XIV

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Ano 545 - Mar do leste.

Dois dias se passaram de forma calma e tranquila no Flor de lótus. Nada saiu do planejado, a não ser a conversa, no mínimo estranha, que Nínive e Zoe tiveram no fim do primeiro dia.

A dona dos cabelos cacheados estava deixando o quarto dos visitantes quando passou bufando pelo convés.

- O que aconteceu? - Zoe perguntou para a nova amiga.

- Ele é simplesmente irritante! - a voz aveludada da moça subiu algumas oitavas ao dizer essa frase.

Zoe não conteve a gargalhada que brotou de si. Ela achou incrível que ela não fosse a única a achar Theirry irritante.

- Eu sei... - começou a dizer, enquanto tentava parar de rir. - aquele jeito dele...

- Totalmente presunçoso! - Nínive completou.

- Isso! - a capitã concordou. - O sorrisinho...

- Eu, felizmente, não tive o desprazer!

- Como não? Ele sorri até para o sol!

- Como eu disse, ele é presunçoso, por isso, não deve julgar que eu não sou digna da maravilhosidade do seu sorriso... - a nova marinheira debochou.

- Acho que não, o Theirry sorri para o vento! - Zoe negou, após rir da amiga.

- Theirry? - Nínive a olhou com dúvida. - Não estamos falando do Kai?

- Óbvio que não! Ele é super fofinho e tímido! - Zoe defendeu.

- Fofo? Tímido? - Nínive perguntou sem acreditar. - E o pior! O Theirry é super simpático e comunicativo!

- O Theirry é irritante! - contrapôs Zoe.

- Essa conversa está ficando estranha - Nini declarou.

- Eu concordo! - A capitã coçou a cabeça.

Assim cada uma seguiu seu caminho, porém para o desgosto de Zoe, Theirry ouvia a conversa. Porém, assim que a capitã se virou em caminho ao leme, ele se escondeu de suas vistas. O rapaz preferia ter aquela conversa como trunfo.

Entretanto, foi apenas no entardecer seguinte que as coisas ficaram realmente animadas no navio. O raios de sol alaranjados coloriam o horizonte quando com uma voz forte, Zoe gritou:

- Largar âncoras!

Depois dessa ordem o navio se transformou em uma grande arruaça. Os marujos corriam de um lado ao outro. Os que estavam responsáveis pelas velas tiveram que subir pelo leme; eles precisavam amarrar as velas o mais rápido possível, assim o navio pararia quando as âncoras fossem lançadas ao mar. Já aqueles que tinham as âncoras como seu serviço se prepararam para soltá-las assim que fosse seguro.

Fergus ficou de prontidão orquestrando o trabalho em grupo dos marujos:

- Gabe, puxe o lado direito da vela maior! - bradava ele. - Rony desamarre o lado esquerdo inferior. Denis, mais rápido com a vela superior! Luca, cuidado com essa âncora, você não pode carregá-la sozinho!

Nínive não era responsável por nenhuma das duas coisas, por isso se manteve próxima a entrada das cabines a fim de não atrapalhar a movimentação. Theirry e Kai que tinham ido até os quartos a fim de pegar um possível mapa do mar do leste, voltaram ao ouvirem a gritaria.

- O que está acontecendo? - Theirry perguntou ao ver Nínive parada no meio do caminho.

- A capitã deu ordem de lançar as âncoras.

- Você sabe o motivo? - Ele continuou a perguntar.

- Não.

- Você já presenciou isso? - Theirry estava deslumbrado.

- É a minha primeira vez no navio. - Nínive explicou incomodada por Kai nunca lhe dirigir a palavra.

Isso incomodava a moça, afinal sempre o pegava olhando-a com curiosidade, contudo nunca se dignou a falar com ela. A única leitura que Nínive foi capaz de fazer disso era que o rapaz era presunçoso demais para se relacionar com meros marujos.

- Preparem para lançar, agora! - A voz de Zoe tirou a moça do estapor.

- Lançando âncoras! - Fergus ordenou.
As âncoras foram lançadas, mas o baque do navio sendo parado pegou Iago, um dos marujos que estavam no leme desprevenido. Ele foi lançado para frente ficando pendurado pelo pé no ratlines.

- Opa! Isso não é bom! - Fergus coçou a cabeça.

O marujo em questão era um novo contratado, não tinha experiências anteriores e, por esse motivo, Zoe gostaria de saber de quem foi a ideia brilhante de colocá-lo no leme.

- Iago, não se mexa! - Zoe ordenou. - Fergus assuma o leme.

E assim a capitã correu até a ratline que Iago estava pendurado. Ela a subiu com maestria, uma que só era alcançada após anos de prática. Enquanto escalava as coradas amarradas em quadrados, ela perguntou:

- Quem te escalou para o leme?

- Eu me dispos - o rapazinho respondeu.

- Não se pode ficar no leme, logo em sua primeira viagem, Iago! - Zoe bufou, ele tinha sido contratado por ser sobrinho ou primo de alguém. Ela não se lembrava.

Todo o convés olhava atônito o salvamento que a capitã conduzia; não que fosse o primeiro que ela fazia, mas era sempre incrível, ver a rapidez com que dominava aquele navio.

Assim que alcançou o novato, pendurado de ponta-cabeça, Zoe o ajudou a sair daquela enrascada e ambos desceram para o convés, sendo aclamados por uma salva de palmas, o que deixou a capitã um tanto quanto corada.

Assim que alcançou o novato, pendurado de ponta-cabeça, Zoe o ajudou a sair daquela enrascada e ambos desceram para o convés, sendo aclamados por uma salva de palmas, o que deixou a capitã um tanto quanto corada

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