distraída que só percebeu que havia chegado à feira de sua cidade, quando quase esbarrou em uma barraca de legumes.

- Legumes frescos! - gritava o rapazinho do outro lado da banca.
Como sabia que precisava comprar algumas coisas, a moça resolveu aproveitar a situação, tratando de começar a escolher o que levaria.

A feira de Gaily era sempre movimentada por estar localizada próxima ao porto. Isso garantia ser ela a portadora das últimas novidades tanto do país, quanto do mundo, isso deixava a população um tanto, quanto entusiasmada, afinal todos queriam estar por dentro das últimas novidades e tendências.

Organizada por pequenas barraquinhas de madeira, que variavam desde comida até vestiário, ou de máquinas até medicamentos; aquele era sem dúvidas o maior centro comercial do país, mesmo sendo um tanto improvisada, já que não possuía um lugar próprio para acontecer. Causa das barracas serem montadas ao longo da estrada.

- Você sabe, estamos chegando na idade que devemos nos casar - uma jovem que conversava com a amiga, parou próxima a Zoe.

- Claro que eu sei, Flora - a acompanhante tratou de revirar os olhos azuis e começou a escolher algumas batatas.

- Então, por que não dá uma oportunidade para conhecer o meu primo... - a moça discursava, porém ao ser encarada pela amiga parou.

- Porque, seu primo não é Sales DeLucca! - Ambas falaram juntas, uma com ironia e careta engraçada, outra com um tom apaixonado e sonhador.

- Você sabe que ele não dá bola para ninguém, Vick! - Flora rebateu. - Ele é sério, compenetrado e só liga para o trabalho!

Zoe se assustou com tais palavras; esse não era o Sales com quem ela convivia. No mesmo instante, ela se lembrou da vozinha de Marta, dizendo que aquele era um lado que só ela conhecia. Após os acontecimentos daquela manhã, a fala da governanta não parecia mais tão absurda.

Volitar das águasOnde histórias criam vida. Descubra agora