Ano 545 — Gaily
Zoe chegou em casa ainda indignada com a audácia do tal estranho. Ela estava até mesmo bufando quando se dirigiu a cozinha para deixar as compras com Marta.
— O que aconteceu, criança? — a governanta logo notou o humor da moça. — Parece que alguém pisou no seu calo.
— Existem pessoas tão petulantes! — Exclamou ela.
— Isso é verdade! — Marta concordou.
— Por que não podem simplesmente cuidar da própria vida? — continuou ela.
— Uma ótima pergunta — Marta deixou que ela desabafasse.
— Mas, deixa isso pra lá, tenho coisas mais importantes para pensar e resolver — Zoe deu de ombros desistindo de gastar sua energia com alguém que não valia nem sua atenção.
Esse era um ponto positivo da moça, ela conseguia muito bem direcionar seus pensamentos para onde ela queria, por isso não teve problemas em esquecer o estranho versyano.
— Onde está Fergus e meu pai? — Zoe quis saber quando não ouviu a conversa alta dos dois.
— Fergus disse que precisava ir atender um chamado do escritório.
— Oh, mas eu estava lá! — Zoe coçou a cabeça.
— Acho que foi depois que você saiu — Marta deu de ombros.
— Provavelmente. Vou dar uma volta na propriedade, se precisar me chame.
Zoe dirigiu-se até a borda do penhasco onde sua casa estava localizada. Por ali havia uma árvore de cerejas e um banco de cimento. Com certeza aquele cantinho era o seu preferido durante a primavera. A moça era grata pela incrível vista que tinha à sua disposição.O mar sempre tinha a capacidade de amenizar a velocidade de seus pensamentos. E tudo que a jovem queria era entender com calma o que tinha lhe sido entregue naquela manhã.
As águas estavam tranquilas com um azul claro e reluzente, exatamente como Zoe queria que seus sentimentos estivessem.
A capitã do Flor de lótus era conhecida por ser muito definida em suas escolhas, mal sabiam que na verdade, Zoe dedicava um tempo especial para pensar todos os prós e contras de cada decisão que precisava tomar. E ela só a tomava se tivesse certeza que poderia lidar com todos os contras que aquela escolha acarretaria.
Sim, a senhorita Delacroix tinha mania de querer controlar tudo à sua volta. Algo curioso e contraditório para quem vivia à mercê do mar. Porém, o fato era que a moça só queria estar preparada para tudo o que viesse sobre ela.
Entretanto, nem em seu mais profundo pensamento, ela estaria preparada para a proposta que lhe tinha sido entregue pelo melhor amigo.
E isso a irritava! Não havia uma saída simples.
Zoe Delacroix conseguia lidar com maestria com qualquer tempestade marítima que lhe sobreviesse, entretanto não conseguia entender a chuva de sentimentos que aquela manhã tinha lhe causado.
Por isso, mesmo contra todos os seus impulsos que determinavam que ela precisava encontrar uma definição dentro de si, Zoe preferiu se ater em algo que ela realmente pudesse resolver: o remédio do pai.
Pelo que Sales havia informado, o remédio não era algo barato. Antes de sair, ela pediu uma estimativa do valor para o assistente do amigo, já que esse precisou atender um paciente que tinha solicitado sua presença.
Pelo que o aprendiz falou, Sales havia entregue alguns milhares de gaylos. E definitivamente isso não estava no orçamento de Zoe.
A moça era boa com matemática, sem nenhuma viagem a vista, o dinheiro que ela dispunha teria que dar tanto para a manutenção da casa, as dívidas da saúde do pai e é claro a reforma e abastecimento do navio. Isso porque a jovem já tinha pago toda a sua tripulação, o que era um alívio.

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Volitar das águas
SpiritualO mar é um lugar perigoso, às vezes um tanto imprevisível, mas quando conduzir seu navio pelos inexplorados e quem sabe mágicos mares do leste se torna sua única saída, Zoe Delacroix arrisca tudo. Afinal, o que pode dar errado quando seu primeiro e...